quinta-feira, maio 15, 2008

Luz.

"Portugal é um país ao Deus dará. O ordenamento é uma palavra vazia e o território é terreno de caça para os interesses e para quem os apoiar. O exemplo mais recente vem numa reportagem no Público de ontem: a nova Aldeia da Luz, uma espécie de andar modelo do edifício do Alentejo pós-Alqueva, está em vias de desertificação. Perante isto será fácil lançar as culpas para a incapacidade de uma comunidade em se adaptar a uma arquitectura e um estilo de vida algo estilizados a partir da aldeia original. Pode até mesmo, com alguma falta de originalidade, contar-se uma nova anedota sobre alentejanos. Mas a verdade é que a comunidade de 325 pessoas transferidas da velha para a nova aldeia ao que não se adaptou, muito concretamente, foi a um modelo e a uma qualidade de vida que o poder lhe prometeu sem jamais cumprir a promessa.

Não foi fácil convencê-los a aceitar que a velha aldeia, terra do seu pão e chão dos seus mortos, ficasse submersa, afogando a história mais a memória daquela gente. E aí entraram em força as promessas dos poderes. Devia ser criminalizado o incumprimento de promessas por parte do poder. Político que prometesse e não cumprisse ficava de quarentena na política e em estado de nojo para os negócios.

Em menos de seis anos, as infra-estruturas da Aldeia modelo da Luz entraram em colapso o que muito está a contribuir para a inadaptação dos habitantes. E às perguntas diz-se nada: as respostas e explicações traduzem-se num chorrilho de siglas sem rosto e sem palavra. As pessoas vão sendo empurradas para fora da aldeia. Quando sair a última, talvez a Aldeia da Luz receba enfim arranjos e dê lugar a um condomínio de luxo. Não lhe faltam, por perto, água e campos de golfe.
"

João Paulo Guerra

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