Greenspan
"A evolução recente do sistema financeiro norte-americano está fortemente ligada ao nome do presidente da Fed de 1987 a 2006. Para o bem e, segundo alguns, para o mal. Mas será que a responsabilidade maior da crise financeira, iniciada nos EUA, lhe pode ser atribuída? O próprio Greenspan veio recentemente dizer que se tinha enganado na avaliação do funcionamento dos mercados financeiros. Em que ficamos?
Quando na interpretação de um fenómeno complexo, de índole económica ou não, encontramos como causa principal a acção de um herói ou de um vilão, de uma coisa podemos estar certos, independentemente do que o protagonista diz: estamos enganados. Pelo menos quando se trata de uma democracia moderna. A explicação será sempre mais complexa.
Olhemos brevemente para trás. O fim do sistema de Bretton Woods, em 1971, e a crise do petróleo de 1973 tiveram impactos importantes na economia internacional e nas suas finanças. Seguiu-se uma década de recessão e de proteccionismo a nível internacional.
As vitórias de Thatcher e de Reagan, respectivamente em 1979 e 1981, abriram as portas para a busca de soluções para ultrapassar a crise. A entrada em cena de Greenspan está associada a essa mudança.
O que fez ele? Começou por abandonar os velhos modelos (isso mesmo, os velhos modelos matemáticos) de gestão do dólar e das balanças externas norte-americanas, e seguir mecanismos de avaliação e controle menos rígidos. Por outras palavras, libertou os mercados de velhos mecanismos de controlo, para que encontrassem novos equilíbrios.
O termo "desregulação" não capta suficientemente bem o que fez. Foi mais do que isso.
Durante largos anos, Greenspan foi considerado um herói, pois os mercados cresceram, tornaram-se mais complexos e eficientes, e espalharam-se por partes do mundo nunca dantes imaginadas. Tudo isso oleou um dos períodos mais importantes do desenvolvimento da economia internacional.
A Europa fez algo de parecido. Liderada primeiro por Thatcher e seguida pelo socialista tornado realista, Miterrand, construiu aquilo que seria o mercado único, com o tratado de Maastricht, em 1992, a que se seguiu o Euro, em 1999 (embora este a contragosto de Thatcher).
Também deste lado do Atlântico o sistema financeiro ficou mais flexível. Então, teremos de juntar Thatcher, Miterrand e, já agora, Delors, a Greenspan no cadafalso,?
Não. Temos de ir mais longe e rapidamente chegamos à globalização como principal fonte do que aconteceu.
É provável que a principal fonte dos problemas tenha sido o extraordinário aumento de liquidez à escala internacional decorrente do "excesso" de poupança de países como a China e dos exportadores de petróleo.
Uma hipótese é que os sistemas financeiros internacionais mais flexíveis e menos regulados tiveram de absorver quantidades extraordinárias de capitais, às quais o sistema financeiro internacional não soube dar resposta satisfatória.
Durante Bretton Woods (1944-1971) os governos tinham um maior controlo sobre os mercados de capitais, impondo uma gestão prudente. Nesses anos, o mundo cresceu e muito e não houve grandes problemas. Depois de 1973, na Europa e nos EUA, os mesmos mercados ficaram mais presos e a economia internacional cresceu menos. Seguiram-se as liberalizações da era Greenspan e os mercados ficaram menos controlados. Foi nesse ambiente mais sensível que caíram as somas imensas de fundos vindos de países emergentes.
Uma parte importante desta história, nos EUA, está também associada às necessidades de financiamento provocadas pela guerra do Iraque. Foram elas que abriram as portas aos investimentos externos no país e, depois, aos excessos nos empréstimos desses dinheiros à economia "real". Algo de idêntico ao que aconteceu com a guerra do Vietname, que ajudou à queda de Bretton Woods.
É importante saber qual a origem da actual crise e saber que ela não pode ser atribuída a um homem e ao quadro legal que ele impôs. Se não percebermos a verdadeira essência da crise, mais dificilmente podemos perceber as soluções. E perceber as soluções é importante, uma vez elas têm de ser aceites pela opinião pública. Como aliás estão a ser.
Porventura a crise não poderia ter sido evitada. Mas a crise pode agora ser aproveitada para um maior desenvolvimento dos mecanismos de coordenação governamental, a nível internacional. Isso não quer dizer mais Estado, quer apenas dizer mais Governo. Temos de começar a perceber que essas duas coisas não só são diferentes, como são eventualmente substitutas."
Pedro Lains
Quando na interpretação de um fenómeno complexo, de índole económica ou não, encontramos como causa principal a acção de um herói ou de um vilão, de uma coisa podemos estar certos, independentemente do que o protagonista diz: estamos enganados. Pelo menos quando se trata de uma democracia moderna. A explicação será sempre mais complexa.
Olhemos brevemente para trás. O fim do sistema de Bretton Woods, em 1971, e a crise do petróleo de 1973 tiveram impactos importantes na economia internacional e nas suas finanças. Seguiu-se uma década de recessão e de proteccionismo a nível internacional.
As vitórias de Thatcher e de Reagan, respectivamente em 1979 e 1981, abriram as portas para a busca de soluções para ultrapassar a crise. A entrada em cena de Greenspan está associada a essa mudança.
O que fez ele? Começou por abandonar os velhos modelos (isso mesmo, os velhos modelos matemáticos) de gestão do dólar e das balanças externas norte-americanas, e seguir mecanismos de avaliação e controle menos rígidos. Por outras palavras, libertou os mercados de velhos mecanismos de controlo, para que encontrassem novos equilíbrios.
O termo "desregulação" não capta suficientemente bem o que fez. Foi mais do que isso.
Durante largos anos, Greenspan foi considerado um herói, pois os mercados cresceram, tornaram-se mais complexos e eficientes, e espalharam-se por partes do mundo nunca dantes imaginadas. Tudo isso oleou um dos períodos mais importantes do desenvolvimento da economia internacional.
A Europa fez algo de parecido. Liderada primeiro por Thatcher e seguida pelo socialista tornado realista, Miterrand, construiu aquilo que seria o mercado único, com o tratado de Maastricht, em 1992, a que se seguiu o Euro, em 1999 (embora este a contragosto de Thatcher).
Também deste lado do Atlântico o sistema financeiro ficou mais flexível. Então, teremos de juntar Thatcher, Miterrand e, já agora, Delors, a Greenspan no cadafalso,?
Não. Temos de ir mais longe e rapidamente chegamos à globalização como principal fonte do que aconteceu.
É provável que a principal fonte dos problemas tenha sido o extraordinário aumento de liquidez à escala internacional decorrente do "excesso" de poupança de países como a China e dos exportadores de petróleo.
Uma hipótese é que os sistemas financeiros internacionais mais flexíveis e menos regulados tiveram de absorver quantidades extraordinárias de capitais, às quais o sistema financeiro internacional não soube dar resposta satisfatória.
Durante Bretton Woods (1944-1971) os governos tinham um maior controlo sobre os mercados de capitais, impondo uma gestão prudente. Nesses anos, o mundo cresceu e muito e não houve grandes problemas. Depois de 1973, na Europa e nos EUA, os mesmos mercados ficaram mais presos e a economia internacional cresceu menos. Seguiram-se as liberalizações da era Greenspan e os mercados ficaram menos controlados. Foi nesse ambiente mais sensível que caíram as somas imensas de fundos vindos de países emergentes.
Uma parte importante desta história, nos EUA, está também associada às necessidades de financiamento provocadas pela guerra do Iraque. Foram elas que abriram as portas aos investimentos externos no país e, depois, aos excessos nos empréstimos desses dinheiros à economia "real". Algo de idêntico ao que aconteceu com a guerra do Vietname, que ajudou à queda de Bretton Woods.
É importante saber qual a origem da actual crise e saber que ela não pode ser atribuída a um homem e ao quadro legal que ele impôs. Se não percebermos a verdadeira essência da crise, mais dificilmente podemos perceber as soluções. E perceber as soluções é importante, uma vez elas têm de ser aceites pela opinião pública. Como aliás estão a ser.
Porventura a crise não poderia ter sido evitada. Mas a crise pode agora ser aproveitada para um maior desenvolvimento dos mecanismos de coordenação governamental, a nível internacional. Isso não quer dizer mais Estado, quer apenas dizer mais Governo. Temos de começar a perceber que essas duas coisas não só são diferentes, como são eventualmente substitutas."
Pedro Lains

1 Comments:
O que aconteceu?
Explique porque acabou Bretton Woods.
Porque os americanos colocaram as rotativas a funcionar para criar USD sem valor e quando lhes foram pedidos valores em ouro em troca de USD, eles não tinham, estavam com uma situação de banca rota.
Depois inventaram o petrodolar.
Depois de executarem Sadam, porque de facto o executaram para o castigar, não por ser um ditador, mas porque começou a vender o petróleo em Euros.
A causa desta crise tem exactamente a mesma razão, apesar das rotativas em hiperaquecimento, ou seja dinheiro falso, os USA têm problemas internos gravíssimos e estão em dois atoleiros.
Wolf o judeu americano que melhor encarnou o objectivo utópico de moldar o mundo e de pensar que era o fim da história, criando um mundo à imagem dos USA esqueceu que o mundo tinha mudado e que afinal o petróleo iraquiano não iria ser suficiente para financiar a guerra no Iraque.
Porquê?
Porque, acabaram com um estado, destruiram-no, criando uma situação insustentável.
Depois era impossível recriar a partir do caos e de líderes feitos à medida do pensamento dos neoconservadores, um novo estado, porque permitiram que no norte os curdos se apoderassem de parte do território e depois contra toda a retórica, deixaram os iranianos entrar para apoiar os seus irmãos xiitas.
O erro portanto foi destruir um estado laico que funcionava.
No Vietname a situação de derrota foi diferente, deixaram um estado, no norte que funcionava.
Se a primeira guerra foi pelo petróleo, a segunda foi pelo petróleo e pela loucura do lóbi sionista americano.
Para além dos massacres e dos crimes de guerra perpetrados por organizações em outsourcing, em que os accionistas são figuras gradas do regime da família Bush, o estado iraquiano, não era um estado religioso, nem com armas de destruição em massa, nem um estado terrorista.
O exército dos USA e os seus oficiais passaram a não ter independência para actuar, e, pior, actuam para limpar a porcaria que os assassinos dos exécitos mercenários pagos com dinheiro dos contribuinte americanos por lá vão fazendo desde o início, com a pilhagem de tudo, como faziam os antigos cruzados. Os oficiais americanos do exército mais poderoso do mundo estão a ser humilhados e irão fazer pagar a factura.
Portanto as causas das crises foram as mesmas.
Mas o autor do artigo não se quis esticar.
Trata-se de moeda sem valor fiduciário a causa e os fanceses sabem do que falo, não Sarkas, porque esse não é francês.
O erro, se assim lhe quiserem chamar, foi o mesmo que no Afeganistão, quando da invasão russa, apoiar os talibãs, depois já não interessava, porque eram escolas de fundamentalismo!??!!.
Digamos que esta é a versão de filosofia política, a outra tem contornos mais sujos, ou seja a guerra do ópio, substância controlada a nível mundial por uma associação que não digo onde fica, mas muito séria, como todas as protitutas sérias.
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