Roubam mas fazem?
"Há partidos que estão a libertar-se de alguns políticos, como o PSD de Passos Coelho. Há políticos que se libertam dos seus partidos, como Elisa Ferreira no Porto, insubordinando-se ao aparelho PS. Mas enquanto os eleitos votados por baixo forem os elegíveis escolhidos de cima, Isaltino e Felgueiras ganharão eleições nas calmas.
Quando Barack Obama convidou Hillary Clinton para sua secretária de Estado, estaria provavelmente a lembrar-se de uma máxima de Sun-Tzu: "Mantém os teus amigos perto e os teus inimigos ainda mais perto". Manuela Ferreira Leite pensa de forma diferente, como se vê pela exclusão de Pedro Passos Coelho, e do seu apoiante Miguel Relvas, das listas do PSD. Sem cinismos, ficam classificados como oposição interna. Cavaco Silva não faria melhor.
Para uns, trata-se de uma purga, um ajuste de contas com os que estiveram contra a senhora que está a fazer a viragem impossível no eleitorado. Para outros, é uma higiénica operação "mãos limpas", em que o novo PSD é o velho PSD e "rasga" com os barões assinalados. Seja como for, é uma separação que Ferreira Leite só pôde fazer depois de ganhar legitimidade interna no partido após a vitória nas eleições europeias. Quem se mete com o PSD leva.
Está ainda por medir o alcance das listas dos partidos, se a entrada de independentes nas listas das Autárquicas e das Legislativas volta a ser rábula para os primeiros seis meses ou se a negociação entre aparelhos distritais e direcções nacionais pode, algum dia, ser vencida. Mas enquanto os partidos se encaixilham nas suas disputas paroquiais para arrolar as cunhas em vez do mérito, os instalados em vez dos desafiadores, os fiéis em vez dos leais, os financiados em vez dos diferentes, o que os eleitores pensam deles não será melhor.
A reforma do sistema político, e a criação de círculos uninominais, obrigaria ao mérito prévio e ao compromisso posterior dos deputados ante aqueles que os elegessem. Mas a reforma dos políticos é decidida por políticos que não querem passar à reforma: o instinto de autodefesa vai manter estas listinhas de "cargos elegíveis" decididas pelos aparelhos - não pelos eleitores.
Não perguntem, pois, por que razão muitos autarcas condenados pela justiça estão perto de uma eleição. Nas próximas Autárquicas, não há apenas suspeitos, arguidos, investigados, presumíveis inocentes - há condenados por crimes. E quem comete um crime é criminoso. Criminosos ao poder? Já faltou mais.
Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras e Isaltino Morais são candidatos condenados pela justiça. Concorrem independentes, como se fossem alternativas aos partidos em que medraram, e que os acolheram enquanto venceram. Uma vez condenados, são discretamente dispensados. E nem sequer afrontados. Em Oeiras, o PS e o PSD nem sequer vão a jogo. Escolheram candidatos para perder.
Aqueles são candidatos populistas e populares, mas os votos têm sempre razão. Uma sua vitória pode ser um salvo-conduto ante a justiça e até uma vingança face ao sistema, mas quem elege decide por outras razões. A pior de todas será a do "rouba mas faz". Só no Brasil é que isso é qualidade de político. Em Portugal, ainda é defeito do sistema que vive em circuito fechado e dos partidos que fazem das cadeiras públicas um jogo de poder privado."
Pedro Santos Guerreiro
Quando Barack Obama convidou Hillary Clinton para sua secretária de Estado, estaria provavelmente a lembrar-se de uma máxima de Sun-Tzu: "Mantém os teus amigos perto e os teus inimigos ainda mais perto". Manuela Ferreira Leite pensa de forma diferente, como se vê pela exclusão de Pedro Passos Coelho, e do seu apoiante Miguel Relvas, das listas do PSD. Sem cinismos, ficam classificados como oposição interna. Cavaco Silva não faria melhor.
Para uns, trata-se de uma purga, um ajuste de contas com os que estiveram contra a senhora que está a fazer a viragem impossível no eleitorado. Para outros, é uma higiénica operação "mãos limpas", em que o novo PSD é o velho PSD e "rasga" com os barões assinalados. Seja como for, é uma separação que Ferreira Leite só pôde fazer depois de ganhar legitimidade interna no partido após a vitória nas eleições europeias. Quem se mete com o PSD leva.
Está ainda por medir o alcance das listas dos partidos, se a entrada de independentes nas listas das Autárquicas e das Legislativas volta a ser rábula para os primeiros seis meses ou se a negociação entre aparelhos distritais e direcções nacionais pode, algum dia, ser vencida. Mas enquanto os partidos se encaixilham nas suas disputas paroquiais para arrolar as cunhas em vez do mérito, os instalados em vez dos desafiadores, os fiéis em vez dos leais, os financiados em vez dos diferentes, o que os eleitores pensam deles não será melhor.
A reforma do sistema político, e a criação de círculos uninominais, obrigaria ao mérito prévio e ao compromisso posterior dos deputados ante aqueles que os elegessem. Mas a reforma dos políticos é decidida por políticos que não querem passar à reforma: o instinto de autodefesa vai manter estas listinhas de "cargos elegíveis" decididas pelos aparelhos - não pelos eleitores.
Não perguntem, pois, por que razão muitos autarcas condenados pela justiça estão perto de uma eleição. Nas próximas Autárquicas, não há apenas suspeitos, arguidos, investigados, presumíveis inocentes - há condenados por crimes. E quem comete um crime é criminoso. Criminosos ao poder? Já faltou mais.
Valentim Loureiro, Fátima Felgueiras e Isaltino Morais são candidatos condenados pela justiça. Concorrem independentes, como se fossem alternativas aos partidos em que medraram, e que os acolheram enquanto venceram. Uma vez condenados, são discretamente dispensados. E nem sequer afrontados. Em Oeiras, o PS e o PSD nem sequer vão a jogo. Escolheram candidatos para perder.
Aqueles são candidatos populistas e populares, mas os votos têm sempre razão. Uma sua vitória pode ser um salvo-conduto ante a justiça e até uma vingança face ao sistema, mas quem elege decide por outras razões. A pior de todas será a do "rouba mas faz". Só no Brasil é que isso é qualidade de político. Em Portugal, ainda é defeito do sistema que vive em circuito fechado e dos partidos que fazem das cadeiras públicas um jogo de poder privado."
Pedro Santos Guerreiro
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