O Polvo
Hoje esteve um dia solarengo, com vento de leste fraco.
Os dias vão secos e seguem-se a outros não menos secos.
Os dias vão secos e seguem-se a outros não menos secos.
A atmosfera apesar deste sol, está carregada de poeiras e os humanos do sítio, já nem tristeza demonstram, estão como que tomados por uma doença que os faz sorrir sem razão ou irritar-se por coisas triviais.
Como cães esfomeados atiram-se aos seus iguais e não mordem a mão do dono que os abandonou, como deveriam.
A vida ao que parece tornou-os seres vencidos, os gestos são de ocasião e as intimidades toldadas pelas desconfianças que só uma sociedade doente pode provocar.
Os laços que deveriam fazer funcionar o formigueiro humano quebraram-se.
Como um enxame de abelhas, sem regras a sociedade degrada-se, a rainha não cumpre o seu papel, as obreiras que deveriam procurar o néctar perdem-se e desorientam-se vendo o seu mundo desabar, e, todos assim, perderam a função, incluso as guardas e as que administram a justiça contra as intrusões de todo o tipo, fazem o que lhes não compete, como se uma força exterior as tivesse corrompido.
Este é o retrato de uma sociedade dominada por gente sem escrúpulos que por pouco se vende, que não cumpre as suas obrigações, apenas existe para servir um grupo que funciona como os braços de um polvo, em que o corpo é a corrupta sociedade dos oligarcas da plutocracia, não interessando como conseguiram chegar onde chegaram, porque os vários braços entendem-se na administração dos poderes da lei, que apenas é um arremedo de justiça, nas mãos dos fazedores de leis, que tem tantos buracos, como uma rede podre e mal colocada, apanhando apenas o peixe miúdo, para fazer de conta que existe, encenando julgamentos nos casos de peixe graúdo que se arrastam, até que a mesma já podre caia no fundo deste mar de lama.
Os braços deste polvo são os suportes de um regime a que chamam de forma despudorada de democracia, e tem tudo, tem governo, tem o chefe supremo, comissões de acompanhamento de funcionamento, altas autoridades contra tudo e todos, tem blocos centrais, e colaterais, cachorros de fila e de pena e um polvo, que, como sabem, deita sempre aquele sarro que se cola a tudo e que só morre se lhe virarem a cabeça ao contrário ou lhe furarem a cabeça junto aos olhos.
Este polvo domina tudo.
O rebanho, esse, submete-se, estupidificado, pelas coisas que lhes apresentam através da nova forma de condicionamento e de lavagem do cérebro, nas escolas, e através de toda a forma de comunicação que lhes entra pelas casas dentro, como um mau vinho ou uma droga alucinogénea, aguardando na sua debilidade mental que as mentiras que todos os dias lhes dizem se tornem verdade e que o pântano em que transformaram o sítio venha a ser a terra prometida.
Pensam que um papel com uma cruz lhes irá mudar as vidas miseráveis de quatro em quatro anos, e de quatro em quatro anos sofrem esta miragem, alimentada pelo polvo que engorda, sendo já um monstro, sim, melhor dizendo, o monstruoso regime dos silêncios, dos perdões, das quadrilhas organizadas, do nepotismo parasitário, que não será possível travar.
A vida ao que parece tornou-os seres vencidos, os gestos são de ocasião e as intimidades toldadas pelas desconfianças que só uma sociedade doente pode provocar.
Os laços que deveriam fazer funcionar o formigueiro humano quebraram-se.
Como um enxame de abelhas, sem regras a sociedade degrada-se, a rainha não cumpre o seu papel, as obreiras que deveriam procurar o néctar perdem-se e desorientam-se vendo o seu mundo desabar, e, todos assim, perderam a função, incluso as guardas e as que administram a justiça contra as intrusões de todo o tipo, fazem o que lhes não compete, como se uma força exterior as tivesse corrompido.
Este é o retrato de uma sociedade dominada por gente sem escrúpulos que por pouco se vende, que não cumpre as suas obrigações, apenas existe para servir um grupo que funciona como os braços de um polvo, em que o corpo é a corrupta sociedade dos oligarcas da plutocracia, não interessando como conseguiram chegar onde chegaram, porque os vários braços entendem-se na administração dos poderes da lei, que apenas é um arremedo de justiça, nas mãos dos fazedores de leis, que tem tantos buracos, como uma rede podre e mal colocada, apanhando apenas o peixe miúdo, para fazer de conta que existe, encenando julgamentos nos casos de peixe graúdo que se arrastam, até que a mesma já podre caia no fundo deste mar de lama.
Os braços deste polvo são os suportes de um regime a que chamam de forma despudorada de democracia, e tem tudo, tem governo, tem o chefe supremo, comissões de acompanhamento de funcionamento, altas autoridades contra tudo e todos, tem blocos centrais, e colaterais, cachorros de fila e de pena e um polvo, que, como sabem, deita sempre aquele sarro que se cola a tudo e que só morre se lhe virarem a cabeça ao contrário ou lhe furarem a cabeça junto aos olhos.
Este polvo domina tudo.
O rebanho, esse, submete-se, estupidificado, pelas coisas que lhes apresentam através da nova forma de condicionamento e de lavagem do cérebro, nas escolas, e através de toda a forma de comunicação que lhes entra pelas casas dentro, como um mau vinho ou uma droga alucinogénea, aguardando na sua debilidade mental que as mentiras que todos os dias lhes dizem se tornem verdade e que o pântano em que transformaram o sítio venha a ser a terra prometida.
Pensam que um papel com uma cruz lhes irá mudar as vidas miseráveis de quatro em quatro anos, e de quatro em quatro anos sofrem esta miragem, alimentada pelo polvo que engorda, sendo já um monstro, sim, melhor dizendo, o monstruoso regime dos silêncios, dos perdões, das quadrilhas organizadas, do nepotismo parasitário, que não será possível travar.
1 Comments:
O julgamento de Fátima Felgueiras veio provar que, em Portugal, os cidadãos devem ter confiança na Justiça. Sobretudo os cidadãos como Fátima Felgueiras. Em princípio, não há nada que os apanhe. Ainda assim, a sentença é um monumental enxovalho para a ré, e ridiculariza, de modo bastante cruel, a sua conduta. Como? No acórdão, o juiz demonstra a Fátima Felgueiras que estava errada: não valia a pena ter fugido para o Brasil. Foi dinheiro que a presidente da Câmara desbaratou. Ainda por cima, Fátima Felgueiras terá usado, na fuga, dinheiro que, de facto, lhe pertencia, para variar – o que é refrescante. Hoje, não restam dúvidas de que se tratou de uma medida insensata. Em vez de procurar um exílio de cerca de dois anos no Brasil, Fátima Felgueiras poderia ter continuado tranquilamente na sua terra, a presidir à autarquia que dirige. O máximo que lhe acontecia era uma pena suspensa. Não faz sentido andar a fugir por causa de crimes que não são punidos com pena efectiva. E é uma vergonha que políticos que ocupam cargos de alguma relevância desconheçam a lei a este ponto. O estudo das leis permite ao autarca consciente e responsável praticar apenas os crimes que não dão cadeia, e evita fugas tão trabalhosas como desnecessárias.
Na verdade, a pena suspensa é a versão judicial daqueles pais que dizem: «Carlos Miguel, da próxima vez que fizeres isso levas uma palmada», e depois continuam a repetir a mesma ameaça sempre que o Carlos Miguel pratica tropelia igual à primeira, ou pior. O Carlos Miguel, que não é parvo, sabe perfeitamente que aquela palmada está suspensa para sempre. E o mais provável é que, quando crescer, o Carlos Miguel faça carreira como autarca. Dos bons.
Para sermos rigorosos, a sentença que puniu Fátima Felgueiras está, toda ela, suspensa. É certo que são três anos e três meses de pena suspensa e perda do mandato de presidente. No entanto, esta última pena, sendo efectiva, acaba por estar também suspensa. Enquanto Fátima Felgueiras recorre e o tribunal aprecia o recurso, o presente mandato chega ao fim. Quando o tribunal decidir, o próximo mandato (que Fátima Felgueiras obterá, de certeza, e com maioria absoluta, nas próximas eleições) também terá terminado.
Parece claro que a razão pela qual não existe pena de morte em Portugal não tem a ver com pruridos morais, mas com problemas jurídicos. No nosso país, crimes graves podem ser punidos com pena suspensa. Seria uma questão de tempo até um tribunal português decretar uma sentença de condenação à morte por injecção letal suspensa. Nós não abolimos a pena de morte por amor à dignidade do ser humano. Foi por medo do ridículo.
Artigo de Ricardo Araujo Pereira
Enviar um comentário
<< Home