quinta-feira, julho 23, 2009

Ninguém diga que está bem

"Além das (belíssimas) inovações na grafia que o Acordo Ortográfico promete, há novidades lexicais imprevistas no próprio Acordo. Uma delas, já em pleno uso institucional, mediático e popular, é "Tar". Em inglês, é substantivo e significa "alcatrão". Aqui é verbo e, se bem entendo, veio fazer as vezes do velho "Estar", o qual levou sumiço da oralidade.

Veja-se, salvo seja, a televisão. Não se passam dez segundos em frente a um canal nacional sem deparar com uma senhora que "tará" disposta a mudar a sua vida, um cavalheiro que "teve" dois anos desempregado e uma instituição que "tá" a apostar em novas valências. Nos noticiários é ainda melhor: o Governo conta que a retoma "teja" próxima; os colegas do Real Madrid não "tariam" à espera do profissionalismo de Ronaldo; os 40 anos da alunagem "tarão" aí.

Julgo que o propósito, compreensível na sociedade de informação alucinante em que vivemos, é poupar nas letras. Pelos vistos, e por exemplo, a abolição dos "cc" e dos "pp" não articulados explícita no Acordo não é o bastante. A ideia é alargar a abolição aos caracteres que pudermos, até atingirmos o objectivo de falar exclusivamente por monossílabos e grunhidos, proeza que as novas gerações, as que brilham nos exames de Português e que tanto orgulham a sra. ministra da Educação, já cometem com brio. Daqui ao silêncio e aos sinais de fumo é um passo evolutivo que não tardará em chegar. Por mim, tou mortinho que chegue. Você não tá?
"

Alberto Gonçalves

Divulgue o seu blog!