Um pequeno passo
"Ao longo de cinco anos, habituámo-nos a ouvir que o crescimento económico se obteria infalivelmente mediante: investimento nas grandes infra-estruturas; investimento na investigação; investimento nas energias renováveis; investimento nas tecnologias de informação; investimento na educação e nos recursos humanos; investimento no apoio às exportações; investimento no investimento estrangeiro; investimento no estrangeiro; etc.
Como se nota, o critério variava consoante os dias e as circunstâncias. Se numa terça-feira de manhã o eng. Sócrates inaugurava por exemplo um pólo universitário, a investigação científica era vital ao crescimento económico. Mas se na terça à tardinha o eng. Sócrates comparecia à adjudicação de sete aerogeradores, aí já o crescimento económico não passava sem as ventoinhas.
Em qualquer dos casos, o crescimento viria de cima, isto é, da acção de um Governo paternal e do bolso de um contribuinte meigo. Viria. Não veio. O investimento público não só não trouxe crescimento económico, como, a partir de certa altura, nos enfiou numa crise económica que o Governo, corajosamente, combateu com os métodos que em larga medida a originaram. Mais curioso ainda é que esta espiral não nos lançou de cabeça contra a realidade: de facto, lançou-nos contra a Alemanha.
Esqueçam as ventoinhas e a banda larga: hoje, a nova panaceia para o crescimento económico é a "solidariedade europeia", um conceito divertido que obriga os alemães a salvar os vizinhos falidos por desleixo próprio. O primeiro vizinho a resgatar é a Grécia, e embora 276 especialistas garantam que a situação grega não é comparável à portuguesa, a verdade é que nos colocámos em lugar privilegiado da fila de espera. Do quê? Ora essa: do fatal investimento público, com a diferença de que agora o público, ou seja, o contribuinte, é outro, fala a língua de Heiner e Gerd Müller e não prima pela meiguice. E com a diferença de que descemos da bazófia empreendedora para a mendigagem descarada, um enorme salto para a humanidade, um tombo recorrente para Portugal. "
Alberto Gonçalves
Como se nota, o critério variava consoante os dias e as circunstâncias. Se numa terça-feira de manhã o eng. Sócrates inaugurava por exemplo um pólo universitário, a investigação científica era vital ao crescimento económico. Mas se na terça à tardinha o eng. Sócrates comparecia à adjudicação de sete aerogeradores, aí já o crescimento económico não passava sem as ventoinhas.
Em qualquer dos casos, o crescimento viria de cima, isto é, da acção de um Governo paternal e do bolso de um contribuinte meigo. Viria. Não veio. O investimento público não só não trouxe crescimento económico, como, a partir de certa altura, nos enfiou numa crise económica que o Governo, corajosamente, combateu com os métodos que em larga medida a originaram. Mais curioso ainda é que esta espiral não nos lançou de cabeça contra a realidade: de facto, lançou-nos contra a Alemanha.
Esqueçam as ventoinhas e a banda larga: hoje, a nova panaceia para o crescimento económico é a "solidariedade europeia", um conceito divertido que obriga os alemães a salvar os vizinhos falidos por desleixo próprio. O primeiro vizinho a resgatar é a Grécia, e embora 276 especialistas garantam que a situação grega não é comparável à portuguesa, a verdade é que nos colocámos em lugar privilegiado da fila de espera. Do quê? Ora essa: do fatal investimento público, com a diferença de que agora o público, ou seja, o contribuinte, é outro, fala a língua de Heiner e Gerd Müller e não prima pela meiguice. E com a diferença de que descemos da bazófia empreendedora para a mendigagem descarada, um enorme salto para a humanidade, um tombo recorrente para Portugal. "
Alberto Gonçalves
1 Comments:
A divertida alusão "às ventoinhas" é de rir às lágrimas e revela a ironia guilhotinante e deliciosa que me atrai nos escritos do AG.Cumprimentos.
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