É só fumaça
“O pecadilho é insignificante. Mas a infantilidade da justificação e da promessa de emenda não o são”
Isto está mau. Sócrates dá uma passa dentro de um avião da TAP e há quem vá logo, a correr, perguntar a distintos juristas se o seu comportamento ofende, ou não, o nosso ordenamento jurídico. É o absurdo em crescendo. Porque não é o facto de o 1º ministro violar ou não uma disposição legal, que muitos consideram de duvidosa legitimidade, que está em causa. São as circunstancias, o simbolismo e a leviandade do seu comportamento que importam. Sócrates não é o façanhudo director da ASAE.
É o 1º ministro. E não estava em sua casa. Lamento, até porque nunca tive grande opinião dos fumadores. Por uma única razão. Quem paga, caro, por um pacote de mercadoria onde está escrito em letras garrafais 'fumar mata' e se delicia a consumir os cigarros uns atrás dos outros, é a mais definitiva negação de que o homem é um ser inteligente. É um personagem possuidor de uma estranha escala de valores e, em certa medida (e sem favor), não desdenharíamos que beneficiasse de um estatuto de moderada inimputabilidade. E aí é que a porca torce o rabo. Se me dissessem que na comitiva do 1º ministro havia 3% de inimputáveis admirava-me menos do que se me dissessem que Sócrates se extasiara com o mais pacóvio dos vícios, num ritual mediático de adolescente irresponsável, num avião rodeado de jornalistas sempre atentos às suas gafes.
Sócrates tem mais um pecado que desconhecíamos? Tem. Mas não é o do cigarrinho para disfarçar angústias, encurtar esperas ou complementar uma boa refeição ou qualquer outra íntima satisfação. O pecado de Sócrates é da facilidade com que cede a vícios menores. A sua incapacidade de resistir a prevaricar. E de não ter o mínimo pejo em se infantilizar fingindo tão simplória e pacóvia ignorância ao afirmar desconhecer estar em falta... Então Sócrates tem de perguntar aos seus assessores se pode ou não fumar dentro de um avião? E serão estes tão obtusos, ou tão subservientes, que não souberam poupá-lo a este ridículo episódio?
O pecadilho é insignificante. Mas a infantilidade da justificação e da promessa de emenda não o são. Sócrates deixou-nos a amarga confirmação da sua (episódica?) leviandade. Se outras razões não houvesse, o respeito pelas tripulações e pela dignidade do seu cargo deveriam ter-lhe determinado um outro comportamento. Antes, durante e depois. Não determinaram. Falhou sobretudo o respeito de Sócrates por si próprio. ‘Peanuts’, afinal.
Grave é o ministro das Finanças ter anunciado a revisão em baixa do nosso (previsto) crescimento económico."
João Marques dos Santos"
Isto está mau. Sócrates dá uma passa dentro de um avião da TAP e há quem vá logo, a correr, perguntar a distintos juristas se o seu comportamento ofende, ou não, o nosso ordenamento jurídico. É o absurdo em crescendo. Porque não é o facto de o 1º ministro violar ou não uma disposição legal, que muitos consideram de duvidosa legitimidade, que está em causa. São as circunstancias, o simbolismo e a leviandade do seu comportamento que importam. Sócrates não é o façanhudo director da ASAE.
É o 1º ministro. E não estava em sua casa. Lamento, até porque nunca tive grande opinião dos fumadores. Por uma única razão. Quem paga, caro, por um pacote de mercadoria onde está escrito em letras garrafais 'fumar mata' e se delicia a consumir os cigarros uns atrás dos outros, é a mais definitiva negação de que o homem é um ser inteligente. É um personagem possuidor de uma estranha escala de valores e, em certa medida (e sem favor), não desdenharíamos que beneficiasse de um estatuto de moderada inimputabilidade. E aí é que a porca torce o rabo. Se me dissessem que na comitiva do 1º ministro havia 3% de inimputáveis admirava-me menos do que se me dissessem que Sócrates se extasiara com o mais pacóvio dos vícios, num ritual mediático de adolescente irresponsável, num avião rodeado de jornalistas sempre atentos às suas gafes.
Sócrates tem mais um pecado que desconhecíamos? Tem. Mas não é o do cigarrinho para disfarçar angústias, encurtar esperas ou complementar uma boa refeição ou qualquer outra íntima satisfação. O pecado de Sócrates é da facilidade com que cede a vícios menores. A sua incapacidade de resistir a prevaricar. E de não ter o mínimo pejo em se infantilizar fingindo tão simplória e pacóvia ignorância ao afirmar desconhecer estar em falta... Então Sócrates tem de perguntar aos seus assessores se pode ou não fumar dentro de um avião? E serão estes tão obtusos, ou tão subservientes, que não souberam poupá-lo a este ridículo episódio?
O pecadilho é insignificante. Mas a infantilidade da justificação e da promessa de emenda não o são. Sócrates deixou-nos a amarga confirmação da sua (episódica?) leviandade. Se outras razões não houvesse, o respeito pelas tripulações e pela dignidade do seu cargo deveriam ter-lhe determinado um outro comportamento. Antes, durante e depois. Não determinaram. Falhou sobretudo o respeito de Sócrates por si próprio. ‘Peanuts’, afinal.
Grave é o ministro das Finanças ter anunciado a revisão em baixa do nosso (previsto) crescimento económico."
João Marques dos Santos"
7 Comments:
A Questão continua a ser: Certas pessoas estão acima da lei.
A grande desilusão é ver um PM que não aguenta um dia no estrangeiro ,sem fazer "jogging",afinal ser um frágil ser humano.Desde o diploma de engenheiro ate´à violação da lei do tabaco que promulgou(e bem..)temos um simples Zé..
O problema não é o cigarro, o beijo na namorada, o convento ou o anúncio do Diogo. O problema, é que este "democrata", tem tanto respeito pelos portugueses como o Ferro Rodrigues tem pelo Segredo de Justiça. E eu penso deles, o mesmo que o Manuel Maria Carrilho pensa do António Barreto...
Vamos lá a ver se a gente se entende. Para mim e para a maioria dos portugueses é indiferente que o PM fume ou deixe de fumar. Mais indiferente é se vai deixar de fumar ou se vai começar a beber ou se vai deixar de correr. Essas coisas, no entanto, preocupavam-vos muito quando se tratava do Santana Lopes. Talvez por isso pensem que a gente está muito preocupada com isso. Agora, senhor director, queremos a governar-nos pessoas que não se contradizem, que não apregoem uma coisa, ou pior, que são fundamentalistas na aplicação das leis e que depois fazem o seo contrário. É isso que está em causa.
As coisas não tem corrido nada bem para José Sócrates. O seu governo é um fracasso. As reformas não foram bem sucedidas. O fisco ataca os contribuintes como se estes fossem os causadores da crise que, pelos vistos, incide mais em Portugal. O número de desempregados licenciados aumenta. A política da saúde tem sido um fracasso. ... Não nos admiremos que Sócrates para além de fumar enverede por outros vícios. É compreensível !
O que é triste nisto é que o Estado se está nas tintas para as leis que faz, não está interessado em saber se são exequíveis ou se são excessivas e só quando é “apertado” é que reage. E reage da pior forma: tarde e, depois, mal. Sócrates não se ficou por reconhecer que tinha errado. Primeiro andou amuado um dia, zangado com os jornalistas que o perseguem e, depois, precisou de dizer que ia deixar de fumar! É estranho, uma pessoa que goste de fumar, que ainda por cima fuma pouco, decide anunciar ao país que vai deixar o vício porque foi apanhado em flagrante… Se um dia o apanham com excesso de álcool ainda diz que se vai inscrever nos alcoólicos anónimos e se for visto a dar um beijo na namorada talvez entre para um convento.
O episódio dos cigarros fumados a caminho da Venezuela por José Sócrates é triste, mas por razões que vão além do facto de ter sido quebrada uma regra. É óbvio que o Estado deve ser o último a quebrar as regras que impõe aos cidadãos, sobretudo quando essas regras podiam ter sido ditadas de Cabul. Mas a verdade é que o Estado não cumpre o código do trabalho e contrata milhares de falsos recibos verdes, não paga a horas a ninguém, as viaturas oficiais não cumprem o Código da Estrada, não consegue (neste caso os partidos) entregar contas certas de nenhuma campanha partidária, contrata obras com desvios orçamentais brutais e por aí fora. Ou seja, alguém estava à espera que o Estado cumprisse a Lei do Tabaco? Eu não estava.
Enviar um comentário
<< Home