O risco de deflação
"Toda a gente admite agora que, a uma taxa de inflação da ordem dos 4-5% em 2008, deverá corresponder uma taxa de 1% ou menos em 2010.
Quando os americanos inventaram a ‘subprime’ e a seguir exportaram os produtos tóxicos para todo o mundo, provocando uma queda aparatosa no produto, a mensagem dos bancos centrais foi inequívoca: baixem-se as taxas de juro! Quando o dólar caiu, fazendo subir os preços do petróleo e levando a uma inflação incontrolável, a mensagem inverteu-se: subam-se as taxas de juro! Estava estabelecida a confusão. Com os EUA no centro da crise. Que fazer?
Assumindo que a crise viria a tornar-se global, o mais sensato seria que os bancos centrais se entendessem entre si, definindo uma estratégia comum. Mas não. A Reserva Federal americana, privilegiando o crescimento económico, baixou a sua taxa de referência de 5,25% para 1% em poucos meses; o Banco Central Europeu, privilegiando o controlo da inflação, manteve-se firmes nos 4%. E o Japão, que já estava na vizinhança de zero, continuou assim. A confusão aumentava.
Estávamos nós neste remanso quando os preços começaram a descer. E a tendência mantém-se. Primeiro o FMI, depois a Comissão Europeia, a seguir a OCDE – toda a gente admite agora que, a uma taxa de inflação da ordem dos 4-5% em 2008, deverá corresponder uma taxa de apenas 1% ou menos em 2010. Com o ‘target’ fixado à volta de 2%. Resultado: o perigo mudou de nome e passou a chamar-se deflação. A pergunta repete-se, agora num filme ao contrário: que fazer?
O exemplo de deflação mais emblemático que se conhece ocorreu no Japão. Estávamos em 1999 e, de repente, os preços caíram para valores negativos, assim se mantendo praticamente até hoje. Com as consequências previsíveis: se os preços baixam, adia-se tudo para “amanhã”, que é mais barato – e a queda do consumo arrasta a queda da produção, que arrasta nova queda de preços, e outra vez da produção… Este círculo vicioso haveria de levar o Japão a um dos períodos mais negros da sua história.
Perante o colapso económico, havia que procurar um antídoto. O Japão, como de costume, escolheu a política monetária: as taxas de juro foram reduzidas a 0% desde Outubro de 2001 até Maio de 2006. E a posterior subida para 0,5% não alterou grande coisa. Tudo em vão: o deflator do produto continuou negativo, empresas e particulares continuaram inertes, e o emprego inevitavelmente caiu. A crise viria a atirar o país para o saco onde já estavam os outros: a recessão.
Antes disto, e já em desespero de causa, o Japão ainda recorreu à política orçamental para tentar inverter o processo. A opção incidiu num vasto programa de investimentos públicos, supostamente capazes de aumentar o emprego e arrastar o produto. Mas também esta opção falhou: os investimentos viriam revelar-se inadequados, não estimulando a economia, e a aventura terminou num endividamento louco, que as autoridades japonesas estão a ter dificuldade em gerir.
Este exemplo japonês aconselha a que sejamos prudentes na abordagem da actual queda de preços. É verdade que a chamada ‘core inflation’ ainda está muito longe do nível zero. E a Europa e os Estados Unidos, ao menos desta vez, parecem sintonizados para uma estratégia comum. Mas as medidas que preconizam são em tudo análogas às que falharam no Japão: redução agressiva das taxas de juro e lançamento sem critério de investimentos públicos. O fiasco pode ser semelhante. "
Daniel Amaral
Quando os americanos inventaram a ‘subprime’ e a seguir exportaram os produtos tóxicos para todo o mundo, provocando uma queda aparatosa no produto, a mensagem dos bancos centrais foi inequívoca: baixem-se as taxas de juro! Quando o dólar caiu, fazendo subir os preços do petróleo e levando a uma inflação incontrolável, a mensagem inverteu-se: subam-se as taxas de juro! Estava estabelecida a confusão. Com os EUA no centro da crise. Que fazer?
Assumindo que a crise viria a tornar-se global, o mais sensato seria que os bancos centrais se entendessem entre si, definindo uma estratégia comum. Mas não. A Reserva Federal americana, privilegiando o crescimento económico, baixou a sua taxa de referência de 5,25% para 1% em poucos meses; o Banco Central Europeu, privilegiando o controlo da inflação, manteve-se firmes nos 4%. E o Japão, que já estava na vizinhança de zero, continuou assim. A confusão aumentava.
Estávamos nós neste remanso quando os preços começaram a descer. E a tendência mantém-se. Primeiro o FMI, depois a Comissão Europeia, a seguir a OCDE – toda a gente admite agora que, a uma taxa de inflação da ordem dos 4-5% em 2008, deverá corresponder uma taxa de apenas 1% ou menos em 2010. Com o ‘target’ fixado à volta de 2%. Resultado: o perigo mudou de nome e passou a chamar-se deflação. A pergunta repete-se, agora num filme ao contrário: que fazer?
O exemplo de deflação mais emblemático que se conhece ocorreu no Japão. Estávamos em 1999 e, de repente, os preços caíram para valores negativos, assim se mantendo praticamente até hoje. Com as consequências previsíveis: se os preços baixam, adia-se tudo para “amanhã”, que é mais barato – e a queda do consumo arrasta a queda da produção, que arrasta nova queda de preços, e outra vez da produção… Este círculo vicioso haveria de levar o Japão a um dos períodos mais negros da sua história.
Perante o colapso económico, havia que procurar um antídoto. O Japão, como de costume, escolheu a política monetária: as taxas de juro foram reduzidas a 0% desde Outubro de 2001 até Maio de 2006. E a posterior subida para 0,5% não alterou grande coisa. Tudo em vão: o deflator do produto continuou negativo, empresas e particulares continuaram inertes, e o emprego inevitavelmente caiu. A crise viria a atirar o país para o saco onde já estavam os outros: a recessão.
Antes disto, e já em desespero de causa, o Japão ainda recorreu à política orçamental para tentar inverter o processo. A opção incidiu num vasto programa de investimentos públicos, supostamente capazes de aumentar o emprego e arrastar o produto. Mas também esta opção falhou: os investimentos viriam revelar-se inadequados, não estimulando a economia, e a aventura terminou num endividamento louco, que as autoridades japonesas estão a ter dificuldade em gerir.
Este exemplo japonês aconselha a que sejamos prudentes na abordagem da actual queda de preços. É verdade que a chamada ‘core inflation’ ainda está muito longe do nível zero. E a Europa e os Estados Unidos, ao menos desta vez, parecem sintonizados para uma estratégia comum. Mas as medidas que preconizam são em tudo análogas às que falharam no Japão: redução agressiva das taxas de juro e lançamento sem critério de investimentos públicos. O fiasco pode ser semelhante. "
Daniel Amaral
2 Comments:
O Japão não é igual aos outros países.
Em deflação está o Japão há anos.
Repare-se que não escreveu desemprego, mas emprego, aqui revela conhecer alguma coisa sobre a economia japonesa, no resto revela ignorãncia.
Na Europa seguir o mesmo modelo para todos os países é um disparate, já feito pelos neoliberais agora reciclados e a c... postas de pescada. Cada economia é diferente da outra, cada país tem de ter a sua solução.
Por cá a ignorância continua, como os cursos falsos e as formações para encher bolsos ás multinacionais.
Enfim, um desastre já há muito anunciado, muito antes de Setembro
É por causa da política comum que estamos na porcaria, senhor jornalista ou lá o que é.
Os USA t~em uma situação diferente da nossa e a Europa outra,mesmo dentro da Europa à a Zona Euro e a outra, a dos que preferiram não aderir ao Euro.
Vá lá estudar a lição, porque de ignorância já alguns começam a estar fartos e é se for só ignorância, por se é frete vem tarde.
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