POBREZA ESCONDIDA
"O que escrevi há oito dias sobre os moradores dos bairros camarários valeu-me uma quantidade inusitada de "e-mails". Uns davam-me razão. Muitos, porém, decidiram que me falta sensibilidade para estas matérias e que, em última instância, odeio pobres.
Não percebo a disparatada dedução. Se bem me lembro, o meu artiguinho criticava justamente os falsos pobres, que preferem viver das regalias que o Estado equivocamente lhes confere a, digamos, trabalhar. Mas não ignoro que, a par destes oportunistas da redistribuição dita social, conceito lírico e pouco fiscalizado, existem criaturas constrangidas pela idade ou outra limitação, a quem a oferta de uma casa e a concessão de ajudas diversas resgataram de um futuro miserável e, admito, sem alternativas.
A questão está em descobrir a norma e a excepção. Não parece fácil. Para os defensores de uma intervenção reforçada do Estado, os vigaristas que se aproveitam das benesses constituem uma minoria irrisória e, logo, um escasso preço por uma sociedade mais equilibrada. Para os menos crentes nas propriedades redentoras do Estado, a vigarice é suficiente para minar o referido equilíbrio.
De que lado está a razão? Se vamos pela fezada, a discussão não se resolve. Por sorte, entretanto chegaram números: de acordo com o próprio Governo socialista, em 2006 uma em cada seis famílias beneficiárias do "rendimento de inserção" burlou o Estado. É muito? É pouco? Não é uma mera excepção. E se adicionarmos os que enganam o fundo de desemprego (detectados 56 mil em 2006) e os que fintam as condições indispensáveis à habitação gratuita (dados desconhecidos), constata-se: as preocupações com os excessos de caridade são legítimas.
Claro que, somadas as fraudes, obtém-se sempre um valor inferior aos dois milhões de pobres contados pelo dr. Bruto da Costa. Resta que os extraordinários métodos do dr. Bruto permitem inventariar dois, quatro ou dez milhões de indigentes. E resta que, mesmo assim, o dr. Bruto talvez não inclua no pacote a classe alegadamente média que sustenta os necessitados, incluindo os fictícios, e que, também por causa disso, termina o mês numa penúria igual ou maior que a deles. Mas de certeza mais injusta. Era de justiça que estávamos a falar, não era? "
Alberto Gonçalves
Não percebo a disparatada dedução. Se bem me lembro, o meu artiguinho criticava justamente os falsos pobres, que preferem viver das regalias que o Estado equivocamente lhes confere a, digamos, trabalhar. Mas não ignoro que, a par destes oportunistas da redistribuição dita social, conceito lírico e pouco fiscalizado, existem criaturas constrangidas pela idade ou outra limitação, a quem a oferta de uma casa e a concessão de ajudas diversas resgataram de um futuro miserável e, admito, sem alternativas.
A questão está em descobrir a norma e a excepção. Não parece fácil. Para os defensores de uma intervenção reforçada do Estado, os vigaristas que se aproveitam das benesses constituem uma minoria irrisória e, logo, um escasso preço por uma sociedade mais equilibrada. Para os menos crentes nas propriedades redentoras do Estado, a vigarice é suficiente para minar o referido equilíbrio.
De que lado está a razão? Se vamos pela fezada, a discussão não se resolve. Por sorte, entretanto chegaram números: de acordo com o próprio Governo socialista, em 2006 uma em cada seis famílias beneficiárias do "rendimento de inserção" burlou o Estado. É muito? É pouco? Não é uma mera excepção. E se adicionarmos os que enganam o fundo de desemprego (detectados 56 mil em 2006) e os que fintam as condições indispensáveis à habitação gratuita (dados desconhecidos), constata-se: as preocupações com os excessos de caridade são legítimas.
Claro que, somadas as fraudes, obtém-se sempre um valor inferior aos dois milhões de pobres contados pelo dr. Bruto da Costa. Resta que os extraordinários métodos do dr. Bruto permitem inventariar dois, quatro ou dez milhões de indigentes. E resta que, mesmo assim, o dr. Bruto talvez não inclua no pacote a classe alegadamente média que sustenta os necessitados, incluindo os fictícios, e que, também por causa disso, termina o mês numa penúria igual ou maior que a deles. Mas de certeza mais injusta. Era de justiça que estávamos a falar, não era? "
Alberto Gonçalves
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