quinta-feira, março 10, 2011

Um jovem altamente qualificado diz porque não vai à manifestação

Não posso ir à manifestação porque emigrei, mas gostaria de ir.
Eis as minhas razões:
Opinião
Rui Silva: Por que é que NÃO POSSO participar no protesto da "geração à rasca"?

Decidi abandonar o país que me viu nascer, crescer, estudar e começar a minha vida profissional. De ter que abandonar a família e amigos para poder encontrar no estrangeiro uma carreira melhor. De olhar para a realidade económica portuguesa e verificar que somos um país onde a riqueza só cresce e acontece para quem assume um cargo de poder e/ou para quem já provém de famílias abastadas.

Ver uma classe política gasta e agastada pela ambição de governar em proveitos de partidos e interesses próprios. Da falta de um sentimento patriótico e desinteressado de contribuir para o bem comum de Portugal e dos portugueses. De perceber que o 25 de Abril trouxe uma democracia plena de direitos, que se aplicam apenas a alguns.

Perceber que por mais impostos que paguemos, os problemas não se resolvem. Que por mais esforço que façamos, a imagem de Portugal continua a ser sempre a do parente pobre. De perceber que a cunha existe e não é para segurar uma porta. De perceber que a culpa morre sempre solteira, mesmo com muitos pretendentes com quem casar. De perceber que as empresas publicas não são uma contribuição, mas sim uma atribuição de lugares. De desesperar por ver pessoas sem currículos em cargos de administradores de empresas públicas.

Perceber que me esforcei, que me qualifiquei, tal como tantos outros, e que estou a empregar essas qualificações em países terceiros. Que nada investiram em mim e que apenas beneficiam do contributo que posso dar para optimizar o lucro da empresa. Sim, gostaria de estar em Portugal, mas dificilmente conseguiria alcançar o posto que alcancei por mérito próprio. A não ser que o meu mérito fosse estar filiado num partido politico.

Perceber que todos temos um bocado de culpa. De achar que temos direitos sem obrigações. De achar que o estado devia tomar conta de nos, quando nem conta dele sabe cuidar.

Perceber que somos um país com um campo de qualificações extraordinárias. De um potencial turístico sem igual. De um passado histórico capaz de nos fazer sentir mais do que orgulhosos além fronteiras, pelo facto de sermos portugueses. E contudo, nada conseguirmos fazer para sermos melhores.

E, sobretudo, perceber, que não podemos delegar a situação em que nos encontramos e culpabilizar terceiros. De sentir, tal como tantos portugueses sentem, que esta na hora de mudar, não de partido, não de governo, mas de rumo. Um rumo que nos possa levar a uma mudança. Uma mudança que para ser melhor apenas depende de nós.

Não somos menos diferentes do que aqueles que em determinado momento lutaram e defenderam mudança de regimes, dos que acreditaram na instauração da independência em 1640. Dos que em 1910 achavam que a república iria contribuir para um Portugal melhor, ou dos que no 25 de Abril decidiram que estava na hora de mudar de direcção.

Perceber que temos capacidade e a sagacidade de construir o futuro de Portugal

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