terça-feira, novembro 18, 2008

As cimeiras da vaidade e a realidade

A reunião que se iniciou do G20 em Washington de 14/15 de Novembro de 2008, é por si só um marco histórico que marca o fim do monopólio ocidental, antes de tudo angloamericano, da governança mundial e financeira.
Pelo que esta reunião demonstrou muito claramente que estas cimeiras estão condenadas ao fracasso em tempos de crise, porque tratam apenas os sintomas (derivativos financeiros dos bancos, hedge funds, explosão dos produtos financeiros derivados, a volatilidade extrema dos mercados e das divisas…) sem tratar a causa principal da actual crise sistémica global, isto é, o colapso do sistema de Bretton Woods fundado sobre o USD como charneira do edifício moderno mundial.
Sem uma renovação completa do sistema herdado de 1944 antes do verão de 2009, a quebra do sistema actual e do seu coração os Estados Unidos da América, arrastará o conjunto do planeta a uma instabilidade económica, social, política e estratégica sem precedentes que aparecerá no verão de 2009.
A retórica do comunicado da primeira cimeira dos G20, está completamente desligada da realidade e da velocidade desta crise e da sua amplitude, o mais provável é que primeiro haverá que passar por essa catástrofe para que os problemas de fundo sejam abordados concretamente, para que se comece de princípio a ter uma resposta eficaz para a mesma.
O facto do EUA recusarem aceitar que os verdadeiros problemas sejam tratados provoca maior instabilidade nos operadores financeiros.
Quatro fenómenos fundamentais actuam de agora em diante para fazer colapsar o sistema de Bretton Woods II; ( na cimeira ouve desacordo com PM inglês e PR francês, relembrando que foram os USA que abandonaram a paridade USD/ouro unilateralmente, substituindo pelos acordos de Jamaica, com os câmbios flutuantes – BW II); no decurso do ano de 2009, a saber:
Debilidade extrema dos principais actores históricos: USA e UK.
Crescente divergência, entre os actores fundamentais: Zona Euro, China, Japão, Rússia e Brasil.
Aceleração descontrolada dos processos desestabilizadores da última década.
Multiplicação dos choques e crises com violência crescente.
A agitação que apanhou os dirigentes mundiais desde fins de Setembro de 2008 ilustra de forma clara a sensação de pânico ao mais alto nível. Os responsáveis políticos perceberam que a casa estava em chamas. Pelo que não entenderam a evidência que era a própria estrutura do edifício que estava em causa. Não se trata de melhorar os meios de combate ao fogo ou outros meios de socorro.
O sistema monetário mundial está numa situação idêntica. A estrutura do edifício são Bretton Woods, como as Twin Towers; os aviões chamam-se crise suprime, recessão económica, grande depressão americana, deficit dos USA, ou seja uma verdadeira esquadrilha.
Os actuais dirigentes resultantes do mundo que se desfaz sob os nossos pés, Barack Obama incluído,( promessas eleitorais de um país com problemas gravíssimos a nível social, infraestruturas, basta pensar nos apagões eléctricos, cuidados de saúde e dívida e deficit internos incompatíveis com as reformas prometidas ), não podem imaginar as soluções necessárias, assim como os banqueiros centrais não conseguiram durante 2006/2007, imaginar a amplitude da crise actual.
É o seu mundo que desaparece sob os seus olhares, as suas certezas e as suas ilusões às vezes idênticos por toda a parte. Segundo alguns, é necessário esperar uma renovação de pelo menos 20 % dos dirigentes mundiais para que se possam começar a construir soluções viáveis, eficazes e intelectualmente pertinentes. Trata-se da massa crítica necessária para a mudança de perspectiva num grupo humano e pouco hierarquizado. Estamos, assim, muito longe da verdade porque estes novos dirigentes, para contribuir realmente para solucionar a crise, devem aceder ao poder depois de ter tomado consciência da natureza da mesma.
Sem esta tomada de consciência pelos dirigentes mundiais, nos próximos 3 meses e a consequente tomada de medidas, levará a que nos 6 meses seguintes, a dívida americana implodirá no Verão de 2009 sob a forma de incumprimento da mesma ou de uma desvalorização do USD sem precedentes. Este afundamento será precedido de casos similares em países de menor importância entre os quais o UK já sobre endividado e verá a sua dívida e o seu deficit crescer quase ao mesmo ritmo de Washington, fazendo diminuir o crescimento europeu.
Como a o Fed viu, mês a mês, que os seus Primary Dealers, ( os únicos bancos priveligiados que podiam fazer negócios com o Fed, a lista diminuiu em 2008), eram arrastados pela crise antes que ela mesma tivesse ainda problemas de capitalização e de sobrevivência. Os USA no próximo ano verão falir um a um, os países mais ligados à sua economia, ( Paquistão, Colômbia, , a que irão juntar Ucrânia, Turquia, Egipto e Israel) .
O papel dos europeus nesta matéria é essencial, e os da zona euro em particular, devem transmitir uma mensagem muito forte para Washington: os USA cairão num buraco negro económico e financeiro em 2009 se se agarrar a toda a custa aos passados privilégios.
Uma vez que o mundo riscará com uma cruz os USA e se assim for, será demasiado tarde para negociar algo. Com mais 550 mil milhões de USD, a Zona Euro possui o terceiro lugar, a par da Rússia, das reservas mais importantes do mundo, depois da China e do Japão e antes dos países do Golfo.
Tem portanto o peso diplomático, financeiro, comercial e monetário para forçar Washington a encarar a realidade. O conjunto da EU tremerá mas permanecerá, porque todos os países europeus externos à zona euro, estão hoje à mercê de uma grave crise da sua divisa ou da sua economia, inclusive das duas simultaneamente. (Letónia nacionalizou o 2º maior banco, a Hungria pede ajuda ao FMI, a Polónia, Dinamarca e Suécia, pedem entrada na zona euro) .
Sem a Eurolândia as perspectivas de alguns países a curto/médio prazo são muito sombrias. Por outro lado o Euro é a única divisa a que tentam aceder em número crescente estados inicialmente reticentes ( Islândia, Dinamarca) ou outros como a (Polónia, Turquia e Hungria)
Sinal dos tempos, o Financial Times começou a estabelecer uma lista dos activos materiais do governo federal dos USA: bases militares, parques naturais, edifícios públicos, museus, tudo foi avaliado para chegar a um aporte de 1 500 mil milhões de USD., que é mais ou menos o aporte necessário para cobrir o deficit pressuposto e provável para 2009. O ano de 2008 foi o rastilho, o de 2009 o das consequências.
Futurologia? Pois...

11 Comments:

Blogger Toupeira said...

Reparem no debate na GB sobre a quebra da libra e sobre a discussão sobre impostos, basta ler o Guardian.
Há muito pouca fleuma...

terça-feira, novembro 18, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Na blogosfera encontrei este comentário, que exprime também a minha opinião: «O resto do texto é uma glosa desta ideia. Repare-se que eles podiam ser arqueo-cons, neo-liberais e ultra-milistaristas ou mesmo ultra-cons, neo-militaristas e arqueo-liberais sem qualquer prejuízo do estilo. É uma forma de “pensamento”. Um “pensamento” a que talvez pudéssemos dar o nome de ultra-tosco, arqueo-pedestre e neo-lítico.»

terça-feira, novembro 18, 2008  
Anonymous Anónimo said...

A necessidade de uma regulamentação para os jogos online na Europa vai-se firmando com clareza. O “laxismo” da Comissão Europeia no que concerne a uma séria iniciativa legislativa combina-se com a fúria com que desencadeia processos de infracção contra numerosos Estados-membros. O Parlamento Europeu decide avançar parcialmente sobre o assunto, com o relatório Schaldemose na área do mercado interno e protecção dos consumidores, mais centrado sobre a vulnerabilidade de determinados tipos de jogadores online. O sector agita-se, o que é legítimo. Os cidadãos responsáveis vão-se interessando mais, como é normal.

terça-feira, novembro 18, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Não é a estrutura de consumo que está a puxar ,mas talvez a exportação.Mas, como os nosso clientes estão mal,a "conta" vem nos próximos trimestres.Mas, não é uma guerra.Continuará a haver clientes e capacidade produtiva.E Natal, é quando o cliente quiser..

terça-feira, novembro 18, 2008  
Anonymous Anónimo said...

É a historia do copo meio cheio ou meio vazio: cada um descreve a situação como quer. Mas afinal qual é a diferença entre crescer 0,1, 0,0 ou -0,3%? Atenção que não estamos a falar de percentagens mas de permilagens: 1 por mil, -3 por mil, etc.

terça-feira, novembro 18, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Curioso que a propaganda ao governo surja no dia em que o FT considera o Ministro das Finanças português o pior do ranking de 19 países europeus, mas tb ninguém liga a isso, para quê ver que o rei vai nú....

terça-feira, novembro 18, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Os números do INE até podem estar próximos da realidade,mas...não me esqueço de, recentemente, com base nos dados triimestrais do INE, se apontar o acréscimo do Investimento como a causa fundamental do crescimento do PIB, num 4º trimestre. Mas, depois, descrevia-se o Investimento como "a aquisição de aviões por uma companhia aérea". Só que parece esquecer-se o facto dos aviões terem sido todos importados, e com muito fraca contribuição do/no VAB/PIB português. Tinham sido a Exportação (apesar da sua forte cmponente importada), mais uma vez, quem tinha contribuido para o acréscimo do PIB. Mas como era "linha oficiosa" que a Procura Interna é "que estava a dar", sobretudo na vertente Investimento, houve que criar uma ilusória sensação de auto-conforto..

terça-feira, novembro 18, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Não sou tão pessimista,porque pergunto:embora tenha havido uma gigantesca contracção de activos financeiros,os tipos que têm a massa onde vão pô-la a render ? E bem,atendendo às baixas taxas de referencia .Vão aproveitar para alijar trabalhadores,já se vê ,mas existem meios de produçaõ e mercados.O G20-alguem já viu uma cimeira alterar o rumo da economia?O simpático Bush,de saída,o hiperactivo Sarkozy e o Barroso a renovar tacho.Os poderosos ignorantes do sistema ,agora global.

terça-feira, novembro 18, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Convém não estragar o Natal à rapaziada. Agora essa novidade das recessões "técnicas" é mesmo para adormecer o contribuinte. Que sejam recessões tipo " V ", em " U " ou em " L " serão sempre períodos de vacas magras só não atingindo ainda os jogadores do Benfica & Cª. Por cá, estamos safos graças aos camaradas Constâncio e Manel Pinho ! Estamos no Paraíso ...

terça-feira, novembro 18, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Recessão m "V", em "U", em "X" ou em "Y", ou mesmo em "Z", deixemo-nos de cantigas, de tretas e de reinventar a pólvora. Esta crise vai até 2013, como escreveu Sérgio Domingues já em 2003 no seu livro "1929/2037 - Os Ciclos Económicos...". Ninguém acreditou nas suas previsões para 2008. Eram inacreditáveis ainda mesmo em 2007, mas elas aí estão exactamente como ele as descreveu (previu). Preparem-se para dias muito piores do que os maus dias que estamos a viver! Não acreditem nos políticos que vos mentem a toda a hora. E se virem aparecer por aí umas ditadurazitas destinadas "apenas a manter a ordem" façam como a toupeira (saudoso Zeca!!!): escavem, escondam-se deles e sublevem-se mesmo que lá por baixo só se comam raízes. Os vietnamitas derrotaram o tio sam escavando no subsolo e comendo uma tijela de arroz por dia... Não estaremos muito longe disso. "Eles" que se reunem a toda a hora e instante sabem bem porquê: não fazem a mínima ideia de como se vão sair desta!!!

terça-feira, novembro 18, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Claro que não é nesta cimeira nem em mais duas ou três que o problema se resolve. Já li o comentário do anónimo e deixem-me esclarecer uma coisa. Onde é que os tipos da massa vão pô-la a render? Já repararam que a maior parte dessa "massa" era virtual e já se evaporou? Perguntem aos Berardos, Belmiros, etc. Mas voltemos à crise e a Portugal. Força com as obras públicas, calem-me esses neolibs que andam a dar cabo do país. Estreitem os laços económicos com Brasil e Angola. O mundo não é só a UE. E ajudem as famílias mais desfavorecidas. Estejam atentos. A crise ha-de passar e vamos a ver se, quando se iniciar a recuperação, estamos nas primeiras linhas da grelha de partida (e não em 14º ou 15ª)

terça-feira, novembro 18, 2008  

Enviar um comentário

<< Home

Divulgue o seu blog!