Rompuy é o homem certo
"A União Europeia exaspera qualquer pessoa: carece de ambição, tem falhas ao nível da coordenação e uma forte propensão para nos desiludir, a nós, cidadãos europeus.
Na semana passada, porém, foi dado um passo positivo com a nomeação de Herman Van Rompuy, primeiro-ministro belga, e de Catherine Ashton, comissária europeia para o Comércio, para os cargos de Presidente do Conselho Europeu e de Alto Representante para a Política Externa, criados pelo Tratado de Lisboa.
A opinião dominante considera que a representação e a comunicação são os dois principais problemas da União Europeia (UE). Discordo. Os verdadeiros problemas são: inaptidão para definir metas políticas comunitárias; incapacidade de concretização; e, acima de tudo, fraca coordenação e gestão de crises. Resumindo, a UE temproblemas que exigem um tipo de liderança específico.
Há um ano, a UE falhou na resposta à crise financeira. A Comissão Europeia enfiou a cabeça na areia; Nicolas Sarkozy, que então assegurava a presidência rotativa da UE, não foi capaz de gizar uma estratégia de cooperação com Angela Merkel; e não restava mais ninguém para traçar um rumo. Escrevi, na minha última crónica, que acredito na melhoria das relações franco-alemãs. Condição necessária mas insuficiente para ressarcir o governo ao nível da União.
Acredito igualmente nas qualidades de Rompuy, cujo trabalho como primeiro-ministro tem sido notável. Antes de assumir o cargo, há um ano, a Bélgica vivia uma grave crise institucional. Chegou-se a falar de uma separação entre Valões e Flamengos, do fim do país como o conhecemos. Rompuy conseguiu, em menos de um ano, unir as duas facções antagónicas no seio da sua volúvel coligação multilingue.
Os críticos alegam que a Bélgica é um país pequeno com pouco mais de dez milhões de habitantes e que, por isso, não é comparável ao colosso europeu, cuja população ronda os 500 milhões. No entanto, e tal como a UE, é um país linguística e culturalmente dividido. Rompuy conseguiu unir uma coligação ampla e fracturada. Ora, é precisamente esse o papel do presidente do Conselho Europeu.
Terá a UE abandonado a sua ambição de liderança global ao nomear Rompuy? Quer isto dizer que nos esperam mais dez anos de "umbiguismo"? Não me parece. Na próxima década não teremos de debater, negociar ou ratificar grandes tratados. Teremos, sim, de melhorar o funcionamento da UE, o que implica aceitar maior responsabilidade global. E para resolver a questão controversa e ridícula da sobre-representação da Europa em organizações internacionais, teremos de empenhar-nos num processo político sério que permita introduzir mudanças políticas e legais em diversos estados-membros. A UE não precisa de um presidente que finja representar uma Europa unida.
Sabemos que Rompuy tem algumas das qualidades necessárias para resolver as actuais lacunas da UE. Até pode falhar mas, até lá, estou disposto a dar-lhe o benefício da dúvida."
Wolfgang Münchau
Na semana passada, porém, foi dado um passo positivo com a nomeação de Herman Van Rompuy, primeiro-ministro belga, e de Catherine Ashton, comissária europeia para o Comércio, para os cargos de Presidente do Conselho Europeu e de Alto Representante para a Política Externa, criados pelo Tratado de Lisboa.
A opinião dominante considera que a representação e a comunicação são os dois principais problemas da União Europeia (UE). Discordo. Os verdadeiros problemas são: inaptidão para definir metas políticas comunitárias; incapacidade de concretização; e, acima de tudo, fraca coordenação e gestão de crises. Resumindo, a UE temproblemas que exigem um tipo de liderança específico.
Há um ano, a UE falhou na resposta à crise financeira. A Comissão Europeia enfiou a cabeça na areia; Nicolas Sarkozy, que então assegurava a presidência rotativa da UE, não foi capaz de gizar uma estratégia de cooperação com Angela Merkel; e não restava mais ninguém para traçar um rumo. Escrevi, na minha última crónica, que acredito na melhoria das relações franco-alemãs. Condição necessária mas insuficiente para ressarcir o governo ao nível da União.
Acredito igualmente nas qualidades de Rompuy, cujo trabalho como primeiro-ministro tem sido notável. Antes de assumir o cargo, há um ano, a Bélgica vivia uma grave crise institucional. Chegou-se a falar de uma separação entre Valões e Flamengos, do fim do país como o conhecemos. Rompuy conseguiu, em menos de um ano, unir as duas facções antagónicas no seio da sua volúvel coligação multilingue.
Os críticos alegam que a Bélgica é um país pequeno com pouco mais de dez milhões de habitantes e que, por isso, não é comparável ao colosso europeu, cuja população ronda os 500 milhões. No entanto, e tal como a UE, é um país linguística e culturalmente dividido. Rompuy conseguiu unir uma coligação ampla e fracturada. Ora, é precisamente esse o papel do presidente do Conselho Europeu.
Terá a UE abandonado a sua ambição de liderança global ao nomear Rompuy? Quer isto dizer que nos esperam mais dez anos de "umbiguismo"? Não me parece. Na próxima década não teremos de debater, negociar ou ratificar grandes tratados. Teremos, sim, de melhorar o funcionamento da UE, o que implica aceitar maior responsabilidade global. E para resolver a questão controversa e ridícula da sobre-representação da Europa em organizações internacionais, teremos de empenhar-nos num processo político sério que permita introduzir mudanças políticas e legais em diversos estados-membros. A UE não precisa de um presidente que finja representar uma Europa unida.
Sabemos que Rompuy tem algumas das qualidades necessárias para resolver as actuais lacunas da UE. Até pode falhar mas, até lá, estou disposto a dar-lhe o benefício da dúvida."
Wolfgang Münchau
1 Comments:
Se souber separar os interesses da Europa dos interesses dos USA.
E se não ceder aos interesses dos Bilderberg.
Assim, concordo com Mr Münchau.
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