terça-feira, novembro 25, 2008

Exemplos

"Em Portugal, a notícia da detenção de um banqueiro ou equiparado é mais rara que a notícia de um homem que tenha mordido um cão.

Pátria do mexilhão e país de suspeitos do costume, Portugal tem uma justiça que não é cega de todo e que se administra por amostragens.

Por exemplo: o regime de 48 anos derrubado em 1974 rendeu um único corrupto e os actos de corrupção julgados e punidos foram a compra de uns artigos de vestuário e uma oferta de flores à conta da RTP. Já em democracia, a criminalidade empresarial e fiscal foi personificada no empresário da Oliva, condenado por abuso de confiança fiscal por ter retido o IVA alegadamente para pagar salários em atraso. No poder local também vai havendo uma ou outra excepção para confirmar a regra geral da impunidade, consagrada aliás através da eleição de candidatos-arguidos. E a criminalidade no mundo do futebol foi investigada nos anos 90 e deu a condenação de um árbitro reformado. Mais tarde, Vale e Azevedo pagou por algumas das vigarices que fez e ficou como exemplo de que a justiça não teme o poder da bola. Com o Apito Dourado os exemplos ainda foram mais pífios: houve castigos mas é como se não tivesse havido, a não ser a amostra exemplar do Boavista que desceu de divisão. E na Operação Furacão, antes mesmo que alterações na legislação tramassem a investigação, a acção penal deixou-se substituir pela regularização da contabilidade pública.

De maneira que reina natural alvoroço com a notícia da detenção de um ex-banqueiro e ex-secretário de Estado, indiciado por branqueamento de capitais, burla e fraude fiscal. Que excitação! Claro que muita gente admite que o mais provável, nos termos das probabilidades, é que o caso não dê em nada. A menos que o caso deste ex-banqueiro fique para servir de exemplo e deixar outros casos em paz.
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João Paulo Guerra

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