Pobres mas modernos
"Quem não é do PS não pode ser progressista e quem não é Sócrates só pode ser conservador e digno da rejeição democrática.
O Governo inventou uma nova narrativa política. Na República dos bons domina a visão progressista de Sócrates. Na República dos maus são as nefastas forças conservadoras que ameaçam o país. Refira-se que no mapa político de Sócrates o progresso se resume à virtude do PS na proposta estilizada do Governo.
As forças conservadores são um lote estranho e diversificado. Existe a esquerda conservadora do PCP que julga o mundo com base na cartilha marxista e na geografia do Muro de Berlim. E há ainda a direita retrógrada e saudosista representada no PSD de Manuela Ferreira Leite. Reaccionário e moralista, o Bloco é a ‘bête noire’ do Governo e um estranho rival no sonho de progresso que Sócrates julga ser seu por direito. Assim, quem não é do PS não pode ser progressista e quem não é Sócrates só pode ser conservador e digno da rejeição democrática.
Mas o que é o Portugal progressista que Sócrates promete e anuncia? Parece então que é um país transformado pela marca da modernidade e que honra a visão de futuro projectada na história do PS. O Portugal de Sócrates é um país livre de tabus ideológicos, um país em que os portugueses podem realizar as suas escolhas em manifesta liberdade. No país de Sócrates, os portugueses podem optar pela interrupção voluntária da gravidez, podem usufruir da flexibilização do regime do divórcio, podem aceder à reprodução medicamente assistida e, no futuro próximo, poderão experimentar a celebração de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Em conclusão, o Portugal de Sócrates é dominado pela imposição do princípio da igualdade, o grande e único tabu ideológico dos tempos modernos.
A perspectiva progressista de Sócrates é então uma película de novos costumes que cobre o Portugal contemporâneo. Entretanto, o país empobrece em relação à Europa e os portugueses vivem sob o peso do Estado e do crédito. No Portugal de Sócrates os portugueses não podem escolher entre o avanço e o atraso, não podem arriscar entre a riqueza e a pobreza, e tão somente porque o país se demite de pensar um projecto económico e social com futuro. O Governo pode prometer um Portugal ao sol e a cores, mas o país encolhe-se num pessimismo a preto e branco.
Na nova narrativa política do Governo, a distinção entre progressistas e conservadores é apenas o velho expediente da bipolarização com objectivos eleitorais. Sócrates julga-se um político providencial e acena ao país com a teoria do caos. Os portugueses já se habituaram à experiência do caos."
Carlos Marques de Almeida
O Governo inventou uma nova narrativa política. Na República dos bons domina a visão progressista de Sócrates. Na República dos maus são as nefastas forças conservadoras que ameaçam o país. Refira-se que no mapa político de Sócrates o progresso se resume à virtude do PS na proposta estilizada do Governo.
As forças conservadores são um lote estranho e diversificado. Existe a esquerda conservadora do PCP que julga o mundo com base na cartilha marxista e na geografia do Muro de Berlim. E há ainda a direita retrógrada e saudosista representada no PSD de Manuela Ferreira Leite. Reaccionário e moralista, o Bloco é a ‘bête noire’ do Governo e um estranho rival no sonho de progresso que Sócrates julga ser seu por direito. Assim, quem não é do PS não pode ser progressista e quem não é Sócrates só pode ser conservador e digno da rejeição democrática.
Mas o que é o Portugal progressista que Sócrates promete e anuncia? Parece então que é um país transformado pela marca da modernidade e que honra a visão de futuro projectada na história do PS. O Portugal de Sócrates é um país livre de tabus ideológicos, um país em que os portugueses podem realizar as suas escolhas em manifesta liberdade. No país de Sócrates, os portugueses podem optar pela interrupção voluntária da gravidez, podem usufruir da flexibilização do regime do divórcio, podem aceder à reprodução medicamente assistida e, no futuro próximo, poderão experimentar a celebração de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Em conclusão, o Portugal de Sócrates é dominado pela imposição do princípio da igualdade, o grande e único tabu ideológico dos tempos modernos.
A perspectiva progressista de Sócrates é então uma película de novos costumes que cobre o Portugal contemporâneo. Entretanto, o país empobrece em relação à Europa e os portugueses vivem sob o peso do Estado e do crédito. No Portugal de Sócrates os portugueses não podem escolher entre o avanço e o atraso, não podem arriscar entre a riqueza e a pobreza, e tão somente porque o país se demite de pensar um projecto económico e social com futuro. O Governo pode prometer um Portugal ao sol e a cores, mas o país encolhe-se num pessimismo a preto e branco.
Na nova narrativa política do Governo, a distinção entre progressistas e conservadores é apenas o velho expediente da bipolarização com objectivos eleitorais. Sócrates julga-se um político providencial e acena ao país com a teoria do caos. Os portugueses já se habituaram à experiência do caos."
Carlos Marques de Almeida
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