terça-feira, janeiro 13, 2009

Estranha crise

"Segundo Constâncio, afinal os portugueses não vão apertar o cinto. Desde que se mantenha o emprego, não há crise!

O Sr. Governador do Banco de Portugal, o eminente Vítor Constâncio, anunciou que o País vai viver uma curiosa situação em 2009: vamos ter ao mesmo tempo uma recessão económica, com crescimento negativo do PNB, e um aumento do consumo privado das pessoas. Ou seja, acrescentou o Sr. Governador, as pessoas que mantiverem o emprego em 2009 podem manter os seus padrões de consumo e até, em certos casos, melhorá-los. Sejam, portanto, bem- -vindos à Crise Mais Estranha do Mundo, aquela em que, embora toda a gente diga que "está aí uma grande crise", na verdade, bem vistas as coisas, não está.

Se calhar, os portugueses julgavam que esta era uma crise como as antigas, dos anos 70, 80 e 90, que eram sinónimo de ‘austeridade’ e de ‘apertar o cinto’. Nada mais errado. Esta é uma Crise Falsa como Judas. Desde que se mantenha o emprego, não há crise! Apertar o cinto? O que o Sr. Governador diz é que, com jeitinho, podemos folgar o cinto, aliviar mais um buraquinho, ajeitar a barriga um ou mesmo dois centímetros! Como? É simples de explicar: a gasolina e o gasóleo vão descer, a taxa de juro também, e por causa disso a inflação também vai descer, portanto os portugueses vão ter uma folga mensal que podem usar a seu bel-prazer nos shoppings! Assim, diz o Sr. Governador e muito bem, o consumo vai aumentar. Ou seja, crise nem vê-la! Junte-se a isto o bom aumento que o Governo vai dar aos funcionários públicos, o maior desta década, e ainda uns pozinhos de gastos do Estado em obras, e está tudo conjugado para que os portugueses, apesar de estarem "oficialmente em crise", na verdade venham a passar por ela com uma perna às costas.

Mas então como se explica que o País não cresça, que o PNB esteja a descer? É fácil: a culpa é dos estrangeiros. Eles é que estão a faltar ao combinado. Como eles não compram os nossos produtos, as nossas exportações descem, e portanto o nosso crescimento é negativo, e entramos em recessão. Infelizmente, o Mundo é ainda mais forte que Portugal, e portanto quando os espanhóis, os ingleses e os alemães não compram as nossas confecções e sapataria a gente ainda se trama um bocado.

Em resumo: lá fora as coisas estão más mas cá dentro vai-se andando, como sempre. Os estrangeiros podem não comprar as nossas coisas mas nós por cá continuamos a comprar as coisas deles e as nossas. É, de facto, uma crise muito estranha
..."

Domingos Amaral

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