CORRER OU NÃO CORRER
"Após ser informado de que dois paquistaneses planeavam explodir qualquer coisa por cá, uma ameaça que afirmou levar a sério, o eng. Sócrates tomou de imediato a atitude que se impõe a um chefe de Governo: rumou a Viana Do Castelo, vestiu T-shirt e calções e participou na minimaratona local. Lá chegado, ridicularizou com bonomia a dimensão da prova: "Quatro quilómetros, só?". Por regra, o primeiro-ministro corre dez (numa hora, garante).
E corre onde? Até agora, que se soubesse, em Moscovo, em Luanda, no Rio de Janeiro. Não é habitual ver o eng. Sócrates exibir destreza e saúde nas ruas nacionais, um facto que o dr. Menezes recentemente sublinhou com amargura. É verdade que o dr. Menezes se vangloria de ter tido medo de um tubarão e frio à noite no deserto, proezas nobres mas limitadas a lugares com tubarões e desertos. Corridas, porém, o dr. Menezes corre-as em Portugal, cheio de brio patriótico e vazio de calorias.
Imagino que a conversão do eng. Sócrates ao jogging nacionalista (a expressão é de Vasco Pulido Valente) não seja alheia ao exemplo do dr. Menezes, o que configura uma pequena vitória política do líder da oposição. Fora isso, o mais importante nos quatro quilómetros de Viana foi o entusiasmo com que a cidade recebeu o eng. Sócrates.
Normalmente, sempre que o eng. Sócrates surge num evento aberto a populares, os populares insultam-no. Já é ritual: ele inaugura um pedaço de estrada ou uma fase do Plano Tecnológico e, quase por inércia, uma multidão dedica-lhe cartazes, palavras e sinais desagradáveis. Em Viana, pelo contrário, a multidão aplaudiu-o com frenesim. Porquê?
São viáveis diversas teorias, nenhuma muito abonatória para a coerência do bom povo. Eu prefiro acreditar que o bom povo simplesmente não reconheceu o primeiro-ministro. O primeiro-ministro veste Armani e calça Prada, aumenta os impostos e fecha "urgências". Aquele sujeito em traje Nike apenas sorri e corre como o vento (ou a brisa, vá lá). Ao olho leigo, é impossível serem a mesma pessoa. No fundo, as duas identidades do eng. Sócrates equiparam-no ao Super-Homem: enquanto Clark Kent, é desprezado; de collants e capa, espalha heroismo e simpatia pela Terra.
Não espantará que, depois do sucesso vianense, o eng. Sócrates desate a correr frequentemente por Portugal inteiro, demonstrando ao eleitorado em êxtase os super poderes que lhe permitem fazer dez quilómetros/hora e salvar cidadãos do sedentarismo, da obesidade e dos maus hábitos em geral. Não sendo exactamente a função de um governante, é o melhor que podemos arranjar. Também não será função de um comentador analisar a política nacional a partir de historinhas de banda desenhada. E então? Dada a profundidade dos seus actuais protagonistas, queriam o quê? O Hamlet?"
Alberto Gonçalves
E corre onde? Até agora, que se soubesse, em Moscovo, em Luanda, no Rio de Janeiro. Não é habitual ver o eng. Sócrates exibir destreza e saúde nas ruas nacionais, um facto que o dr. Menezes recentemente sublinhou com amargura. É verdade que o dr. Menezes se vangloria de ter tido medo de um tubarão e frio à noite no deserto, proezas nobres mas limitadas a lugares com tubarões e desertos. Corridas, porém, o dr. Menezes corre-as em Portugal, cheio de brio patriótico e vazio de calorias.
Imagino que a conversão do eng. Sócrates ao jogging nacionalista (a expressão é de Vasco Pulido Valente) não seja alheia ao exemplo do dr. Menezes, o que configura uma pequena vitória política do líder da oposição. Fora isso, o mais importante nos quatro quilómetros de Viana foi o entusiasmo com que a cidade recebeu o eng. Sócrates.
Normalmente, sempre que o eng. Sócrates surge num evento aberto a populares, os populares insultam-no. Já é ritual: ele inaugura um pedaço de estrada ou uma fase do Plano Tecnológico e, quase por inércia, uma multidão dedica-lhe cartazes, palavras e sinais desagradáveis. Em Viana, pelo contrário, a multidão aplaudiu-o com frenesim. Porquê?
São viáveis diversas teorias, nenhuma muito abonatória para a coerência do bom povo. Eu prefiro acreditar que o bom povo simplesmente não reconheceu o primeiro-ministro. O primeiro-ministro veste Armani e calça Prada, aumenta os impostos e fecha "urgências". Aquele sujeito em traje Nike apenas sorri e corre como o vento (ou a brisa, vá lá). Ao olho leigo, é impossível serem a mesma pessoa. No fundo, as duas identidades do eng. Sócrates equiparam-no ao Super-Homem: enquanto Clark Kent, é desprezado; de collants e capa, espalha heroismo e simpatia pela Terra.
Não espantará que, depois do sucesso vianense, o eng. Sócrates desate a correr frequentemente por Portugal inteiro, demonstrando ao eleitorado em êxtase os super poderes que lhe permitem fazer dez quilómetros/hora e salvar cidadãos do sedentarismo, da obesidade e dos maus hábitos em geral. Não sendo exactamente a função de um governante, é o melhor que podemos arranjar. Também não será função de um comentador analisar a política nacional a partir de historinhas de banda desenhada. E então? Dada a profundidade dos seus actuais protagonistas, queriam o quê? O Hamlet?"
Alberto Gonçalves
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