sexta-feira, maio 22, 2009

Triste fim.

"Em nome da coerência, Manuel Alegre não aceitou integrar as listas socialistas às "legislativas". Em nome dos valores restantes, ficou no PS, jurou não combater o PS e, leio na imprensa, terá negociado lugar no grupo parlamentar do PS para um punhado de compinchas. Contas feitas, foi um acto de heroísmo cortado pela metade, suficiente para manter a aura "resistente" e, em simultâneo, as aspirações de uma candidatura presidencial apoiada pelo partido.

Pelo menos Alegre assim supõe. Talvez não suponha bem. Por um lado, nada indica que a "resistência" não saia manchada aos olhos dos que esperavam a ruptura absoluta com o PS. Por outro, não se vê o que obriga o eng. Sócrates a recompensar as cedências com o patrocínio, ainda que prometido, nas "presidenciais". Dado que não há reféns parciais, a meia abdicação de Alegre compromete-o por inteiro. Depois de uma eternidade a insuflar a retórica com os interesses da esquerda ampla, o poeta optou por cuidar dos próprios. É uma tentação compreensível e humana.

Com frequência, é também uma tentação fatal quando mal disfarçada. Politicamente, Manuel Alegre morreu agora, e os aplausos simultâneos que em simultâneo lhe dedicaram Sócrates (com razão) e Louçã (sem razão) foram um estranho epitáfio. Há três anos que, no meio de nebulosas indecisões, Alegre arrastava um milhão de votos teóricos, um relativo peso em certa esquerda e a luminosa capacidade de embaraçar o Governo. Forçado ao esclarecimento, quis tudo e perdeu tudo, excepto os votos virtuais e o equívoco sonho da presidência, para cúmulo a concretizar entre os dois mandatos de Cavaco.

No máximo, Alegre será, face ao actual Presidente, o Ferreira do Amaral de Jorge Sampaio. No mínimo, e com muito maior probabilidade, será um anacronismo de si mesmo, a declamar por aí uma influência que então ninguém, salvo fanáticos residuais, lhe reconhecerá. Ambos constituem destinos pouco compatíveis com as suas ambições épicas, mas perfeitamente adequados ao lirismo para que sempre esteve talhado
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Alberto Gonçalves

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