quarta-feira, julho 01, 2009

O "reality show" nacional

"Lenine tinha uma política muito sábia: um passo à frente, dois passos atrás. Sócrates, na sua fase humilde, tentou segui-lo, mas já começou a tropeçar nessa táctica. Sócrates sabe a direcção certa, mas não sabe recuar para garantir o que ganhou.

Sócrates só conhece os aceleradores. Desconhece os travões. Os recuos no TGV ou nas obras públicas, atiradas já para depois das eleições, fazem parte da sua nova identidade quando olha para o espelho: "espelho meu, quem é mais humilde do que eu?" O problema é que o "mito Sócrates" que ele via quando olhava para uma bola de cristal está a quebrar-se. A tentativa de Sócrates em tornar-se um Big Brother, através da aventura da PT na Media Capital, fez nascer um Little Brother.

E é assim, depois desta derrota política pessoal do primeiro-ministro, que deve ser encarado o embaraço do Governo. Na essência negocial, a aquisição de parte da TVI pela PT fazia sentido, no âmbito da TDT. Mas, ao escorregar na argumentação no Parlamento e cinco anos após ter defendido com unhas e dentes o fim da ligação da PT à Lusomundo, Sócrates sai deste episódio com uma humildade humilhante.

Retira-se do campo de batalha depois de ter deixado, inclusivamente, uma ferida que será difícil de sarar. Mesmo no interior do PS, que começa a sentir-se nervoso com esta desorientação política e, sobretudo, emocional do primeiro-ministro.

Acossado pelo PR, pela oposição e pela sociedade civil, Sócrates lembra o trovador dos tempos que passam, a quem retiraram a guitarra
. "

Fernando Sobral

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