quinta-feira, janeiro 06, 2011

O sr. Hyde de Cavaco

"A política é um jogo de encenação. Foi por isso que Cavaco Silva teve de criar o seu maior opositor eleitoral: Aníbal Cavaco Silva.

Criou-o através de uma maçã do pecado, o BPN. O banco que enlouqueceu todos os que provaram o seu sabor e que levou à amnésia de parte da elite nacional. O banco que era um espantalho e que regressa como um fantasma capaz de assombrar a única eleição que se julgava decidida à partida. O curioso é que foi o vencedor antecipado que tirou o génio do mal da lâmpada onde tinha sido colocado à força pelo sistema político. O BPN era o banco do regime, o laboratório de todas as tentações da moderna sociedade portuguesa. Sabendo que esse era o seu calcanhar de Aquiles, Cavaco Silva trocou as voltas a Sun Tzu e criou uma quinta coluna no seu castelo. Ao soprar a fogueira do BPN espalhou o fogo pela planície. E começa a queimar-se. O candidato Aníbal Cavaco Silva tornou-se o senhor Hyde do presidente Cavaco Silva.

É uma atitude cordial, de gentleman, de quem não tinha opositor à altura. Mas, ao incitar o diálogo sobre o BPN, disparando em todas as direcções, o candidato Aníbal Cavaco Silva parece disposto a testar-se a si próprio. Para ver se é imune à dor. Errou: deveria ter colocado um ponto final no tema, clarificando-o. O problema não é o BPN tornar-se no único tema de debate das presidenciais. O drama é que ele simboliza o regime e a sua falta de ideias e princípios morais. A nossa democracia tornou-se um produto de consumo aliado do mundo dos negócios. Sem aquilo que Adam Smith lembrava: os negócios têm de ter princípios morais. Tal como a democracia
."

Fernando Sobral

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