Autistas
"Enquanto a Direcção Geral de Saúde cria uma "comissão" dentro de um "grupo consultivo" a fim de investigar as infracções à lei do tabaco, a Plataforma Contra a Obesidade (?) elabora "menus da crise" que visam regulamentar a dieta dos pobres e o Sistema Nacional de Saúde planta um nutricionista em cada região do país "para responder às necessidades dos cidadãos", já ninguém estranha que os deputados da nação também se preocupem imenso com a saúde dos que os elegem, quer estes apreciem os cuidados, quer não.
Estranho é vê-los desmontar em público o processo de condicionamento das vidas alheias. Embora em artigo obscuro na imprensa regional (o semanário Notícias de Vila Real), o parlamentar socialista Jorge Almeida, autor da proposta que conduziu à limitação compulsiva do sal no pão, revelou há dias como se manipulam as massas, farináceas e populares. Louvemos-lhe então a sinceridade, visto que será complicado louvar-lhe mais alguma coisa.
O referido artigo, modestamente intitulado "Uma grande causa, uma marca para o futuro", começa por avisar que o Estado não deve impor proibições aos comportamentos alimentares. Nos parágrafos seguintes, o dr. Almeida passa a descrever as inúmeras circunstâncias em que o Estado deve impor proibições aos comportamentos alimentares.
O pão, por exemplo, "não pode" ter o sal que, alegada ou realmente, vem tendo. E não pode porquê? Porque se o comermos "estamos a prejudicar o nosso organismo e a provocar doença" (sic). O meu organismo não é, precisamente, meu? Não importa, visto que o seu prejuízo é uma "factura" paga pela "comunidade". Quem diz? O dr. Almeida. E se eu discordar? Não adianta e, de qualquer modo, a discórdia é pouco provável: o dr. Almeida garante que se o teor do sal for reduzido "de forma que o consumidor não note, não proteste, se mantenha como bom consumidor", os valores exigidos por uma misteriosa Sociedade Portuguesa de Hipertensão serão alcançados sem barulho.
Eis a chave: o fundamental, portanto, é que, além de saudável, o consumidor permaneça manso. Há alguma ironia no facto de os deputados terem agora combinado deixar de utilizar a palavra "autista" nos insultos que trocam, de modo a não ofender os milhares de vítimas da doença. Certo é que não tencionam parar de chamar estúpido aos milhões que os elegem por inércia e acabam sujeitos aos seus desvairados caprichos. Com razão: ao contrário dos autistas, aparentemente os restantes eleitores nem reparam na ofensa. Muito agradecem-na. "
Alberto Gonçalves
Estranho é vê-los desmontar em público o processo de condicionamento das vidas alheias. Embora em artigo obscuro na imprensa regional (o semanário Notícias de Vila Real), o parlamentar socialista Jorge Almeida, autor da proposta que conduziu à limitação compulsiva do sal no pão, revelou há dias como se manipulam as massas, farináceas e populares. Louvemos-lhe então a sinceridade, visto que será complicado louvar-lhe mais alguma coisa.
O referido artigo, modestamente intitulado "Uma grande causa, uma marca para o futuro", começa por avisar que o Estado não deve impor proibições aos comportamentos alimentares. Nos parágrafos seguintes, o dr. Almeida passa a descrever as inúmeras circunstâncias em que o Estado deve impor proibições aos comportamentos alimentares.
O pão, por exemplo, "não pode" ter o sal que, alegada ou realmente, vem tendo. E não pode porquê? Porque se o comermos "estamos a prejudicar o nosso organismo e a provocar doença" (sic). O meu organismo não é, precisamente, meu? Não importa, visto que o seu prejuízo é uma "factura" paga pela "comunidade". Quem diz? O dr. Almeida. E se eu discordar? Não adianta e, de qualquer modo, a discórdia é pouco provável: o dr. Almeida garante que se o teor do sal for reduzido "de forma que o consumidor não note, não proteste, se mantenha como bom consumidor", os valores exigidos por uma misteriosa Sociedade Portuguesa de Hipertensão serão alcançados sem barulho.
Eis a chave: o fundamental, portanto, é que, além de saudável, o consumidor permaneça manso. Há alguma ironia no facto de os deputados terem agora combinado deixar de utilizar a palavra "autista" nos insultos que trocam, de modo a não ofender os milhares de vítimas da doença. Certo é que não tencionam parar de chamar estúpido aos milhões que os elegem por inércia e acabam sujeitos aos seus desvairados caprichos. Com razão: ao contrário dos autistas, aparentemente os restantes eleitores nem reparam na ofensa. Muito agradecem-na. "
Alberto Gonçalves
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home