segunda-feira, novembro 03, 2008

O CIDADÃO QUE GOSTA DE INCOMODAR

"Contado não se acredita. Metade da humanidade e Manuel Alegre vaguearam anos em busca da esquerda e afinal não custava nada encontrá-la. Bastou um escritor chileno, Luís Sepúlveda, passar por Lisboa e explicar tudo em entrevista ao DN: "Tenho uma vinculação com a vida que é profundamente ética - por isso sou de esquerda, se não tivesse ética seria um cidadão de direita."
O tal Sepúlveda disse outras coisas giras ("sou um cidadão que gosta de incomodar o poder"; "que diabo, há que resistir"), mas o importante foi ter-nos informado do paradeiro da esquerda, afinal óbvio: onde estiver a rapaziada movida pela ética, generosidade, princípios e etc. está a esquerda. O resto, leia-se a ralé imersa na maldade e na baixeza, arruma-se à direita. Para Manuel Alegre e para meio mundo, terminou um dilema. Para mim, iniciou-se uma consumição. É que se a tese favorece pessoas de bem, arrasa quem, como eu, não partilha os respectivos valores.

E não partilha porquê? O cidadão Sepúlveda, ocupadíssimo a promover a sua pessoa e ditaduras diversas, não explica. A falta de ética será genética, doença, feitio, cisma? É escolha ou fatalidade? Há cura? E se há, dói? Qual o grau de resistência a exibir? De que maneira se distingue o poder a incomodar do poder a servir? Quantos modelos de ética semelhantes a Fidel convém venerar? Quantos romances com títulos "líricos" género O Velho que Lia Cartas de Amor ou A Osga que Sonhou Engolir o Mar das Caraíbas é essencial ler/escrever? Quanta bondade cabe num coração de esquerda? Quanto custam as quotas do PCP?

Demasiadas dúvidas, poucos esclarecimentos. Em vez de andar por aí a dar autógrafos, o cidadão Sepúlveda podia dar lições. De moral. Ou de ética. Se todos aprendêssemos com ele, talvez não fôssemos melhores cidadãos, mas seríamos de certeza melhores comediantes
. "

Alberto Gonçalves

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