sábado, abril 10, 2010

"Wake up call"? Que nada: "Death call"

"Qualquer cidadão informado sabe que a crise portuguesa não começou com a crise financeira. Ela radica nas tão faladas razões estruturais. Entre elas a deficiente competitividade das nossas empresas, agravada com a abertura da União aos ex-países de Leste, Índia e China. Mas como explicar a passividade dos donos dessas empresas se tiveram uma década para se prepararem para a abertura dos mercados? Há várias teorias. Uma delas é a herança de décadas de isolacionismo, que criou nos empresários uma falsa sensação de segurança, que os levou a centrarem-se apenas no mercado português.

Há dez anos, quando se começou a falar no problema, pensei que a abertura dos mercados seria "O" catalizador da mudança das nossas empresas. Entaladas entre a espada e a parede, iriam à luta: abandonariam a produção de baixo custo, apostariam na formação dos trabalhadores, contratariam os melhores gestores, investiriam em tecnologia, capitalizariam a inovação…

Dez anos depois o que se vê? "O" catalizador, a tal chispa que devia ter despertado o instinto de sobrevivência, deu lugar ao epitáfio: "Aqui jaz a empresa XPTO, que em tempos dominou o mercado x". Por outras palavras, aquela que devia ter sido uma "wake up call" transformou-se numa "death call".

Está tudo perdido? Não. Porque no meio da chacina em curso algumas se vão safar. Poucas (não chegam para reduzir o défice externo). É pena. Porque pelo caminho vão ficar sectores onde tínhamos um know-how apreciável. Mas só temos de nos queixar de nós próprios: o corporate world não espera pelos atrasados
."

Camilo Lourenço

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