sábado, abril 04, 2009

A cimeira da mentira e da indecência dos mordomos dos donos do mundo

A cimeira G20, não pariu um rato, pariu uma ratazana falciosa

Na passada quarta-feira, 24 horas antes do início formal da cimeira dos 20 maiores países industrializados e emergentes do mundo (G20), arriscámos a previsão de que a montanha iria parir um rato. Enganámo-nos. Pariu uma ratazana de falácias para enganar os incautos, num cenário idílico de unidades e consensos inexistentes, com números enganadores.
O comunicado final da cúpula das maiores economias do mundo, no essencial, quanto às novas conquistas elogiadas por Gordon Brown, Barack Obama, Nicolas Sarkozy e Angela Merkel, corroboradas com mais ou menos pudor por líderes dos países emergentes, diz o seguinte:
“Os acordos celebrados hoje visam triplicar os recursos do FMI para USD 750 mil milhões/bilhões (mm/bi), apoiar uma nova alocação de USD 250 mm/bi em Direitos Especiais de Saque [SDR, e inglês], bem como empréstimos adicionais de, pelo menos, USD 100 mm/bi pelos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento [MDB em inglês], assegurar USD 250 mm/bi em apoios a operações de apoio ao comércio e usar recursos adicionais, via venda de ouro pelo FMI, para conceder apoios financeiros aos países mais pobres, constituindo um programa adicional de USD 1.100 biliões [USD 1,1 trilhão] de apoio ao crescimento, emprego e à restauração do crédito na economia mundial”;
“Estamos a realizar uma expansão fiscal concertada e sem precedentes, que irá proteger ou criar milhões de empregos (…), que vai atingir USD 5.000 biliões/trilhões até ao final do próximo ano, aumentar a produção em 4% e acelerar a transição para uma economia verde”;
“(…) Os nossos bancos centrais vão manter políticas expansionistas, durante o tempo que fôr necessário, e usar todos os instrumentos de política monetária possíveis, incluindo não convencionais, em consonância com a estabilidade dos preços”;
“Estamos empenhados em realizar todas as acções exigidas para restaurar o fluxo normal de crédito através do sistema financeiro e assegurar a solidez de instituições sistemicamente importantes, excutando as políticas em sintonia com o quadro acordado pelo G20 para restauração dos empréstimos e reparação do sector financeiro”;
“No mês passado, o FMI estimou que o crescimento global, em termos reais, deverá ser retomado e crescerá acima dos 2%, até ao final de 2010. Confiamos que as acções acordadas hoje (…) irão acelerar o retorno às tendências de crescimento”;
Na declaração que integra o comunicado final, os líderes do G20 publicaram uma declaração intitulada “Reforçando o Sistema Financeiro” na qual são enumerados outros consensos a que chegaram:
Criação de uma comissão - Financial Stability Board (FSB) - que passa a agregar o anterior Financial Stability Forum (FSF), os 20 Estados-membros do G20, a União Europeia e a Espanha;
À FSB ficou cometida a tarefa de, em cooperação com o FMI, fornecer alertas de riscos financeiros ou macroeconómicos e as medidas correctivas;
Reformulação dos sistemas regulatórios;
Alargamento da regulação e a supervisão aos fundos de cobertura de riscos (hedge funds);
Novas regras sobre prémios e bónus a pagar pelas instituições financeiras aos quadros executivos, assentes em resultados, qualidade do desempenho e sustentabilidade dos esquemas retributivos;
“Prevenir” a excessiva alavancagem e exposição ao risco e exigir melhores rácios de capitais próprios aos agentes do sistema;
Combater “jurisdições não cooperantes”, incluindo paraísos fiscais. (…) Terminou a era do segredo bancário.”
Adoptar novos padrões de “alta qualidade” contabilística;
Alargar a regulação e fiscalização das agências de notação de risco de crédito - Credit Rating Agencies - impondo-lhes a adopção de boas práticas para “prevenir conflitos de interesses inaceitáveis.”

Descontando o facto de o texto ser omisso quanto à questão nuclear da crise - o que fazer com os bilionários activos tóxicos - é espantosa a manipulação dos números para entorpecimento da opinião pública.
A retórica, vaga e dúplice, faria corar de vergonha o inventor do canivete suíço.
Senão vejamos:
O montante de USD 5.000 biliões/trilhões é enganador pois, comparativamente a 2007, já inclui as novas dívidas públicas contraídas pelos governos desde 2008 até 2010;
Os anunciados USD 1.100 biliões (1,1 trilhão) são constituídos por diferentes parcelas já anteriormente publicitados;
Em Novembro e Março passados, o Japão e a União Europeia anunciaram ter disponibilizado respectivamente USD 100 mm/bi e USD 101 mm/bi para satisfazer as necessidades de capitalização de fundos próprios do FMI;
A China, no dia da cimeira, terá anunciado a sua disponibilidade para contribuir com mais USD 40 mm/bi, mas Pequim não confirmou nem desmentiu tal intenção;
Outros membros destacados - da Arábia Saudita, à Rússia, passando pela Índia, Brasil e EUA - quedaram-se por um ensurdecedor silêncio;
O referido comunicado final remete para Abril, data da reunião da Primavera do FMI, a questão de reforço dos fundos a alocar ao organismo multilateral pelos restantes países do G20;
Os USD 250 mm/bi em SDR´s – a unidade monetária do FMI resultante de um cabaz de quatro divisas (dólar, libra, euro e iéne) - resultará da criação artificial de moeda.
O processo, tecnicamente descrito pelos alquimistas financeiros como quantitative easing mais não é do que criar dinheiro electrónico sem qualquer valor fiduciário.
A diferença entre este dinheiro e as notas do Monopólio é nenhuma;

A parte de leão deste papel (44%) poderá ser consumida pelos países do G7 - EUA, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Japão e Canadá - em detrimento restantes 179 membros da organização, por força dos direitos de voto estatutariamente consagrados;

A Alemanha, que publicamente classificou a cimeira como “um sucesso”, não apenas foi incapaz de impor a sua vontade de impedir a “fabricação” de SDR’s e como falhou na imposição de regras mais apertadas para fiscalizar a utilização dos fundos do FMI pelos países beneficiários;

A fiabilidade dos números e cálculos fornecidos por Gordon Brown foram questionados por um vasto grupo de jornalistas e de analistas que consideram que o primeiro-ministro inglês é useiro e vezeiro em inflacionar contas politicamente convenientes;

De resto, o próprio comunicado atirou para os parágrafos finais a confissão de que, relativamente ao financiamento de operações de comércio internacional, do novo “dinheiro” que sairá magicamente dos terminais de computadores do FMI (USD 250 mm/bi) apenas entre 1,5% a 2% será destinado àquele fim;

O documento esclarece que o montante global anunciado não é mais do que uma manifestação de intenções sobre a aplicação daqueles recursos, durante os próximos dois anos;

Contas feitas, como referiu o insuspeito Financial Times, “em vez de USD 1.100 biliões, os novos compromissos ficam aquém de USD 100 mm/bi e a maior parte deles já estavam garantidos antes da cimeira do G20″.

O futuro próximo dirá o que realmente foi conseguido na cimeira de Londres em matéria de reformas e de estímulos à economia mundial.

Para já, não passou o teste do detector de mentiras.

MRA Alliance
Pedro Varanda de Castro, Consultor
O Pelicano
Apenas uma pequena previsão ou aposta:
Daqui a uma semana a bolsas vão voltar a cair, sexta feira se não for já na segunda feira.

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

queda ou forte retracção das bolsas na Europanregistou-se logo no dia seguinte à publicação do comunicado final do G20: FTSE (-2,31%); CAC 40 (-1.11%); DAX (+ 0,07%);

Tendência de queda deverá seguir-se nas bolsas asiáticas e americanas a partir de segunda feira.

A minha previsão aponta para um índice DOW na casa dos 6.000 pontos, ou menos, antes do Verão.

Se a manipulação dos mercados pelos bancos centrais e fundos de vários matizes continuar, a queda poderá acontecer apenas após a publicação dos resultados do terceiro trimestre de 2009.

domingo, abril 05, 2009  
Anonymous machado said...

Enquanto os comentadores e especialistas continuam empenhados na análise da recentíssima Cimeira do G20, em Londres, seria justo conceder um pouco de atenção ao trabalho de outros Fóruns que, não beneficiando de uma cobertura mediática tão ampla, têm sabido contribuir para clarificar o ambiente económico-financeiro.


Um desses Fóruns é a Comissão Económica para a América Latina – CEPAL. Criada em 1948 pelo Conselho Económico e Social da ONU, a CEPAL teve como objectivo fomentar a cooperação económica entre os seus membros, nomeadamente todos os países da América Latina e das Caraíbas e alguns outros que se lhe associaram, entre os quais Portugal. Começando por se empenhar nas questões da industrialização, a CEPAL transformou-se num centro de estudos de elevada qualidade, coordenado actualmente pela mexicana Alice Bárcena na sua qualidade de secretária executiva da organização.

Num estudo publicado há poucas semanas, intitulado ‘A reacção dos Governos da América Latina e das Caraíbas frente à crise internacional’, é feita uma análise global da situação económico-financeira da América Latina em que se comparam as propostas de políticas contracíclicas adoptadas por cada país da região. Vejamos como se adaptarão à Cimeira do G20

domingo, abril 05, 2009  
Anonymous daniel said...

Estes triliões veem dos IMPOSTOS dos cidadãos e vão parar directamente para os bolsos dos donos das grandes empresas.

domingo, abril 05, 2009  
Anonymous maria said...

Quem ja se esta a rir e a fazer "projectos" para o dinheiro, sao os banqueiros...(Alemanha)

domingo, abril 05, 2009  
Anonymous guida said...

Mais uns tantos milhares desviados para os bolsos de alguns e... o povo a ver navios

domingo, abril 05, 2009  
Anonymous Anónimo said...

Outro diafoi um dia de festival de valorizações. Quase tudo que era acção, subiu pelo mundo inteiro. Quase tudo, porque, a VIVO baixou ontem -1,64%, e nem em dia de festa, conseguiu participar. E o índice brasileiro BOVESPA subiu 4,19%. E o volume foi muito forte, na queda de ontem: quase quatro vezes mais que a média habitual da VIVO na Bolsa de São Paulo. Agora não dá para disfarçar mais: a VIVO está a ser despejada no mercado. O motivo, já aqui adiantei: a sua cotação está com um PER de 28, altissimo (30,50 de cotação actual/1,09 de Resultado por acção em 2008). Ora isso quer dizer que a perspectiva era que o Resultado por acção viesse a atingir no futuro uns 2,90 reais por acção, para dar um PER razoável de 10,5 (30,50/2,90=10,50). Mas com os dados de Fevereiro de 2009, das adesões liquidas de celulares no Brasil, o cenário mudou completamente. E, a avaliação da VIVO, na optica da participação de 31,7% da PT, que para o Banesto valia 2,09 mil M€ em Fevereiro de 2009, já só valerá hoje uns 1,5 mil M€ por se tratar dum bloco significativo (pois pela cotação do mercado já só vale 1,2 mil M€, à cotação de ontem de 30,50 reais) Ora, custe o que custar, a PT é a soma das suas partes. E esta confirmação, pela 2ª vez em menos de 15 dias, de muito forte venda da VIVO em baixa, tem um efeito imediato na PT: vai haver sell-off na PT a qualquer momento. A cotação da PT está sem sustentação, ao actual nível, ainda mais porque pelo meu target de 4,234 €, anterior a esta crise na cotação da VIVO, já era de altíssimo risco. Na PT não dá para disfarçar mais: vai haver sell-off! Preparem-se, pois no mundo dos negócios, não há espaço para falsas ilusões!

domingo, abril 05, 2009  
Anonymous Anónimo said...

PT: VIVO falhou ontem rallie afastando-se -5,83 % do BOVESPA (VIVO -1,64%, BOVESPA +4,19%); PT, pela 2ª vez em 15 dias, corre risco sério de sell-off. Madrid sobe 0,24%, Telefónica -1,56%, e VIVO representa apenas 3% do EBITDA (PT mais de 30%)------- Ontem foi um dia de festival de valorizações. Quase tudo que era acção, subiu pelo mundo inteiro. Quase tudo, porque, a VIVO baixou ontem -1,64%, e nem em dia de festa, conseguiu participar. E o índice brasileiro BOVESPA subiu 4,19%. E o volume foi muito forte, na queda de ontem: quase quatro vezes mais que a média habitual da VIVO na Bolsa de São Paulo. Agora não dá para disfarçar mais: a VIVO está a ser despejada no mercado. O motivo, já aqui adiantei: a sua cotação está com um PER de 28, altissimo (30,50 de cotação actual/1,09 de Resultado por acção em 2008). Ora isso quer dizer que a perspectiva era que o Resultado por acção viesse a atingir no futuro uns 2,90 reais por acção, para dar um PER razoável de 10,5 (30,50/2,90=10,50). Mas com os dados de Fevereiro de 2009, das adesões liquidas de celulares no Brasil, o cenário mudou completamente. E, a avaliação da VIVO, na optica da participação de 31,7% da PT, que para o Banesto valia 2,09 mil M€ em Fevereiro de 2009, já só valerá hoje uns 1,5 mil M€ por se tratar dum bloco significativo (pois pela cotação do mercado já só vale 1,2 mil M€, à cotação de ontem de 30,50 reais) Ora, custe o que custar, a PT é a soma das suas partes. E esta confirmação, pela 2ª vez em menos de 15 dias, de muito forte venda da VIVO em baixa, tem um efeito imediato na PT: vai haver sell-off na PT a qualquer momento. A cotação da PT está sem sustentação, ao actual nível, ainda mais porque pelo meu target de 4,234 €, anterior a esta crise na cotação da VIVO, já era de altíssimo risco. Na PT não dá para disfarçar mais: vai haver sell-off! Preparem-se, pois no mundo dos negócios, não há espaço para falsas ilusões!

domingo, abril 05, 2009  
Anonymous fred said...

Bem mais este sr Trichet e os seus conselheiros não sabem o que dizem, realmente isto é a republica das bananas. Num dia fazem uma conferencia e dizem que a crise ja esta muito perto do fim e 2 semestre de 2009 as coisas vão melhorar, mas, agora afinal a crise não esta a acabar e que 2009 vai ser muito dificil!!!

domingo, abril 05, 2009  
Anonymous cidadão atento said...

O que hoje chamamos a saída da crise, não é mais do que aguentar o doente moribundo. Portanto não esquecer o moribundo..., que mesmo depois de morto, recebe água benta, para que o povinho acredite que ele ainda está vivo... e há quem diga que voltará de boa saúde...!

domingo, abril 05, 2009  
Anonymous Anónimo said...

Vivemos momentos equiparáveis à queda do murro de Berlim e ao desmantelamento da URSS. Anseio para que a vontade do 20 expressa no acordo seja implementada na realidade e que nãos e fique por apenas acordo de princípios. Urge uma redirecção da política económica e financeira mundial, os epicentros dos equilíbrios geopolíticos foram alterados e o reequilíbrio terá que ser efectuado. Receio, embora anseio que seja infundado, que este novo equilíbrio que se venha a estabelecer com novos players continue a colocar o acento tónico nos princípios económicos, civilizacionais e humanos ocidentais. Desejo que este equilíbrio não seja uma porta de entrada formal e um fechar de olhos instituído para aquilo que até hoje informalmente era aceite e que os princípios da condição humana que hoje aceitamos como inegociáveis (direito à vida, respeito pela dignidade humana e prevalência de um estado de direito) sejam os drivers da consolidação do nosso desenvolvimento civilizacional. Algo tinha que ser feito, algo será feito.....o passado é apenas o preâmbulo!!!!

domingo, abril 05, 2009  
Anonymous costa said...

A referência a deslocação do eixo Atlântico para o Pacífico (antigas colónias) é uma realidade bem presente na estratégia de algumas das cotadas do PSI-20. África, o pobre continente da miséria e da guerra, da fome e das doenças, por ironia do destino das civilizações, surge no actual contexto económico global como o principal óasis de futura riqueza e desenvolvimento, suporte das matérias-primas e dos fluxos financeiros internacionais.3- Que este novo paradigma do crescimento económico mundial seja acompanhado pelo desenvolvimento sustentado e ecológico e uma maior justiça social dos povos africanos e de toda a zona do Pacífico.

domingo, abril 05, 2009  

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