Desafio
"Bem sabem os portugueses como o Governo trabalha bem as estatísticas e para as estatísticas.
Basta ver, por exemplo, o trabalho sobre os dados do desemprego ou do insucesso escolar para ver como o tratamento dos números sabe tapar as mazelas, disfarçar as cicatrizes, abrilhantar a imagem do país e lisonjear o trabalho do Executivo. De tal modo que embora os portugueses corram o risco de se reconhecerem cada vez menos em alguns tratamentos da realidade social, não há dúvida que a propaganda do Governo, para uso interno e externo, tem vindo a esmerar-se em redor das aparências. A realidade pode não ser lá muito bonita mas a imagem do espelho é suficientemente distorcida para parecer aceitável ou até mesmo boa.
Agora, porém, há um desafio que vai pôr à prova toda a habilidade do Governo e a industriosa capacidade dos seus especialistas de imagem. Trata-se dos dados da OCDE que situam Portugal no terceiro lugar dos países mais desiguais abrangidos pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico, logo abaixo do México e da Turquia, e a quilómetros de países mais justos como a Dinamarca ou a Suécia.
Porque é fácil, com golpes de mágica política ou contabilística, fazer desaparecer milhares de analfabetos ou milhões de pobres. Mas é muito difícil esbater o fosso abissal que em Portugal separa os imensamente ricos dos muito pobres. É que o fosso vê-se e por muito envergonhada e discreta que seja a pobreza, há sempre uma ostensiva riqueza a meter-se pelos olhos dentro. Basta olhar à volta para se dar por essa desigualdade que o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade considerou “injusta e imoral”. Nem o Governo pode tirar alguma coisa aos ricos nem quer dar alguma coisa aos pobres de maneira a atenuar o fosso. E a desigualdade pode desacreditar todo o imenso trabalho que o Governo tem tido, de há umas semanas para cá, para dourar a pílula social. Com imaginação até se arranjam números que provem que o Governo é campeão nacional da sensibilidade social."
João Paulo Guerra
Basta ver, por exemplo, o trabalho sobre os dados do desemprego ou do insucesso escolar para ver como o tratamento dos números sabe tapar as mazelas, disfarçar as cicatrizes, abrilhantar a imagem do país e lisonjear o trabalho do Executivo. De tal modo que embora os portugueses corram o risco de se reconhecerem cada vez menos em alguns tratamentos da realidade social, não há dúvida que a propaganda do Governo, para uso interno e externo, tem vindo a esmerar-se em redor das aparências. A realidade pode não ser lá muito bonita mas a imagem do espelho é suficientemente distorcida para parecer aceitável ou até mesmo boa.
Agora, porém, há um desafio que vai pôr à prova toda a habilidade do Governo e a industriosa capacidade dos seus especialistas de imagem. Trata-se dos dados da OCDE que situam Portugal no terceiro lugar dos países mais desiguais abrangidos pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico, logo abaixo do México e da Turquia, e a quilómetros de países mais justos como a Dinamarca ou a Suécia.
Porque é fácil, com golpes de mágica política ou contabilística, fazer desaparecer milhares de analfabetos ou milhões de pobres. Mas é muito difícil esbater o fosso abissal que em Portugal separa os imensamente ricos dos muito pobres. É que o fosso vê-se e por muito envergonhada e discreta que seja a pobreza, há sempre uma ostensiva riqueza a meter-se pelos olhos dentro. Basta olhar à volta para se dar por essa desigualdade que o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade considerou “injusta e imoral”. Nem o Governo pode tirar alguma coisa aos ricos nem quer dar alguma coisa aos pobres de maneira a atenuar o fosso. E a desigualdade pode desacreditar todo o imenso trabalho que o Governo tem tido, de há umas semanas para cá, para dourar a pílula social. Com imaginação até se arranjam números que provem que o Governo é campeão nacional da sensibilidade social."
João Paulo Guerra
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