sábado, agosto 30, 2008

Insegurança

"Alguns criminosos vivem mais comodamente nas prisões do que nas suas próprias casas”

Cavaco lançou novo alerta. A insegurança aumenta e desafia pessoas e Estado. Descarada e atrevida, ri-se de quem não a soube conter.

Banalizada estatisticamente, a insegurança começa também a ser já banalizada em alguns discursos. Como se ela fosse uma inevitabilidade como a chuva ou como o frio. A banalização passou a ser o estratagema que usam alguns responsáveis para sacudir a água do capote. Quem não tem soluções banaliza. É assim, dizem eles. É o custo do progresso, da abertura das fronteiras, do nosso abraço ao Mundo. Mentem. E, por isso, o grande combate dos cidadãos tem de ser contra esta obtusa tentativa da sua banalização.

Não é porque o Mundo esteja infestado de pragas para as quais não há remédio que a insegurança (por cá) existe e aumenta. É pela displicência com que os tribunais e os sucessivos governos a têm tratado. Pela confusão que se instalou na cabeça dos legisladores e penalistas entre o academismo e a realidade. É porque as polícias desapareceram das ruas, se acomodaram com funções administrativas ou se entretêm numa residual caça à multa. É claro que importa atacar as causas profundas do crime. O desemprego, a impiedosa marginalização social, a liquidação de qualquer esperança de vida digna. É claro que temos de nos preocupar com a reinserção social do criminoso quando ela se mostre possível. Mas estas são formas de abordagem da questão global da criminalidade que se suscitam em tempos diferentes e nada têm a ver com a estratégia da sua contenção. E que gera muitas confusões nas cabecinhas mais frágeis dos nossos decisores políticos. Se a criminalidade existe hoje, entre nós, com a intensidade com que ela se manifesta, é devido à (também ela criminosa) displicência com que o fenómeno tem vindo a ser tratado. É porque os brandos costumes são o caldo de cultura de eleição da criminalidade. É porque o sistema prisional está cada vez mais parecido com uma cadeia de hotéisdeauto-estrada.É porque qualquer criminoso sabe que pouco tempo ficará nas prisões. É porque homicidas, violadores e criminosos em geral sabem que muito provavelmente encontrarão no seu caminho uma boa alma que os mandará para casa em paz a aguardar julgamento. É, também, porque, quando raramente as polícias actuam com firmeza, logo outras alminhas muito piedosas se insurgem contra a sua suposta brutalidade. É porque alguns criminosos vivem mais comodamente nas prisões do que nas suas próprias casas. É porque as prisões custam dinheiro e os presos idem aspas.

E dinheiro só para TGV
."

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