Onde está o poder em Portugal?
I parte
13/10/2011
“Em Política, nada acontece por acaso.
Cada vez que um acontecimento surge,
podemos estar certos de que foi previsto
para ser levado a cabo dessa maneira”.
Franklin D. Roosevelt
Eis uma pergunta
que não tem ocorrido a ninguém fazer.
Os mais pueris e ingénuos (e que tenham destas coisas algum
conhecimento), responderão algo surpreendidos – como se de uma evidência se
tratasse – que, naturalmente, o poder em Portugal se encontra no PR, no Governo
e na AR, eleitos por todos nós! E, também supostamente, nos Tribunais, que nós não
elegemos mas que velariam pelo castigo de quem violasse as leis da comunidade.
A célebre
trilogia dos “poderes executivo, legislativo e judicial” – tão do agrado dos
seres bem pensantes – que Montesquieu doutrinou e a Revolução Francesa
implantou, mas que teve origem nos filósofos ingleses do fim do século XVII.
E a nós
portugueses, que sempre nos tínhamos governado de modo diferente, lá nos
obrigaram a isto após a Revolução vitoriosa de 1820 e 100 anos de guerra civil.
Este sistema
assenta em vários mitos amplamente arreigados e difundidos. O primeiro sendo,
de que os três poderes, pudessem ser independentes uns dos outros e se
equilibrassem. Na prática, porém, as coisas nunca se passam assim, havendo
sempre proeminência de um sobre os outros. E, se calhar, até é bom que assim
seja, pois se o equilíbrio for equidistante, resultaria não haver resultante e
ninguém saía do mesmo sitio…O que retrata a situação presente em Portugal, mas
já lá iremos.
O segundo mito é
que o povo, cujo voto passou a legitimar politicamente os governantes, manda
alguma coisa. O povo, de facto, manda pouco e esse “mandar” é circunstancial e
está muito ligado à maturidade cívica e cultural das respectivas sociedades. O
povo, no actual sistema político ocidental, não é a causa da governação mas sim
o objecto da acção político - partidária – por norma demagógica e desonesta – a
fim de o levar a votar em si.
Finalmente, o
terceiro mito é o de que os governos governam, isto é, conseguem (ou querem)
fazer o que escrevem nos seus programas, ou são independentes no agir.
De facto tomar
uma decisão e fazê-la cumprir, tornou-se uma acção de tal modo complexa pela
legislação a atender e aos interesses e agentes envolvidos, ou a envolver que,
no mais das vezes, tentar fazer algo se torna numa experiência frustrante.
Vamos tentar
ilustrar o que queremos dizer com um exemplo prático.
Neste momento
existem três forças com Poder real, em Portugal, independentemente das forças
políticas representadas no Parlamento: a Igreja Católica, o PCP e a Maçonaria.
Estas “forças” são auto - exclusivas entre si, e cada uma tenta não se deixar
infiltrar pelas outras.
As FAs que foram
sempre um poder “de facto” a ter em conta – embora nunca tentassem ter o
exercício do poder político para si – estão perfeitamente neutralizadas, pois
ainda não recuperaram do 25 de Abril – em que foram protagonistas, mas não
conseguiram controlar os acontecimentos (nem estavam em condições de o fazer) –
e porque todo o espectro político actual se uniu, tacitamente, para as anular.
A Igreja está,
contudo, diminuída, pois tem sofrido ataques demolidores de vários lados, ao
mesmo tempo que a sua hierarquia, padres e leigos, em geral, têm demonstrado
uma falta de coesão e combatividade, quase suicida.
O PCP tem vindo
a emagrecer em número de militantes ao passo que a média das suas idades tem
vindo a aumentar. Sem embargo ainda possui uma percentagem eleitoral elevada e
a sua capacidade de mobilização e de intervenção é muito superior a essa
expressão eleitoral. O PCP é o único partido a sério, na sociedade portuguesa,
pois só ele tem uma doutrina sólida (embora errada), servida por uma
hierarquia, organização e disciplina, capazes. É uma espécie de mistura
religiosa e estrutura militar… Está, seguramente, habilitado a passar à
clandestinidade, em 48H.
A Maçonaria
infiltrou-se em tudo o que era instituição nacional, a partir da revolução
vitoriosa de 1820 e, basicamente, comandou o país até 1926. É ela que está no
cerne de todas as desgraças porque passámos desde então. Não descansou enquanto
não acabou com o Trono e predispôs-se a acabar, também, com a Igreja o que, até
agora, não conseguiu.
Proibida, em 1931,
ao tempo do Estado Novo, ficou tolerada, até porque muitos da sua filiação se
predispuseram a colaborar na reconstrução do País. Renasceu em força após 1974
e está sentada à direita de tudo o que mexe. Mantém o secular hábito de não se
identificarem (as excepções existem para confirmar a regra), nem darem a
conhecer o que fazem, mantendo um secretismo anacrónico (ou talvez não), numa
sociedade que se diz democrática.
Será que o Papa
Clemente XII, que os condenou e tornou incompatíveis com a religião de Cristo,
em 24 de Abril de 1738, tinha razão ao afirmar “se não estivessem a fazer mal,
não odiariam tanto a luz”? (Carta Apostólica “In Eminenti”). Esperemos que as
suas dissensões internas não voltem a provocar guerras civis como no passado.
Desde 1974, porém, que nos deixámos invadir por outro tipo
de “maçonaria”, de fundo financeiro (isto é, o poder através do dinheiro), que
podemos, possivelmente, remontar à fundação do primeiro banco estatal, o banco
de Londres, em 1698.
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