domingo, agosto 19, 2012

Regras de ouro, políticas de chumbo.

"Dependente da Europa, Pedro Passos Coelho, esqueceu-se de dizer que o seu futuro também está ligado ao da UE e do euro. E ainda não percebeu que a maior vulnerabilidade do euro são as taxas absurdas de desemprego que vivemos. Que podem pôr em causa a democracia e a Europa unida.
Vivemos anos de chumbo. De austeridade. Para Pedro Passos Coelho, a redenção do país, e passou isso como uma fé ideológica no Pontal, é a "regra de ouro". Não gastar o que não se tem. O princípio é sensato, mas se hoje estamos nesta situação foi porque o país (a começar pelos seus responsáveis) fez uma festa com dinheiro emprestado. O seu discurso no Pontal, para lá de assentar num sonho inquinado, que é acreditar que a "regra de ouro" evitará todos os pecados presentes e futuro, assentou em futurologia (ao dizer, de forma imprudente, que 2013 será o ano da recuperação) e na maior das omissões (não falou da Europa e da crise do euro, que determinará muito do sucesso do plano de reajustamento português).
Passos Coelho, no meio de mais impostos e de mais austeridade que deixou para as "más notícias" que anunciará aos portugueses por altura do OE, anunciou o fim da crise para o ano que vem. É areia para os olhos. O desemprego vai continuar a aumentar, vamos estar em recessão diz a OCDE, ou em estagnação como diz o BdP, e a zona euro vai continuar a viver em pânico pela falta de decisões reais. E aí Passos Coelho cometeu outro erro de análise: considerou o desemprego um custo e não um problema. Esqueceu a advertência de Adam Smith deixou aos seus seguidores: não tirem aos pobres a sua única propriedade, o trabalho. E isso assenta num outro erro: as grandes decisões continuam a arrastar-se no tempo.
Milton Friedman, pai espiritual da política do nosso Governo e das teses hegemónicas em Bruxelas e Berlim, dizia que: "uma nova administração tem de seis a nove meses para pôr em marcha alterações legislativas importantes; se não aproveita a oportunidade para actuar nesse período concreto, não voltará a desfrutar de oportunidade igual". Passou já um ano. Por isso o choque fiscal não pode ser apresentado aos pedaços. Os portugueses, se um dia destes lhes vierem dizer que para o ano não vai haver parte do 13º e do 14º mês e que os salários serão sujeitos a mais regras de aperto, começarão a perder a esperança com este governo. Quando chegarmos a 2013 e as palavras de Passos Coelho soarem a logro, o estado de graça do Governo será bombardeado nas autárquicas.
Pedro Passos Coelho não é mestre na arte da retórica. Por isso o seu discurso é muitas vezes desconexo. Nele, a telegenia substitui muitas vezes as coisas que se devem dizer, a cordialidade, a falta de decisões. Mas terá de arcar com os custos de ser o executor do que quer a troika e a Alemanha. O Governo criou uma atmosfera comunicativa baseada na crise e nas dificuldades. A estratégia de choque baseava-se nosso. Mas ela não pode durar para sempre. Os portugueses desejam respostas. E elas não foram esclarecidas no Pontal. Os trabalhadores do sector privado vão continuar sem saber se, este Natal, e no próximo ano, os cortes também vão sobrar para eles, mesmo depois do aumento sem fim de impostos. E essa é a base social de apoio deste Governo.
Depois as reformas não se fazem só com aritmética parlamentar. Por isso a "regra de ouro" não passará. Se passar o PS colocar-se-á, também ele, no cadafalso. Há outro problema que Passos Coelho não tocou no referente à reforma do Estado. Este foi infiltrado pelos partidos políticos e muita da força destes está nas tropas que têm na Administração Central e local. O PSD, mesmo liberal, não esquece isso. Passos Coelho sabe que o seu futuro se joga numa única cartada: vencer a crise. Mas também sabe que não pode dizer a verdade: o emprego deixou de ser um direito garantido e o crescimento deixou de ter taxas asseguradas, o sistema de direitos europeu está a abalar e é impossível mantê-lo com as regras da globalização onde a rentabilidade arrasa a moral. Dependente da Europa, o primeiro-ministro, esqueceu-se de dizer que o seu futuro também está ligado ao da UE e do euro. E ainda não percebeu que a maior vulnerabilidade do euro são as taxas absurdas de desemprego que vivemos."
Fernando  Sobral 

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É preciso acabar com o euro o mais rápido possível. A prazo, a moeda única, com todo o seu funcionamento aberrante, vai liquidar a própria União Europeia. A escolha é pois: ou o euro, ou a UE

segunda-feira, agosto 20, 2012  
Anonymous Jose Manuel said...

Sou de opinião que todos devemos pagar impostos ,particulares e empresas . Não sei porque o sr Mexia não quer. Afinal somos todos portugueses ou não ? Será que os funcionários públicos são os causadores da crise ? Claro que são ,mas só aqueles que têm ou tiveram cargos de poder tanto no estado como em empresas público privadas e empresas ligadas ao estado português . foram estes e outros que levaram o País a esta situação . Se o governo fizesse com que toda esta gente pagasse o que deve ao fisco os 300 mil portugueses que ainda não receberam o reembolso do IRS já o teriam recebido . Há muitos políticos e gestores que deixam muitas dúvidas quanto á sua Honestidade e enriquecimento , donde vieram ,o que eram , o que são , como viviam seus pais etc.etc. Só queremos um governo cumpridor

segunda-feira, agosto 20, 2012  
Anonymous CC said...

O super gestor..

A arrecadar milhões, mostre agora as suas qualidades que justificam os milhões que arrecada, com o aparecimento de outras empresas no mercado. É que ser o único a fornecer um bem a todos, ao preço que quer, é fácil ser gestor assim. Comece lá a pagar mais de impostos para o país ir pá frente, não s só aqueles que ganham alguns trocados com muito esforço...

segunda-feira, agosto 20, 2012  
Anonymous JJ said...

Não há impostos sobre sector público e sector privado. Não são os sectores que pagam imposto. Há impostos sobre os rendimentos do trabalho quer seja no sector público quer seja no privado, porque no momento de preencher a declaração de IRS e de pagar, os trabalhdores da FP estão rigorosamente na mesma situação dos outros trabalhadores. Esta tem sido uma mistificação que tem servido de muleta ao Governo e que não há papagaio de serviço que não repita, para fazer passar a ideia de que está a cortar a gordura do Estado. É preciso não esquecer que a diminuição da retribuição por imposição da entidade patronal, no sector privado, é justa causa de rescisão do CT por parte do trabalhador e constitui contra-ordenação grave. Ainda acham melhor o público! Aqui não actua a ACT!!!

segunda-feira, agosto 20, 2012  
Anonymous Carlitos Mafra said...

Fiquei preocupado ao ler essa notícia do Alqueva porque pensei que iríamos perder alguma enorme plantação de citrinos, oliveiras, pessegueiros, ameixeiras ou um qualquer outro tipo de hortículas de naturaza vital para a nossa subsbistência, mas afinal trata-se, apenas, de uma questão de já não haver mais capacidade dos contribuintes portugueses para financiarem projectos privados cujo objectivo é "esmifrar" o bolso do contribuinte e muito particularmente daquele que fica sem subsídio de férias e de Natal, através dos seus impostos representados na CGD, ou seja de um banco público. Vão-se mas é todos "quilhar", ou seja mandar-se da proa abaixo de um navio a navegar! E que tal trazerem o dinheiro dos paraísos fiscais para investir!?....

segunda-feira, agosto 20, 2012  
Anonymous Joaquim Leitão said...

OS " empresários" que atuam em portugal são assim a banca pública arrota com a massa. eles ficam com os lucros. onde poem eles o dinheiro? quem é empresário investe com o seu próprio dinheiro e assim pode ajudar a criar riqueza. agora com o dos outros. é mais um miserável e triste exemplo como os desgovernos de há 36/7 anos para cá têm desgovernadp portugal( p"s", ppd e cds).pois a cgd que aguente. se der prejuízo paga o português o que paga horadamente os seus impostos que devem ser no máximo 10%

segunda-feira, agosto 20, 2012  
Anonymous Anónimo said...

Que existe um monopólio, ou um cartel, ou um conluio dos operadores de combustível. Disso não sei, mas que o dito conluio é facilitado pelos media e pela autoridade da concorrência, não tenho dúvidas. As notícias recorrentes sobre alterações de preços não são mais do que um mecanismo utlizado pelos operadores para coordenarem as suas acções. Desde quando o preço ao consumidor é função da matéria prima? O que se passa é que numa altura do ano em que toda a gente enche o depósito para ir de férias, é importante que se evite a concorrência a nível dos preços e portanto sobem-se estes em resposta ao aumento da procura. Quanto é que se sobe? Entre 2 e 3 cêntimos, meus senhores! Ouviram bem? Para a semana aumentamos todos os preços 2,99 cêntimos!

segunda-feira, agosto 20, 2012  
Anonymous Maria said...

Apenas transcrevo uma notícia publicada em 12 de Março pelo DN: "Nem eu nem nenhum português entende como é que o barril de Brent está a 124,98 [dólares]" quando em 2008 "estava a 160 dólares e nós tínhamos combustível mais barato", disse à Lusa. Além disso, acrescentou Carlos Barbosa, "hoje em dia o euro está benéfico em relação ao dólar", o que, na sua opinião, significa que "há um problema nacional qualquer que tem de ser resolvido".

segunda-feira, agosto 20, 2012  
Anonymous Responda quem souber said...

Todos falam dos funcionários públicos e da justiça ou falta dela no que toca a cortes de dois salários mais um adicional que já vinha de trás.
Os ditos funcionários públicos , atendendo ao seu estatuto e por ser uma despesa do estado até se pode entender que o patrão não tendo dinheiro , apenas paga o que pode.
Mas o que eu não entendo é porque cortam aos reformados do privado.Isto é confisco ou roubo.
Será que os descontos dos privados são propriedade do estado?
Significa isto que amanhã quem poupou pode ver as sua economias confiscadas ?
responda quem souber

segunda-feira, agosto 20, 2012  
Anonymous Anónimo said...

Aqui está a razão pela qual os países do norte da Europa estão a ficar cansados de subsidiar
os países do Sul.

Caso Português

3 governos no continente e ilhas,
333 deputados no continente e ilhas.
308 câmaras,
4259 freguesias
1770 vereadores
30000 carros
40000(?) fundações e associações
500 assessores em Belém
1284 serviços e institutos públicos
Para a Assembleia da República Portuguesa ter um número de deputados
equivalentes à Alemanha, teria de reduzir em mais de 50%

O POVO PORTUGUÊS NÃO TEM CAPACIDADE PARA CRIAR RIQUEZA SUFICIENTE, PARA ALIMENTAR ESTA
CORJA DE GATUNOS!
É POR ESTAS E POR OUTRAS QUE PORTUGAL É O PAÍS DA EUROPA EM QUE SIMULTÂNEAMENTE SE VERIFICAM
OS SALÁRIOS MAIS ALTOS A NÍVEL DE GESTORES/ADMINISTRADORES E O SALÁRIO MÍNIMO MAIS BAIXO PARA
OS HABITUAIS.

segunda-feira, agosto 20, 2012  

Enviar um comentário

<< Home

Divulgue o seu blog!