quarta-feira, novembro 12, 2008

UM DEBATE OU DOIS

"A decisão do tribunal de Felgueiras a propósito dos pecadilhos da autarca homónima provou, se preciso fosse, que os julgamentos das nossas "figuras públicas" são como a pior ficção televisiva, que deixa o povo ansioso durante meses em redor de um desfecho totalmente previsível: absolvição ou pena suspensa. Embora, dada a quantidade de processos do género, a monotonia das sentenças desafie a lei das probabilidades, não é impossível que os arguidos sejam de facto sempre inocentes ou quase. A questão passa pela inutilidade da coisa.

Valerá a pena consumir recursos numa trapalhada lenta, cara e que nunca termina na cadeia? Ainda que entre o início e o fim de cada processo se renove a ilusão de que a Justiça não dorme, a resposta é não. Em Portugal, mais valia que a Justiça dormisse. Acordada, funciona de tal forma que a dra. Felgueiras saiu triunfante, inocente e imaculada do tribunal que minutos antes a condenara a três anos por crimes diversos. Não admira. Enviada em liberdade e com uma perda de mandato revogável, a senhora não tem nada de que se arrepender, nem sequer do exílio brasileiro, que a expôs ao sol de Ipanema mas não a consequências penais. Com jeitinho, o único contributo do episódio felgueirense será para um vasto debate sobre a ilegitimidade da prisão preventiva. E outro sobre a legitimidade das fugas
."

Alberto Gonçalves

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