quinta-feira, dezembro 17, 2009

É favor não contrariar

"Desde o início que se assiste a uma luta entre o que Obama é e o que os seus devotos queriam que fosse. O discurso de aceitação do Nobel da Paz, que Obama dedicou à necessidade de determinadas guerras, é apenas o mais recente golpe numa ilusão que deu um trabalhão a criar. Aos poucos, a ilusão esvai-se e sobra aquilo que, dentro dos EUA, sempre se pressentiu: um homem, eleito por motivos válidos, absurdos e assim-assim ao mais influente cargo da Terra e cuja prestação convém avaliar em função dos factos e não de delírios.

Incrivelmente, fora dos EUA os delírios persistem. Se muitos, desanimados, desistiram de ver em Obama o ícone antiamericano com que sonharam, outros, por teimosia ou convicção real, mantêm a esperança. Alguns dos esperançados roçam o fanatismo. Alguns dos fanáticos roçam a paródia. São os que, em se tratando de Obama, "percebem" na oposição à erradicação das minas terrestres a forma de erradicar as minas terrestres, na manutenção do Patriotic Act o processo de acabar com o Patriotic Act, na detenção de terroristas em bases americanas o modo de condenar a detenção de terroristas em bases americanas e, em suma, na defesa da guerra o único caminho para a paz.

Há dias, um editorial do Público partilhava esta recusa da evidência em prol do seu reverso e exigia aos "cínicos" que se calassem. Enquanto "cínico", calo-me: certos estados mentais não devem ser contrariados. Já basta o próprio Obama contrariá-los diariamente, embora, como se nota, sem grandes resultados
."

Alberto Gonçalves

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