quarta-feira, fevereiro 27, 2008

DESCONTROLO ALFANDEGÁRIO

"É urgente maior cautela nas alfândegas. Quase tudo o que Portugal importa chega deteriorado. O carnaval de Torres Vedras e de Ovar não é bem o carnaval do Rio, mas uns tractores com bonecos, umas moças cheiinhas de frio e uns cavalheiros travestidos. As nossas séries televisivas não são bem a "Anatomia de Grey", mas, nos melhores momentos, o actor Miguel Guilherme perdido em sentimentalismo, a fingir de pequeno funcionário oprimido pelo Estado Novo. O "Sim, nós podemos" de José Sócrates não é bem o "Yes, we can" de Barack Obama, mas a "ideia" atroz de um assessor que devia ser posto na rua.

É sina: as coisas entram em Portugal e ganham logo um inconfundível aroma boliviano ou paraguaio. Veja-se, também, a corrupção. Em países civilizados, as grandes combinações ilícitas envolvem lóbis poderosíssimos, resíduos nucleares, malas com milhões e iates repletos de beldades dispendiosas, sob a vigilância pericial do FBI ao largo de Barbados.

Por cá, um inspector da Judiciária que depôs no julgamento do célebre "Apito Dourado" descreveu o cenário de uma negociata que testemunhou incógnito: um restaurante em Gondomar ("caro", disse o inspector). As personagens da negociata: árbitros, dirigentes do Gondomar FC e uma lampreia ("uma jantarada", assegurou o inspector). O montante envolvido na negociata: a lampreia ("só comi as entradas", jurou o inspector). A negociata: a vitória do Gondomar FC num jogo com o Vizela ou lá o que é ("um acontecimento sem paralelo", suponho que terá pensado o inspector).

O pior, ao contrário do que se diz por aí, não é a pobreza envergonhada. É a miséria exposta.
"

Alberto Gonçalves

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