quarta-feira, janeiro 11, 2012

Ilusão e desilusão

"O papel de Houdin é hoje reservado na política ao ministro das Finanças. É ele que é encarregado de criar a ilusão de que tudo corre bem para que os faquires deponham as facas.
Em 1856 o governo francês pediu ajuda ao mágico Robert-Houdin para pôr termo às revoltas das tribos argelinas contra a autoridade gaulesa. O governo francês pretendia um mágico porque as revoltas eram organizadas por faquires. Assim todos falariam a linguagem da ilusão. Depois do espectáculo de Houdin os faquires fugiram, gritando "Satã!", mas o ilusionista mandou dizer aos faquires que os seus truques não eram diferentes do que eles faziam.

E os faquires voltaram para assinar o acordo com a França. O papel de Houdin é hoje reservado na política ao ministro das Finanças. É ele que é encarregado de criar a ilusão de que tudo corre bem para que os faquires deponham as facas. Vítor Gaspar é neste momento o Houdin de Portugal. Há quem o subestime. Mas ele, para além de mago das finanças, é também um prestidigitador político. As suas ilusões matemáticas servem um guião ideológico. Só que, no mundo das finanças globais, nem sempre há contas certas. Por isso o documento interno do Ministério das Finanças em que se prevêem medidas adicionais de austeridade (talvez menos subsídios de férias ou Natal…) em 2012 porque houve valores não contabilizados é uma magia que falhou.

Da cartola não saiu um coelho, mas sim mais défice que é necessário iludir antes que os faquires da troika façam cintilar as facas. Na política a ilusão é a outra face da desilusão. E esta, muitas vezes, serve-se fria. A força de Vítor Gaspar existirá enquanto a sua magia fizer calar os crédulos. Mas, no dia em que a capacidade para prometer a ilusão desaparecer, a sua força será idêntica à de Sanção depois de lhe cortarem o cabelo
."

Fernando Sobral

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