terça-feira, abril 06, 2010

A família na escola

"Em projecto-lei de alteração ao Estatuto do Aluno, o PSD propõe sessões de "capacitação parental" aos progenitores de crianças indisciplinadas e pouco assíduas. Se bem percebo a medida, aprovada só com o voto contra do PCP, pretende-se criar um sistema educativo paralelo para ensinar os pais a serem bons pais. Óptimo, desde que se esclareça quem serão os respectivos docentes e, sobretudo, quem será responsabilizado pelos progenitores que, à semelhança dos filhos, faltem regularmente a essas aulas ou as perturbem.

Em princípio, pois, o Estado deverá também assegurar sessões de "capacitação" idênticas para os avós, os bisavôs e por aí adiante, pelo menos enquanto houver um antepassado das crianças vivo. Porém, o que fazer quando já não se puder recuar mais na árvore genealógica e o derradeiro ancião da família se recusa a participar nas sessões ou agride o "setôr" por causa do telemóvel?

Não vejo muitas alternativas à imposição de sessões de "capacitação legislativa" para os deputados que inventaram esta história e, caso os deputados falhem na assiduidade ou no comportamento, de sessões de "capacitação eleitoral" para os cidadãos que os elegeram. Claro que haveria a hipótese teórica de se conceder ao professor e à escola o direito (e o dever) de tratar o aluno do modo que, na Antiguidade Clássica (há uns trinta anos), o aluno era tratado: com autoridade. O problema é que isso daria um trabalhão desgraçado, além de constituir uma inadmissível intromissão do Estado na vida dos que possuem Estatuto com maiúscula. Na vida dos restantes não faz mal
."

Alberto Gonçalves

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