A PÁTRIA EM CHUTEIRAS (I)
"Num dia, o país reage ao encarecimento dos combustíveis com desejos de boicotar as gasolineiras. No dia seguinte, reage à escassez dos combustíveis precipitando-se aos magotes para as "bombas". Em Portugal, nada espanta. Ou nada devia espantar.
Ainda assim, continuo a achar um bocadinho estranho que enquanto uns salteadores, conhecidos nos noticiários por "piquetes de greve" ou "manifestantes pacíficos", tomam conta das estradas e espalham o caos, haja sempre portugueses dispostos a festejar na rua os golos que dois ou três compatriotas marcaram na Suíça. Não há gasóleo? Há Ronaldo. Não há peixe nem hortaliças? Há Deco e Quaresma. Não há vestígios do estado de direito? Há a selecção da bola, que só nos dá alegrias.
A propósito, seria interessante apurar qual a dimensão das alegrias futebolísticas necessária para compensar cada maçada social a que estamos crescentemente sujeitos. Ficou confirmado: a qualificação para os "quartos" disfarça o pandemónio forçado dos transportes. Possivelmente, a qualificação para as "meias" faria esquecer a troca de tiros entre "manifestantes pacíficos" e cidadãos comuns, a qualificação para a final tornaria irrelevante o homicídio regular de governantes e a conquista do "Europeu" nem nos permitiria reparar na existência de uma guerra civil.
Já ganhámos. Somos os maiores. Até os comemos. Se, com estas populares sentenças, os portugueses se referem à realidade e aos constrangimentos da realidade, sem dúvida que estão cobertos de razão. E razão é maneira de dizer."
Alberto Gonçalves
Ainda assim, continuo a achar um bocadinho estranho que enquanto uns salteadores, conhecidos nos noticiários por "piquetes de greve" ou "manifestantes pacíficos", tomam conta das estradas e espalham o caos, haja sempre portugueses dispostos a festejar na rua os golos que dois ou três compatriotas marcaram na Suíça. Não há gasóleo? Há Ronaldo. Não há peixe nem hortaliças? Há Deco e Quaresma. Não há vestígios do estado de direito? Há a selecção da bola, que só nos dá alegrias.
A propósito, seria interessante apurar qual a dimensão das alegrias futebolísticas necessária para compensar cada maçada social a que estamos crescentemente sujeitos. Ficou confirmado: a qualificação para os "quartos" disfarça o pandemónio forçado dos transportes. Possivelmente, a qualificação para as "meias" faria esquecer a troca de tiros entre "manifestantes pacíficos" e cidadãos comuns, a qualificação para a final tornaria irrelevante o homicídio regular de governantes e a conquista do "Europeu" nem nos permitiria reparar na existência de uma guerra civil.
Já ganhámos. Somos os maiores. Até os comemos. Se, com estas populares sentenças, os portugueses se referem à realidade e aos constrangimentos da realidade, sem dúvida que estão cobertos de razão. E razão é maneira de dizer."
Alberto Gonçalves
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