Álvaro, o homem-bala
"O destino de Álvaro Santos Pereira está traçado. São dois traços cruzados, e não é de hoje: foi há cinco meses que o João Cândido da Silva aqui escreveu o editorial "Tiro ao Álvaro". Os erros políticos acumulam-se na fritadeira mediática, mas Santos Pereira será defenestrado não por ser mau ministro – mas por ser um ministro mau. Tem os lóbis todos à porta do seu amotinado palácio. E não tem experiência nem força nem habilidade para esquivar-se.
Álvaro Santos Pereira é como Assunção Cristas: a imagem que tem de si mesmo é muito melhor do que a que os outros têm dele. É um nabo politicamente, diz puerilidades, perde as estribeiras por pouco – mas é um homem sem obediência a ninguém. De nada lhe serve. Transformou-se no boneco da feira, a quem todos atiram bolas de sumaúma só pelo gozo. É um peixinho dourado, um pouco amuado com o trato, mas não percebe que o seu defeito decisivo é outro: é o vazio em vez da vazão, é não despachar os milhões de assuntos que lhe poisam na mesa.
A "troika" anda feliz com o cumprimento por Portugal do seu plano. Bate palmas, promove, sublinha com fosforescências. Mas avisa: e os grupos de interesse, não se lhes toca? E aí, como ontem aqui escrevia o Rui Peres Jorge, a história dos contratos não pega: quantos direitos adquiridos já foram rasgados com a Função Pública e com os pensionistas?
Os lóbis são as forças mais poderosas de Portugal. Porque caminham em serpentinas, porque financiam partidos, dão comissões e empregos a muita gente. Álvaro sabe, Álvaro escreveu sobre isso – Álvaro não está a fazer-lhes frente.
Vamos à lista das impossibilidades: 1. cortes de custos das empresas públicas, incluindo milhares de despedimentos e redução de serviço, como encerramento de linhas de transporte, coisa em que há trinta anos ninguém toca; 2. suspensão de Obras Públicas, renegociação de SCUT e de PPP; 3. subsidiação à energia; 4. gestão das verbas do QREN, o "único" dinheiro que está a entrar na economia e que pode salvar ou não milhares de empresas – e de associações falidas que se abeiram dos microfones também como receptadoras de fundos à formação profissional; 5. privatizações, agora da TAP (que não trará dinheiro, é apenas libertação de um passivo) e da ANA; 6. aumento das tarifas de transporte.
Agora refaça a lista pensando nos lóbis prejudicados, entre os quais 1. todas as empresas públicas, altamente partidarizadas, algumas das quais foram berço de pequena corrupção nas compras, como se viu no "Face Oculta"; os partidos políticos que as dominam, e os tachos que por lá disseminam; os sindicatos destas empresas; os privados interessados na sua privatização e, portanto, na sua aparente degradação; 2. todas as construtoras, concessionárias, advogados contratados e bancos que têm os contratos nas mãos, mais os partidos financiados por todos eles; 3. todas as empresas que recebem subsídios de energia e não só a EDP (nos CMEC), a Galp, a Portucel, a Iberdrola, a Endesa, as cerâmicas, os têxteis (na cogeração), as empresas do solar, milhares de empresas como as bem conhecidas deste Governo Fomentivest (de que Passos Coelho foi gestor) e Finertec (de que Miguel Relvas foi administrador); 4. associações empresariais e as pouco potentes PME; 5. advogados, financeiros, bancos, interessados nas privatizações. Sim, falta um: o ponto 6., aumento dos transportes públicos, que enfrenta os menores lóbis. Talvez por isso seja a única das seis que está a avançar. De resto, está tudo por concluir: a fusão de administradores, de empresas, extinções, saídas de pessoal, cortes mais fundos da despesa. O programa para os transportes, o PET, arrisca-se a ser uma peta que nos contaram. Os dossiers das empresas exportadoras, os bloqueios nos Estaleiros de Viana, o complicado dossiê da energia – está tudo pode resolver. E o AICEP já fugiu da alçada.
O Ministério já perdeu muitas pastas. É um balão que se esvazia. Se Álvaro Santos Pereira quer ter força, tem de usá-la, limpar as pendências dos aflitos e enfrentar os poderosos. Só a execução e coragem o protegerão, não a ampulheta de Passos Coelho por onde a areia vai declinando.
Não é à toa que toda esta contestação surge exactamente agora, em que muitos destes dossiês estão a ser fechados e os lóbis questionados. Um ministro frágil não dá meio passo. E portanto Santos Pereira merece resguardo de quem o quer fora dali por interesse. Mas tem de agir, não lhe basta sentir-se injustiçado. Se passa de governante da Rua Gomes Teixeira para governanta do Palácio da Horta-Seca, será trucidado pelos molares dos próprios partidos da coligação e, em vez de peixinho dourado, será um comestível "peixinho da Horta". Nesse caso, ninguém terá pena dele, nem a merecerá. Como escreveu outro Álvaro, o heterónimo, sobre si mesmo, "Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa! Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!". "
Pedro Santos Guerreiro
Álvaro Santos Pereira é como Assunção Cristas: a imagem que tem de si mesmo é muito melhor do que a que os outros têm dele. É um nabo politicamente, diz puerilidades, perde as estribeiras por pouco – mas é um homem sem obediência a ninguém. De nada lhe serve. Transformou-se no boneco da feira, a quem todos atiram bolas de sumaúma só pelo gozo. É um peixinho dourado, um pouco amuado com o trato, mas não percebe que o seu defeito decisivo é outro: é o vazio em vez da vazão, é não despachar os milhões de assuntos que lhe poisam na mesa.
A "troika" anda feliz com o cumprimento por Portugal do seu plano. Bate palmas, promove, sublinha com fosforescências. Mas avisa: e os grupos de interesse, não se lhes toca? E aí, como ontem aqui escrevia o Rui Peres Jorge, a história dos contratos não pega: quantos direitos adquiridos já foram rasgados com a Função Pública e com os pensionistas?
Os lóbis são as forças mais poderosas de Portugal. Porque caminham em serpentinas, porque financiam partidos, dão comissões e empregos a muita gente. Álvaro sabe, Álvaro escreveu sobre isso – Álvaro não está a fazer-lhes frente.
Vamos à lista das impossibilidades: 1. cortes de custos das empresas públicas, incluindo milhares de despedimentos e redução de serviço, como encerramento de linhas de transporte, coisa em que há trinta anos ninguém toca; 2. suspensão de Obras Públicas, renegociação de SCUT e de PPP; 3. subsidiação à energia; 4. gestão das verbas do QREN, o "único" dinheiro que está a entrar na economia e que pode salvar ou não milhares de empresas – e de associações falidas que se abeiram dos microfones também como receptadoras de fundos à formação profissional; 5. privatizações, agora da TAP (que não trará dinheiro, é apenas libertação de um passivo) e da ANA; 6. aumento das tarifas de transporte.
Agora refaça a lista pensando nos lóbis prejudicados, entre os quais 1. todas as empresas públicas, altamente partidarizadas, algumas das quais foram berço de pequena corrupção nas compras, como se viu no "Face Oculta"; os partidos políticos que as dominam, e os tachos que por lá disseminam; os sindicatos destas empresas; os privados interessados na sua privatização e, portanto, na sua aparente degradação; 2. todas as construtoras, concessionárias, advogados contratados e bancos que têm os contratos nas mãos, mais os partidos financiados por todos eles; 3. todas as empresas que recebem subsídios de energia e não só a EDP (nos CMEC), a Galp, a Portucel, a Iberdrola, a Endesa, as cerâmicas, os têxteis (na cogeração), as empresas do solar, milhares de empresas como as bem conhecidas deste Governo Fomentivest (de que Passos Coelho foi gestor) e Finertec (de que Miguel Relvas foi administrador); 4. associações empresariais e as pouco potentes PME; 5. advogados, financeiros, bancos, interessados nas privatizações. Sim, falta um: o ponto 6., aumento dos transportes públicos, que enfrenta os menores lóbis. Talvez por isso seja a única das seis que está a avançar. De resto, está tudo por concluir: a fusão de administradores, de empresas, extinções, saídas de pessoal, cortes mais fundos da despesa. O programa para os transportes, o PET, arrisca-se a ser uma peta que nos contaram. Os dossiers das empresas exportadoras, os bloqueios nos Estaleiros de Viana, o complicado dossiê da energia – está tudo pode resolver. E o AICEP já fugiu da alçada.
O Ministério já perdeu muitas pastas. É um balão que se esvazia. Se Álvaro Santos Pereira quer ter força, tem de usá-la, limpar as pendências dos aflitos e enfrentar os poderosos. Só a execução e coragem o protegerão, não a ampulheta de Passos Coelho por onde a areia vai declinando.
Não é à toa que toda esta contestação surge exactamente agora, em que muitos destes dossiês estão a ser fechados e os lóbis questionados. Um ministro frágil não dá meio passo. E portanto Santos Pereira merece resguardo de quem o quer fora dali por interesse. Mas tem de agir, não lhe basta sentir-se injustiçado. Se passa de governante da Rua Gomes Teixeira para governanta do Palácio da Horta-Seca, será trucidado pelos molares dos próprios partidos da coligação e, em vez de peixinho dourado, será um comestível "peixinho da Horta". Nesse caso, ninguém terá pena dele, nem a merecerá. Como escreveu outro Álvaro, o heterónimo, sobre si mesmo, "Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa! Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!". "
Pedro Santos Guerreiro
1 Comments:
olata tudo bem
Enviar um comentário
<< Home