quinta-feira, abril 23, 2009

O fim de uma era

"Aristóteles sublinhava que o mundo estava dividido entre os que podiam planear as suas vidas e os que apenas podiam seguir os planos dos outros. Se não fosse a crise internacional, José Sócrates tinha a sua vida política planeada. A caminhada para uma segunda maioria absoluta seria semelhante à entrada de um imperador romano no Coliseu: aplaudido e sem contestação. Com uma sociedade civil afónica e uma eficaz gestão do Estado a seu favor, Sócrates poderia continuar a ser aclamado pelo povo como o garante da estabilidade. Algo que os portugueses bem prezam. Ao mesmo tempo, o eficaz cerco que ia fazendo a Cavaco Silva garantia-lhe aquilo a que se chama paz: o deserto político à sua volta, dentro e fora do PS.

Mas o discurso de Cavaco Silva enterrou a cooperação estratégica, a metáfora debaixo da qual Sócrates ia encurralando o Presidente em Belém a tratar do jardim. As palavras de Cavaco foram um tiro certeiro na impertinência governamental, um disparo mais eficaz do que todos os da oposição. O problema entre Cavaco e Sócrates não é de comunicação. Embora se saiba que, quanto menos os homens comunicam, maior é o espaço ocupado pelos ecrãs de televisão. O problema entre eles tem a ver com conteúdo. Sócrates é o Harry Potter do Estado: gere pela imagem e para o poder. O seu conteúdo é um conjunto de ficções. Representa o político que hoje, como se vê maioritariamente na Europa, não tem um ideal definido ou uma ideologia estruturada. A cooperação estratégica faleceu. A verdadeira batalha começa agora
."

Fernando Sobral

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