quinta-feira, julho 03, 2008

O mercado moribundo, aguarda a extrema unção

O sistema bancário global está a entrar numa fase aguda de sufoco.
Os galácticos da liga bilionária - Citigroup, JPMorgan, Merryl Lynch, Lehman Brothers, HSBC, Wachovia Corp., Bank of America,UBS, Barclays, AIG, Deutsche Bank - foram algumas das vítimas.
Os prejuízos inicialmente negados foram-se sucedendo dolorosamente nos últimos três trimestres. As estimativas oscilam entre os 200 e os 500 mil milhões de dólares.
Quase um ano depois da orgia dos produtos financeiros estruturados, chegou a hora do acerto de contas para os milhares de bancos que “alinham” nas ligas regionais e locais.
Os factos indiciam que, para uma boa parte deles, a liturgia da extrema-unção é incontornável. A Independent Community Bankers of America (ICBA), que representa cerca de 5 000 associados, reconheceu esta semana a severidade da situação vivida por um milhar deles. “Os bancos precisam de capital para emprestar aos clientes. Se os fundos não estão disponíveis os negócios desaparecem. A incapacidade de acesso a capitais alheios arrefece bruscamente toda a economia”, disse Chris Cole, um quadro superior da ICBA.
Cole admitiu a possibilidade de muitos dos bancos associados serem forçados a declarar falência.
Mais preciso foi o bilionário Wilbur Ross ao fazer a comparação da crise actual com a que nos anos 80/90 afectou milhares de instituições mutualistas de crédito (Savings & Loan Associations) nos Estados Unidos: “[Na altura] faliram 2 600 bancos, mas ainda ficaram cerca de 8 mil. Desta vez vão falir mais mil (…) Os bancos regionais vão ter mais dificuldades do que os grandes em obter capital.” Ross prepara-se para adquirir alguns deles logo que o governo federal intervenha e limpe os respectivos balanços.
Vários analistas concordam que os 8 mil bancos existentes nos EUA, nos próximos meses irão sofrer dolorosamente com o desaparecimento, desde Janeiro, do mercado da «securitização» -um híbrido de dívida e património líquido - avaliado em cerca de 120 mil milhões de dólares.
O mercado entrou em colapso progressivo após as penhoras hipotecárias terem atingido 2,47% de todos os empréstimos concedidos no mercado dos EUA. Uma dimensão recorde. O colapso do mercado de crédito assumiu proporções gigantescas com a brusca aversão ao risco no segmento dos produtos estruturados (derivativos), ultra voláteis e altamente especulativos. Outro indicador, o índice S&P relativo à capitalização bolsista de 600 bancos de pequena/média dimensão - Standard & Poor’s Small Cap Regional Banks Index -caíu 34% em 2008, cortando-lhes a possibilidade de se capitalizarem sem prejuízo dos accionistas.
Nathan Flanders, analista da empresa de notações Fitch Ratings, ajudou a deprimir ainda mais o mercado ao anunciar (21/05/2008) que poderia rever em alta a notação de risco de cerca de 60 CDO’s (Collateralized Debt Obligation/Titulo de Dívida Colateralizada) devido a incidentes de crédito, ou a pagamentos de dividendos futuros fora dos prazos acordados, por parte de um grande número de bancos. Flanders acrescentou que desde 2000 foram vendidos cerca de 46 mil milhões de CDO’s emitidos por fundos fiduciários (trusts).
Desde Novembro de 2007, o número de operações foi igual a zero.
Esta semana, o Wall Street Journal (WSJ), noticiou que “bancos pequenos e regionais deverão começar a declarar prejuízos nos próximos trimestres devido ao crescimento dos incidentes de crédito relacionados com projectos de construção e empréstimos imobiliários.”
O jornal novaiorquino acrescentou que “durante os próximos cinco anos, os bancos deverão amortizar qualquer coisa como 26% - 165 mil milhões de dólares - dos activos em terrenos e imóveis residenciais”, citando como fonte a empresa Zelman & Associates.
O WSJ adiantou que “os bancos amortizaram 0,7% daqueles activos no primeiro trimestre” do corrente ano.
Cerca de um terço dos 6 919 bancos obrigados por lei a informar os reguladores do fundo de garantia de depósitos - Federal Deposit Insurance Corporation - reconheceu que as respectivas carteiras de empréstimos à construção já ultrapassaram em 100% os riscos totais cobertos pelos seus rácios de capital. “Um sinal de alerta para os reguladores”, enfatizou o jornal.
Keith Maio, CEO da Zions Bancorporation, igualmente referido pelo WSJ, antecipou que os resultados do segundo trimestre serão “brutais”. Por seu turno, John Duffy, CEO do banco de investimento novaiorquino KBW Inc., que também opera no segmento dos derivativos, foi mais derrotista:
“Claramente, o mercado está moribundo. Ou melhor, está morto.”
Perante isto, e recordando os casos protagonizados pelos gigantes hipotecários Bear Stearns, Countrywide, Fannie Mae e Freddie Mac, para citar apenas alguns dos mais desastrosos, os próximos meses prometem uma nova onda de desagradáveis surpresas.
Os mais expostos sucumbirão à crise de liquidez.
Dos trambolhões que dela resultarão, assistiremos ao inevitável ciclo de falências, fusões e aquisições, que o presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann, em Agosto passado, eufemisticamente, chamou de “caos criativo”, aludindo às oportunidades da crise para acelerar a concentração da banca a nível global.

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

O mercado, tem 3 grandes bolhas autofágicas:
O mercado imobiliário e a crise subprime, o mercado "bolha" do petróleo e o mercado alimentar.
Todos eles alimentados pelos mesmos.
Soros avisou o Senado que não se podia especular com fundos institucionais e que o mercado bolsista, só podia funcionar se fosse regulado.
Durou 1 semana o efeito do aviso.
Aviso de que o estado americano está a perder capacidades.
Se Israel for ao Irão, ou os americanos se quiserem, o petróleo irá para os 200 USD, mas há um limite em que não vale a pena ter o crude a este preço, porque não vai haver mercado para ele e a causa é um princípio da termodinâmica chamado de entropia, coisa confusa para os papagaios economistas.
A partir daqui, será um problema de regras de Hobbes e Malthus.
Como já aqui disse e repito, a OPEP não é a causadora da bolha, será numa muito pequena fracção.
O segredo, nem tem a ver com os mercados emergentes, que só podem ser se não ocorresse o problema da energia muito cara e logo,mesmo com o preço da mão de obra, não vale a pena deslocalizar, ou seja, a globalização como alavanca de lucros das multinacionais, está a ser torpedeado pela loucura da especulação com os fundos de investidores institucionais.Dinheiro a mais é contraproducente, por motivos diferentes os japoneses sabem explicar.
É que para se trabalhar, tem de se comer mais ou menos, e com a crise alimentar, provocada pelos combustíveis fósseis ou não fósseis, a China por exemplo, que era autosuficiente em termos alimentares deixou de o ser, e os preços dos alimentos são de tal ordem que não lhes permitirá sobreviver (literalmente) com os salários auferidos, porque as migrações não se fazem ao contrário.
Por outro lado, a indústria precisa de energia fóssil, mas ao preço a que está, não será produzido nada que sirva para eles nem para exportar, daí o problema malthusiano, Estranho?
Não, pensem apenas um pouco.
Dos BRIC, o Brasil e a Rússia serão os que poderão ter mais sucesso.
Mas por outro lado, tirar o tapete, através dos preços dos combustíveis negociados por NY e Londres, pode tornar o mundo muito perigoso, daí a procura das teorias de Hobbes, ou seja, quantos estados fortes restarão depois da tragédia, se o mundo e os donos do poder e do dinheiro, não tomarem juízo.
Podem usar as bombas nucleares de bolso, mas os russos não dormem e os chineses idem, portanto, a IV guerra mundial será disputada á pedrada e á paulada.
Exagero? Talvez, mas ao ritmo a que a loucura cresce, nada já espanta.
Esqueci o resto do mundo de que fazem parte os EUA e os CEE, de propósito, estes acabam com o estado social, mesmo com este já há fome. Nos EUA, como não há despesa com o estado social, porque não há, a almofada é comida pelo complexo militar industrial, só que os soldadinhos são todos mercenários e logo...
Assim, ou tomam juízo ou vão ter que comer as verdinhas e aquilo é capaz de ser indigesto...

quinta-feira, julho 03, 2008  
Anonymous Anónimo said...

A pujança económica da China não se mede em Stanley Hos,a razão da sua força,não é a força da sua razão.É uma economia que concorre fora da legalidade instituida,ao arrepio dos maís elementares princípios da dignidade humana, e, são precisamente os Stanley Hos do mundo que lhe alisam o caminho e se esforçam para que ela não cáia.

quinta-feira, julho 03, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Entra China, sai Europa...Realmente deve ser difícil em 50 anos governar tão mal a África. Deixar-se embalar pela lenga lenga de Silicon Valley (as novas tecnologias, o crescimento e a felicidade humana). Os políticos "progressistas e comunistas" europeus têm a maior dose de culpa na "descolonização exemplar" de África. Os "comunas", cumpriram a sua missão, porque antes de serem europeus deviam fidelidade a Moscovo.Só fizeram mal as contas,e não previram a perestroica e o desmoronar do poder da Nomenklatura. Com os europeus contínuamente embalados em direitos humanos, o apoio aos famintos e deserdados negros (em que as elites da mesma côr positivamente se estão a...), os Chinas vão entrando pé ante pé, pela via dos financiamentos de infraestruturas que permitam trazer as mps. para os portos de embarque. Por outro lado usam e abusam dos acordos "barter" em que há troca por troca, vendendo os brinquedos e electronica de consumo de vão de escada, a preços acessíveis, em troca das mps. para o seu crescimento. Mesmo assim, tenho dúvidas que não venha a haver rupturas a prazo no crescimento chinês. Estamos cada vez mais no século das matérias-primas e a luta por elas vai aquecer no futuro próximo. E o que resta à Europa? Virar-se para o urso Putin!

quinta-feira, julho 03, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Uma coisa é certa. O preço daquele preciso liquido vai chegar em Janeiro aos 250 Dolares o Barril daí que possívelmente o consumidor pagará por Litro qualquer coisita como 3 Euros. Mas não nos preocupemos os nossos Governantes competentes já se andar a debruçar sobre a inflacção do próximo ano (previsões) e ouvi em S Bento que para o Zé a inflacção será de 2,5% embora a real seja 8%. À que manter o Zé de rédea curta e se possível com muitas campanhas de desinformação sempre apoiadas seja pela OCDE, FMI, e UE.... Será que ainda vão votar nesta escumalha????

quinta-feira, julho 03, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Há que desmistificar as "energias renováveis". Saber quanto é que elas vão permitir economizar/substituir no consumo de energia eléctrica produzida nas centrais a fuel e de ciclo combinado. Mesmo com todos os cumes e picos de serras, montanhas, montes e colinas, cobertos com geradores eólicos, e com as planícies alentejanas polvilhadas de centrais fotovoltaicas, julgo que não ultrapassará os 15%. Some-se-lhes as hídricas, e não deverá ultrapassar 30%. Os restantes 70% continuarão a vir de fontes poluidoras e consumidoras de petróleo.Depois, é preciso mostrar o quanto mais caro se paga por estas renováveis. Depois, evitar que a EDP se transforme na 2ª GALP, e passe a aumentar a energia ao trimestre (segundo o projecto colocado pela ERSE na Net). E então, vamos todos ouvir o AllPinho ensinar "como se poupa energia". Eu sugeriria uma medida simples, para dar o exemplo, aos membros dos Orgãos de Soberania: deixem o carro em casa e passem a andar de autocarro + Metro, que os novos veículos já dispõem de um bom ar condicionado...Evitem no entanto demasiadas familiaridades com o "pôbo". Lembrem-se do O. Palme, que era democrático de mais e lixou-se.

quinta-feira, julho 03, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Os líderes mundiais (G8) têm de se entender sobre esta matéria e pressionar os detentores de tecnologias alternativas aos motores de combustão a evoluirem rápidamente as suas versões comerciais que estão na gaveta para defender os ganhos brutais de meia duzia de especuladores. Caso contrário estamos à beira de uma convulsão social incontrolável.

quinta-feira, julho 03, 2008  
Anonymous Anónimo said...

liquidez , investimento , certeza e que futuro? uma coisa é certa metas establecidas para 2020 de 20% de energia apartir das renovaveis irá ser tarde de mais. a gasolina a 2 euros o gasoleo a 1.9 quem vai suportar? o estado? e os bens alimentares vão subir mais ? e as pessoas com poucas posses ? e o investimento publico ? e a TAP? e os automoveis que temos ? já verificaram que só se compra automovel novo e os usados ? o GPL será a opção ?

quinta-feira, julho 03, 2008  
Anonymous Anónimo said...

mais interessante seria chamar à responsabilidade os criminosos que andam a fazer tudo isto!...parece-me que os senhores analistas têem muitas culpas no cartório...infelizmente ninguém é chamado à pedra...quando dizem que: o petróleo vai a caminho dos 150 dolares em vez de dizerem o petróleo estabilizou com tendencia de descida para aí até os 40, valor de cotação à pouco mais dois anos...não... empurram-no para cima, tal é o desejo de o verem passar aquele valor...assim impossível dar a volta!...

quinta-feira, julho 03, 2008  
Anonymous Anónimo said...

caramba a história é sempre a mesma...a bolsa cai porque o dolar desvaloriza e o petroleo aumenta abolsa cai por causa dos bancos etc etc etc... quando será que vão aparecer boas notícias...durante anos a fio andaram a esconder os males que o planeta sofria e isto era um mar de rosas estava tudo...de um momento para outro tudo se esfumou e tudo virou um inferno...afinal andaram todos a esconder o que era evidente...abram os olhos e prendam os especuladores...isto está mal...mas cada vez há mais ricos no planeta...aqui também...

quinta-feira, julho 03, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Redução de lucros. Como combater tal "flagelo". Analisar a conjutura mundial dominada pela corrente da CLOBOLISAÇÃO? Bom isso seria remar contra os parceiros sócio-económicos. Prescindir dos "paraísos fiscais"? Bom isso trasia carga fiscal logo "pior a emenda que o soneto". Redusir as remunerações das ditas grandes cabeças que formam os Conselhos Super Directivos dessas Instituições Financeiras, Seguros, Multinacionais incluídos? Nem pensar...podem não ter competências técnico-profissionais que justifiquem, mas sobram-lhe outras... tráfico político de influências, apoiados pelos chamados "Escritórios" que encapotam advogados, engenheiros, "coselheiros"...e outros mais, que trabalham em contra poder, seja que governo fôr, já não falando de aqueles que, ainda por cima, são comentadores de opinião televisiva. Bom posto isto há que redusir outos colaboradores...as "bestas" que já foram "bestiais" (em conjunturas diferentes) com indemenisações o mais parcas possível (excepto os do topo que levam as mais milionárias e depois de um "descanço retemperador" logo estão disponíveis para liderar outras Instituições, financeiras ou não...pouco importa. E no caso vertente Portugal aprendeu bem a lição...vamos confirmá-lo porque a cavalgada já começou com falso "tiro de partida". Bom...a Alemanha, comandada por uma Senhora, já se vai distanciando e não tem Petrólio...caso contrário nem os E.U.A resistiriam, com ou sem a Senhora negra no poder ou com o Senhor negro que luta pelo poder.

quinta-feira, julho 03, 2008  

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