UM CINEMA PERTO DE SI
"Aprender o mundo pelos livros é uma maçada. Além de repletos de letrinhas, os livros pressupõem interpretação, comparação, contradição, às vezes irritação. Principalmente, pressupõem vagar, e vagar é o que não abunda por aí. Alternativas? As Colecções Philae, com as suas Histórias Universais em dezasseis medalhas, consultam-se com rapidez. Infelizmente, o âmbito das Colecções tende para épocas remotas, pouco susceptíveis de sustentar uma conversa.
A sorte é termos o cinema, que nos últimos anos se dedicou a cobrir a actualidade em tempo quase real. Duas horas numa sala de um shopping e eis-nos versados nas alterações climáticas, no Médio Oriente, nas traficâncias da CIA e na imaculada candura de Ernesto Guevara, dito o "Che".
Além de instantânea, a pedagogia cinematográfica tem a vantagem do sentido único. Visto que o establishment americano é o irredutível vilão, não há hipótese de os espectadores saírem desiludidos: mais do que explicar, os filmes confirmam aquilo que já toda a gente julga saber, o que é um descanso.
Mas se não se pode acusar o "irreverente" e "independente" cinema actual de perturbar as convicções das massas, pode-se acusá-lo de arrasar a verdade, característica que só por desleixo ou inércia aparece nos "documentários" de Michael Moore, para citar um exemplo. Ou nos biopics de Oliver Stone, para citar outro.
O Bush de W. e do sr. Stone, fora uns pós de "complexidade" moral para deleitar pasmados, corresponde na perfeição ao tonto que os media e o público construíram. Goste- -se ou não da personagem, o retrato é capaz de ser insuficiente enquanto análise histórica. É de certeza indigente enquanto cinema. Fitas políticas reclamam distância e talento. O sr. Stone carece de ambos, aliás como a generalidade dos seus colegas especializados na "denúncia". O que lhes sobra é bazófia e marketing, prova cabal de que quem nasceu para Citizen Kane não chega a Young Mr. Lincoln.
W., manifesto pedestre e "consensual", vale o que valem os desabafos de taxistas ou as opiniões não requisitadas dos correspondentes de "telejornal", ou seja, não vale os cinco euros do bilhete."
A sorte é termos o cinema, que nos últimos anos se dedicou a cobrir a actualidade em tempo quase real. Duas horas numa sala de um shopping e eis-nos versados nas alterações climáticas, no Médio Oriente, nas traficâncias da CIA e na imaculada candura de Ernesto Guevara, dito o "Che".
Além de instantânea, a pedagogia cinematográfica tem a vantagem do sentido único. Visto que o establishment americano é o irredutível vilão, não há hipótese de os espectadores saírem desiludidos: mais do que explicar, os filmes confirmam aquilo que já toda a gente julga saber, o que é um descanso.
Mas se não se pode acusar o "irreverente" e "independente" cinema actual de perturbar as convicções das massas, pode-se acusá-lo de arrasar a verdade, característica que só por desleixo ou inércia aparece nos "documentários" de Michael Moore, para citar um exemplo. Ou nos biopics de Oliver Stone, para citar outro.
O Bush de W. e do sr. Stone, fora uns pós de "complexidade" moral para deleitar pasmados, corresponde na perfeição ao tonto que os media e o público construíram. Goste- -se ou não da personagem, o retrato é capaz de ser insuficiente enquanto análise histórica. É de certeza indigente enquanto cinema. Fitas políticas reclamam distância e talento. O sr. Stone carece de ambos, aliás como a generalidade dos seus colegas especializados na "denúncia". O que lhes sobra é bazófia e marketing, prova cabal de que quem nasceu para Citizen Kane não chega a Young Mr. Lincoln.
W., manifesto pedestre e "consensual", vale o que valem os desabafos de taxistas ou as opiniões não requisitadas dos correspondentes de "telejornal", ou seja, não vale os cinco euros do bilhete."
Alberto Gonçalves

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