quarta-feira, agosto 06, 2008

Os outros e eu

Contaram-me e eu sei, porque já vi,
Que os bichos, quando chega a sua hora e sentem a presença da senhora da gadanha,
Procuram um lugar quieto e calmo, longe de tudo e de todos os outros seres;
E esperam.
Antes, diziam os antigos e eu lembro-me daquela forma como se lembra um sonho,
Que os antigos, habitualmente os velhos, ou os novos que perdiam as forças e esperanças,
Faziam como aqueles seres a que chamamos de bichos.
Eu que vagueio por vezes, pelos campos e pela minha consciência,
Que por vezes não consigo distinguir a realidade, ou a verdade da mentira,
Que me interrogo do bem e do mal,
Que vivo rodeado de sombras, com os quais não posso falar nem ver,
Mas que pressinto, como se de pessoas idas para o outro lado se tratassem,
Porque, por vezes, e duvido que outros que não eu, já não sofressem esse sentimento,
Que se manifesta como um arrepio,
Se sente no corpo, principalmente nos cabelos,
Como se fossemos um cão de pêlo eriçado pressentindo o perigo;
Eu, na minha imaginação ou ignorância,
Penso que são seres etéreos, querubins ou outros anjos,
Que de hierarquias de anjos pouco conheço.
Dos outro não sei, por que lhes conheço apenas a superfície da alma,
Algumas coisas boas e más do corpo,
O que para aprendiz de feiticeiro que sempre quis ser, não é nada mau,
Ou então trata-se de um defeito de vaidade.
Dos outros pouco conheço e de mim, o mesmo posso dizer,
Ainda não consegui saber o que sou eu, e o que são os outros, bichos, terra, mar, ar. Tudo junto.
Daí, a minha sempre dúvida, de não saber onde começa o bicho e acaba o homem,
Porque, no fundo acredito que todos temos alma.
Já experimentaram olhar nos olhos de um animal que se aconchega,
Ou que nos suplica algo, com o olhar que só os bichos podem ter,
Se isso não é alma o que é?
Se homens e bichos procuram um recanto para morrer, quando de morte não violenta,
Que somos todos, senão animais com alma?
O mundo afinal, se calhar somos todos,
Como as estrelas todas são iguais,
Diferentes no brilho dado ou não pela distância, e do combustível que um dia se há-de gastar, Como a vida dos Outros e de Eu.

José Lopes Correia

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