A mão esquerda de Sócrates
"Sócrates pratica uma Esquerda mínima e miserável, espécie de má consciência de quem governa contra a sua base eleitoral.
O país tem vivido em grande excitação com um vídeo amador realizado em estabelecimento de ensino oficial. A indignação em torno da violência na escola é grande, mas a proliferação de discursos apenas revela o falhanço da “escola democrática” e a falência do “projecto educativo” saído do 25 de Abril. A vantagem do episódio concorre para a paz da ministra da Educação, finalmente esquecida e resumida à insignificância burocrática.
Neste particular clima de animação, o primeiro-ministro resolveu encenar o novo perfil com vista à grande temporada eleitoral. Na fase final do seu primeiro Governo, Sócrates recorre ao socialismo neo-cavaquista e tecnocrata em associação com o radicalismo ‘chic’ das “causas fracturantes”. Vamos por partes.
A face neo-cavaquista é bem visível no programa de auto-estradas, no plano nacional de barragens, no anúncio de novos hospitais, mais o novo aeroporto, a travessia do Tejo e o clássico TGV. Em Portugal, governar significa investir em obras públicas. O socialismo moderno de Sócrates não resiste à doce melodia da “obra feita” e ao circuito de inaugurações em vésperas eleitorais.
O esforço de Sócrates para encontrar no PS um novo Bloco de Esquerda resulta no radicalismo chic das “causas fracturantes”. Portugal já recebeu os benefícios do aborto, a quase proibição do tabaco, a acção higiénica da ASAE, a preocupação com os ‘piercings’, a rapidez no divórcio. Menos radical em matéria de política social, o Governo reduziu para metade as taxas moderadoras na saúde para os cidadãos com mais de 65 anos e conseguiu improvisar 1% na descida do IVA. Em matéria de Esquerda, o balanço é francamente misto.
Tudo analisado, Sócrates adopta um socialismo ao estilo de Zapatero, ortodoxo em matéria de economia e radical na questão dos costumes. Para o panorama ficar completo, falta o reconhecimento das uniões homossexuais e uma Lei da Memória Histórica. Mas o primeiro-ministro não tem memória e muito menos história.
Sócrates pratica uma Esquerda mínima e miserável, espécie de má consciência de quem governa contra a sua base eleitoral. Da Esquerda sobra o espírito das milícias ideológicas que tudo querem regulamentar, controlar e uniformizar. Em nome da equidade e da justiça social, Sócrates acena com a mão esquerda mas governa com a mão direita. E a direita portuguesa observa obediente."
Carlos Marques de Almeida
O país tem vivido em grande excitação com um vídeo amador realizado em estabelecimento de ensino oficial. A indignação em torno da violência na escola é grande, mas a proliferação de discursos apenas revela o falhanço da “escola democrática” e a falência do “projecto educativo” saído do 25 de Abril. A vantagem do episódio concorre para a paz da ministra da Educação, finalmente esquecida e resumida à insignificância burocrática.
Neste particular clima de animação, o primeiro-ministro resolveu encenar o novo perfil com vista à grande temporada eleitoral. Na fase final do seu primeiro Governo, Sócrates recorre ao socialismo neo-cavaquista e tecnocrata em associação com o radicalismo ‘chic’ das “causas fracturantes”. Vamos por partes.
A face neo-cavaquista é bem visível no programa de auto-estradas, no plano nacional de barragens, no anúncio de novos hospitais, mais o novo aeroporto, a travessia do Tejo e o clássico TGV. Em Portugal, governar significa investir em obras públicas. O socialismo moderno de Sócrates não resiste à doce melodia da “obra feita” e ao circuito de inaugurações em vésperas eleitorais.
O esforço de Sócrates para encontrar no PS um novo Bloco de Esquerda resulta no radicalismo chic das “causas fracturantes”. Portugal já recebeu os benefícios do aborto, a quase proibição do tabaco, a acção higiénica da ASAE, a preocupação com os ‘piercings’, a rapidez no divórcio. Menos radical em matéria de política social, o Governo reduziu para metade as taxas moderadoras na saúde para os cidadãos com mais de 65 anos e conseguiu improvisar 1% na descida do IVA. Em matéria de Esquerda, o balanço é francamente misto.
Tudo analisado, Sócrates adopta um socialismo ao estilo de Zapatero, ortodoxo em matéria de economia e radical na questão dos costumes. Para o panorama ficar completo, falta o reconhecimento das uniões homossexuais e uma Lei da Memória Histórica. Mas o primeiro-ministro não tem memória e muito menos história.
Sócrates pratica uma Esquerda mínima e miserável, espécie de má consciência de quem governa contra a sua base eleitoral. Da Esquerda sobra o espírito das milícias ideológicas que tudo querem regulamentar, controlar e uniformizar. Em nome da equidade e da justiça social, Sócrates acena com a mão esquerda mas governa com a mão direita. E a direita portuguesa observa obediente."
Carlos Marques de Almeida
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