"Entra, entra", disse a aranha à mosca
"O PS abre subitamente os braços à Oposição para construir entendimentos para o Orçamento do Estado. O PSD promete que sim, que negociará acordos. O CDS ofende-se porque ninguém lhe pergunta nada. Alguém acredita nisto?
O Orçamento do Estado para 2010 será o clímax ou o anticlímax da tensão política e da urgência financeira do País. Estamos a poucos dias da sua apresentação e esse é o primeiro momento "vai ou racha" de 2010. Se vai, o Orçamento é aprovado e temos paz no Parlamento. Se racha, o Orçamento é chumbado e temos uma crise política que pode levar a dissoluções.
Todos querem que o Parlamento não seja dissolvido. Mas todos querem ainda mais que, se o for, a culpa não caia sobre os seus ombros. Nem o PS, que preferirá sempre vitimizar-se. Nem a Oposição, que quererá sempre mostrar-se alternativa construtiva e não destrutiva. Nem o Presidente da República, que faz um discurso de Ano Novo tão brilhante quanto branqueador da sua própria relevância - assim Pilatos lavou as suas mãos. Isto não são tréguas. Este é o silêncio que antecede as cargas num campo de batalha.
Enquanto os generais, José Sócrates e Manuela Ferreira Leite, se mantêm em silêncio, os emissários do PS e do PSD vão negociando. Falou primeiro Francisco Assis, no fim-de-semana, pedindo ao PS que se habitue a fazer acordos. Falou depois Luís Amado, dramatizando o OE. E ontem Jorge Lacão, que trocou galhardetes com José Pedro Aguiar-Branco. Tudo teatro: PS e PSD fazem figas atrás das costas, olham-se nos olhos mas é para a plateia que estão a falar. Basta ver como o PS publicitou a "carta formal" aos partidos através de um comunicado à imprensa.
Ninguém quer ser responsável pela instabilidade. Nem o Governo, nem a Oposição. É por isso que, provavelmente, o Orçamento será aprovado na generalidade, com a "responsável" abstenção do PSD (como Marcelo Rebelo de Sousa fez várias vezes na sua vigência).
Essa aprovação do OE na votação na generalidade permitirá ao PS abdicar da limiana disponibilidade do CDS para um acordo à mão de semear: a espectacular vitória de Portas nas eleições passadas ainda não lhe serviu para grande coisa. Tem sido ignorado e parece nem saber bem o que fazer com os seus 21 deputados. Mas mantém a validade de um "joker" para uma coligação.
Uma aprovação do OE na generalidade pode, no entanto, ser apenas mais um acto na peça de teatro, se, como previu há dias neste jornal Henrique Granadeiro, a Oposição torpedear o Orçamento na discussão na especialidade.
Tudo isto acontece num momento económico que não é um qualquer. É péssimo. Depois do colapso da Grécia, Portugal deixou de ter a tolerância de mais um ano para tratar das contas públicas: as agências de "rating" ameaçaram-nos de supetão. O País prepara-se para entrar num clima económico ambíguo como um "profiterole": o crescimento económico a aquecer um pouco no exacto compasso em que as finanças públicas gelam muito.
O próximo OE precisa de cortar despesas e aumentar receitas - e resistir à tentação das artimanhas. Congelar salários, progressões. Assumir que o investimento público é já menor que o que se diz. Mexer nos impostos. Vender património. Mas tudo será deitado a perder se cada medida for apenas uma provocação à Oposição. Nesse caso, acaba-se o teatro. E temos cinema."
Pedro Santos Guerreiro
O Orçamento do Estado para 2010 será o clímax ou o anticlímax da tensão política e da urgência financeira do País. Estamos a poucos dias da sua apresentação e esse é o primeiro momento "vai ou racha" de 2010. Se vai, o Orçamento é aprovado e temos paz no Parlamento. Se racha, o Orçamento é chumbado e temos uma crise política que pode levar a dissoluções.
Todos querem que o Parlamento não seja dissolvido. Mas todos querem ainda mais que, se o for, a culpa não caia sobre os seus ombros. Nem o PS, que preferirá sempre vitimizar-se. Nem a Oposição, que quererá sempre mostrar-se alternativa construtiva e não destrutiva. Nem o Presidente da República, que faz um discurso de Ano Novo tão brilhante quanto branqueador da sua própria relevância - assim Pilatos lavou as suas mãos. Isto não são tréguas. Este é o silêncio que antecede as cargas num campo de batalha.
Enquanto os generais, José Sócrates e Manuela Ferreira Leite, se mantêm em silêncio, os emissários do PS e do PSD vão negociando. Falou primeiro Francisco Assis, no fim-de-semana, pedindo ao PS que se habitue a fazer acordos. Falou depois Luís Amado, dramatizando o OE. E ontem Jorge Lacão, que trocou galhardetes com José Pedro Aguiar-Branco. Tudo teatro: PS e PSD fazem figas atrás das costas, olham-se nos olhos mas é para a plateia que estão a falar. Basta ver como o PS publicitou a "carta formal" aos partidos através de um comunicado à imprensa.
Ninguém quer ser responsável pela instabilidade. Nem o Governo, nem a Oposição. É por isso que, provavelmente, o Orçamento será aprovado na generalidade, com a "responsável" abstenção do PSD (como Marcelo Rebelo de Sousa fez várias vezes na sua vigência).
Essa aprovação do OE na votação na generalidade permitirá ao PS abdicar da limiana disponibilidade do CDS para um acordo à mão de semear: a espectacular vitória de Portas nas eleições passadas ainda não lhe serviu para grande coisa. Tem sido ignorado e parece nem saber bem o que fazer com os seus 21 deputados. Mas mantém a validade de um "joker" para uma coligação.
Uma aprovação do OE na generalidade pode, no entanto, ser apenas mais um acto na peça de teatro, se, como previu há dias neste jornal Henrique Granadeiro, a Oposição torpedear o Orçamento na discussão na especialidade.
Tudo isto acontece num momento económico que não é um qualquer. É péssimo. Depois do colapso da Grécia, Portugal deixou de ter a tolerância de mais um ano para tratar das contas públicas: as agências de "rating" ameaçaram-nos de supetão. O País prepara-se para entrar num clima económico ambíguo como um "profiterole": o crescimento económico a aquecer um pouco no exacto compasso em que as finanças públicas gelam muito.
O próximo OE precisa de cortar despesas e aumentar receitas - e resistir à tentação das artimanhas. Congelar salários, progressões. Assumir que o investimento público é já menor que o que se diz. Mexer nos impostos. Vender património. Mas tudo será deitado a perder se cada medida for apenas uma provocação à Oposição. Nesse caso, acaba-se o teatro. E temos cinema."
Pedro Santos Guerreiro
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