Já cheira mal tanta historieta secreta
"Um cidadão vindo de Marte ou Neptuno aterra em Portugal e deve ter imensa dificuldade em entender o que vai na cabeça de muita gente numa altura em que andam por aí uns estrangeiros a vigiar as contas nacionais, regionais e locais, a justiça, a educação, a legislação laboral, a reforma do Estado, os calotes das empresas públicas, o preço dos transportes, os buracos na saúde, a taxa social única, os despejos lentos, as rendas condicionadas, os créditos manhosos dos bancos e mais uma série de desgraças acumuladas ao longo de muitos e bons anos de regabofe, de dinheiro muito fácil e barato, obras sumptuárias, desnecessárias e ruinosas, de festa democrática, de modelos económicos obsoletos e de políticas de faz-de-conta.
A ideia generalizada é que anda muita gente a disfarçar o abismo, o risco de bancarrota, a tragédia social e a fazer a sua vidinha como se nada tivesse acontecido no mundo, na Europa e nesta terrinha de Santa Maria. Os temas quentes destes dias são os 11 administradores da Caixa Geral de Depósitos, o site das nomeações do governo e, qual cereja no topo do bolo, as secretas e os espiões assinalados. É patética, triste e muito miserável a novela em curso em torno do sistema de informações da República, do SIS e do SIED, dos espiões que passam ou não informação para empresas privadas, das guerras intestinas de poder no reino das secretas que, como toda a gente sabe, é tão secreto como um pátio das cantigas com as suas mulheres do soalheiro.
Quem pára, escuta e olha para este espectáculo tem de ficar necessariamente espantado. Em primeiro lugar, os serviços de informação portugueses nunca primaram pela competência, a eficácia e o prestígio. São, aliás, protagonistas de algumas histórias verdadeiramente hilariantes. Tanto interna como externamente não gozam de uma grande reputação e, obviamente, não são interlocutores privilegiados dos principais serviços de informação. Resta- -lhes este pequeno e patético pátio das intrigas, que obviamente é interessante para quem tem projectos de poder domésticos, tanto a nível político como económico. Saber que um espião que dirige uma meia dúzia de antenas no mundo, muitas vezes sem qualquer informação relevante para os interesses da pátria, passa informação a um grupo económico revela uma triste realidade: esse grupo não terá um futuro muito risonho se baseia a sua estratégia internacional e os seus negócios nos sábios relatórios da contra-espionagem lusa.
Saber que alguém do governo ou próximo do governo pede informações ao SIS sobre um putativo secretário de Estado revela que o Estado continua a funcionar com base na coscuvilhice desta grande aldeia que se chama Lisboa e, já agora, Portugal. Quem, por sorte ou azar, já leu algum relatório do SIS percebe não só a incompetência e a falta de informação como o primarismo das análises e a demência de muitas conclusões. Dito isto, chega de nevoeiro. Os serviços secretos não são nenhuma prioridade da pátria. São apenas palcos em que se travam guerrazinhas imbecis de poder e de coscuvilhice entre homens e mulheres que adoram andar de avental às escondidas. "
António Ribeiro Ferreira
A ideia generalizada é que anda muita gente a disfarçar o abismo, o risco de bancarrota, a tragédia social e a fazer a sua vidinha como se nada tivesse acontecido no mundo, na Europa e nesta terrinha de Santa Maria. Os temas quentes destes dias são os 11 administradores da Caixa Geral de Depósitos, o site das nomeações do governo e, qual cereja no topo do bolo, as secretas e os espiões assinalados. É patética, triste e muito miserável a novela em curso em torno do sistema de informações da República, do SIS e do SIED, dos espiões que passam ou não informação para empresas privadas, das guerras intestinas de poder no reino das secretas que, como toda a gente sabe, é tão secreto como um pátio das cantigas com as suas mulheres do soalheiro.
Quem pára, escuta e olha para este espectáculo tem de ficar necessariamente espantado. Em primeiro lugar, os serviços de informação portugueses nunca primaram pela competência, a eficácia e o prestígio. São, aliás, protagonistas de algumas histórias verdadeiramente hilariantes. Tanto interna como externamente não gozam de uma grande reputação e, obviamente, não são interlocutores privilegiados dos principais serviços de informação. Resta- -lhes este pequeno e patético pátio das intrigas, que obviamente é interessante para quem tem projectos de poder domésticos, tanto a nível político como económico. Saber que um espião que dirige uma meia dúzia de antenas no mundo, muitas vezes sem qualquer informação relevante para os interesses da pátria, passa informação a um grupo económico revela uma triste realidade: esse grupo não terá um futuro muito risonho se baseia a sua estratégia internacional e os seus negócios nos sábios relatórios da contra-espionagem lusa.
Saber que alguém do governo ou próximo do governo pede informações ao SIS sobre um putativo secretário de Estado revela que o Estado continua a funcionar com base na coscuvilhice desta grande aldeia que se chama Lisboa e, já agora, Portugal. Quem, por sorte ou azar, já leu algum relatório do SIS percebe não só a incompetência e a falta de informação como o primarismo das análises e a demência de muitas conclusões. Dito isto, chega de nevoeiro. Os serviços secretos não são nenhuma prioridade da pátria. São apenas palcos em que se travam guerrazinhas imbecis de poder e de coscuvilhice entre homens e mulheres que adoram andar de avental às escondidas. "
António Ribeiro Ferreira
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