quarta-feira, dezembro 23, 2009

Sócrates: parte do problema

"(Onde o escriba, armado à mini-salvador da Pátria, lembra o que a OCDE já recomendou, até de forma anormalmente agreste, e acrescenta umas ideias duma evidência chocante ao seu ídolo político, logo a seguir a Hugo Chavez: ele próprio, o autêntico, o único, José Sócrates).

Portugal, que já foi membro do Clube Mediterranée do euro, agora aderiu a uma outra associação de bem-fazer, o grupo dos PIIGS (Portugal, Italy, Ireland, Greece, Spain), os que, a continuarem assim, vão mesmo à falência.

A Irlanda já se pôs a tratar da vida, nós por cá vamos no casamento gay - uma absoluta prioridade, como mesmo qualquer ameríndio nacional consegue entender(1).

Para nós, a questão põe-se da seguinte maneira, se se quiser evitar mais uma ruptura financeira com intervenção internacional, de vastos sacrifícios, como já aconteceu duas vezes desde o 25 de Abril: diagnóstico sério dos problemas, agenda clara das soluções e objectivos fundamentais, consenso nacional de adesão por via de transparência e verdade, liderança patriótica. Evidente, não?

Eis então um percurso telegráfico.

Inventariar problemas é coisa simples, há sim que destacar os prioritários. Mas nem aqui haverá problemas de maior porque já ocorre uma quase unanimidade na zona não revolucionária. Gente de craveira e espírito aberto , de Esquerda e Direita, aponta claramente para o combate à despesa primária do Estado, luta ao desemprego por via do apoio às empresas (únicas entidades que o podem criar sem mais desequilíbrios), aposta na competitividade internacional e reforma da justiça.

É isso ou lá teremos Teixeira dos Santos, um belo dia, a ir pedir mais crédito para pagar juros à própria Cofidis, por falta de alternativa, tudo a caminho da girândola final.

A partir daqui, segue-se para os métodos que viabilizem, em adequada quantificação, calendarização e absoluta transparência, sem manobras dilatórias e distractivas - as habituais politiquices que deixam desesperados os próprios santos.

A adesão nacional é difícil, mas possível. Infelizmente, um País em que 20% do eleitorado vota na extrema-Esquerda está mesmo a pedir regressão, com sindicatos da luta de classes a cumprir o objectivo leninista de destruir o sistema. Mas, N. Sª de Fátima ajudando, os portugueses podem ser motivados para um desígnio nacional mesmo através de sacrifícios, desde que partilhados. Até se podiam fazer anúncios motivadores na oficiosa RTP, com o Cristiano Ronaldo em chuteiras e a Cláudia em mini-saia e tacões de produção nacional.

Agora entra a difícil questão da liderança e aí está o verdadeiro drama, em Sócrates e no PS que ele formatou.

Quando entrou a governar, ainda por cima em maioria absoluta, imprimiu o que parecia o ímpeto reformista necessário para levar as coisas a bom porto. Mas o homem, o que gosta realmente é de confrontos e a reserva de energia e os consensos mínimos necessários foram rapidamente delapidados. A cena patética do Congresso do PS com o personagem a berrar contra a "campanha negra" e órgãos da comunicação social revelavam com eloquência o que já se notava: trata-se de um homem de poder sem sombra de estadista, rodeado de caceteiros e candidatos ao nepotismo.

Mas há muita gente boa no PS e na sua proximidade, e o tempo urge. Se as coligações parecem impossíveis, não é admissível dizer o mesmo de acordos de regime movidos pelo patriotismo. Podia olhar-se para os anos 80 em Espanha, quando Gonzales uniu toda a Espanha através do pacto de Moncloa - Esquerda, Direita, sindicatos, patronato, forças vivas.

É então do PS , na liderança, que tem de partir a iniciativa de aproximação séria, coisa bem diferente de manobras irritantes como convidar todos os partidos para coligação ou começar a vitimizar-se, atirando "culpas" para as oposições e correndo a pedir auxílio a um Presidente da República que passou o tempo a hostilizar - numa permanente campanha eleitoral para preservação do poder. Começar pelo Orçamento de 2010 seria um bom passo.

Se até a selecção nacional chegou à África do Sul, porque não há--de o País fazer como a Irlanda, nação que nem sequer obteve idêntico resultado?
E até se podia contratar Scolari para primeiro-ministro…


(1)Eu, por mim, sou absolutamente a favor, até porque já ninguém se casa hoje em dia e, pelos vistos, a preservação dessa vetusta instituição matrimonial vai mesmo recair sobre os homossexuais, os únicos que aparentemente querem dar o nó.

Eu até proponho, já que os homo disso fazem tanta questão, que os heterossexuais passem a unir-se através duma união civil registada, mantendo-se a diferença de situações.
"

Fernando Braga de Matos

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