O 11 de Setembro e as Teorias da Conspiração.

"As teorias da conspiração nasceram há muito tempo, na Europa. Daniel Pipes, autor de dois livros sobre a questão, lembra que os primeiros sinais são do século XII (o temor exagerado de um "complot" dos judeus ou de uma sociedade secreta, os Templários). O fim da popularidade destas teorias, referiu, seguiu-se a um pico em que dois "conspiracionistas-mor" - Hitler e Estaline - estiveram no poder. Por outro lado, foi a crença cega numa teoria da conspiração - "os judeus querem dominar o mundo" - que levou Hitler a criar um verdadeiro "complot". Os ataques de 11 de Setembro de 2001 nos EUA foram um acontecimento com ingredientes para que alguns acreditassem que lhes foi vendida uma história fabricada. Essas teorias conspirativas chegaram aos dois lados do Atlântico. "Depois de lê-las as pessoas sentem que compreenderam alguma coisa sobre este mundo complicado e inextricável", explicou o psicólogo social Heiner Keupp. Exemplos de "teorias" inventadas para absolver a Al-Qaeda do seu maior crime até agora.

Por Maria João Guimarães e Sofia Lorena

Foram os judeus:A Mossad sabia e não avisou
Quando lhe perguntaram que efeitos iriam ter os atentados de 11 de Setembro de 2001, o então primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu afirmou: "Vai ser muito bom." Logo a seguir esclareceu: "Bem, não muito bom, mas vai gerar imensa simpatia", já que o ataque "irá fortalecer os laços entre os dois povos, porque nós tivemos a experiência do terror durante tantas décadas, mas os Estados Unidos tiveram uma hemorragia enorme de terror" ("Spilled Blood Is Seen as Bond That Draws 2 Nations Closer", Jammes Bennet, "New York Times", 12/09/2001). Esta é uma das malhas da teia da teoria que diz que "foram os israelitas" ou "os sionistas" os responsáveis pelo 11 de Setembro, sendo que a variante mais comum é antes "a Mossad sabia de tudo a não avisou os EUA" (teoria apresentada em "Terror Enigma: 9/11 and the Israeli Connection", de Justin Raimondo, por exemplo). Um grupo de cinco israelitas terá sido visto a saltar enquanto as torres do World Trade Center caíam. Esta é outra malha da teia (que suporta especialmente a variante "Israel sabia mas não fez nada"). Outra ainda terá tido origem num mal-entendido sobre o suposto desaparecimento de 4000 judeus (afinal o número que, segundo o MNE israelita, poderia estar na zona), na base do rumor de que os judeus tinham sido avisados para não aparecerem perto das torres naquele dia (no ataque morreram, no entanto, cerca de 300 judeus, sete eram israelitas). O objectivo dos que defendem esta teoria não podia ser mais simples do que o revelado pelo entusiasmo de Netanyahu: com um atentado desta dimensão, os americanos sentiriam mais simpatia por Israel - e teriam mais compreensão com as acções "preventivas" do Estado hebraico.

Foram os russos:Regresso do inimigo da Guerra Fria
O inimigo da guerra fria voltou e com um plano maquiavélico. Grandes objectivos e pequenos pormenores comprovam que foi a Rússia, uma teoria descrita num livro de uma francesa, que alega ter sido espia da Mossad e escreve sob o pseudónimo de Nima Zamar ("Também tive de Matar", chama-se o livro). O facto da Rússia ter informado os Estados Unidos de planos da Al-Qaeda antes do atentado também faz com que a opção "foi a Rússia" seja enumerada em vários "sites" pró-conspiração (www.thepropagandamatrix.com). Zamar conta que se reuniu com antigos colegas da Mossad. Um deles estava encarregado do "dossier" russo e queria comunicar-lhe que estava de volta ao serviço. Partilham ideias. "Não é trabalho árabe", assegura Zamar. "Não há ninguém entre eles que reúna a experiência, o extremo rigor, o cérebro, os conhecimentos, os apoios para montar este golpe." Um outro agente, Amos, nota que as trajectórias não revelaram hesitações. O agente do "dossier" russo, Zac, diz que só há dois sistemas com precisão suficiente para um ataque daqueles: o GPS americano e o Glosnass russo. Se cortaram a ligação ao primeiro, só resta o segundo. "Quem rearmou maciçamente o Irão", começa a perguntar Zac. "Quem se fez humilhar no Afeganistão pela CIA e nunca o digeriu? Quem conheceu uma crise energética grave e tem necessidade de organizar os seus oleodutos, que atravessam actualmente trinta e seis mil fronteiras diferentes? Quem tenta fazer a 'limpeza' na reprovação geral - fracamente expressa - e sem o conseguir, apesar dos massacres e torturas generalizadas?" Mais: "Não esqueçamos o assassínio do comandante Massoud [líder da Aliança do Norte no Afeganistão] dois dias antes". E o aviso de Putin. Não podendo reconhecer a verdadeira autoria - "era a guerra mundial" - os EUA acabam por lutar "contra os terroristas que têm as suas bases no Afeganistão e alimentam a luta na Tchetchénia". "Os russos não podem lá entrar. Os americanos sim. Poderão fazer o seu trabalho sujo."

Foram os americanos:"Nenhum avião caiu no Pentágono"
Às vezes tudo começa com uma fotografia. Mas também pode começar com uma declaração feita a quente. Enfim, qualquer coisa que pareça não encaixar. Ler "A Terrível impostura: Nenhum avião caiu sobre o Pentágono!" (Frenesi, 2002) é ficar a achar que pouca coisa encaixa na versão oficial sobre os atentados de 11 de Setembro de 2001. Expoente da que é uma das teorias mais repetidas a respeito dos ataques de há três anos ("Foram os americanos"), o best-seller do francês Thierry Meyssan aposta quase tudo no Boeing 707-200 do voo 77 da American Airlines (Dulles-Los Angeles), o avião que terá caído sobre o Pentágono. No início há uma imagem. Ou melhor, a possibilidade de sobrepor uma imagem a uma fotografia. Nas fotos do Pentágono depois do ataque não é visível nenhum avião. "Ninguém viu, aliás, nenhum pedaço de avião - tudo o que há são fragmentos não identificáveis", lembra o autor francês, editor do Réseau Voltaire. Voltemos à sobreposição e ao que ela nos diz. Por exemplo, que o buraco aberto na fachada da sede da Defesa americana tem 19 metros de largura - o avião que supostamente o fez tem 38, ao nível das asas. As contradições continuam. Os pormenores também. E depois há documentos da Casa Branca e do Departamento da Defesa e declarações dos seus dirigentes civis e militares. Na eventualidade de "terem sido apagados", o autor reuni-os e disponibiliza-os aos curiosos (www.effroyable-imposture.net). Só podiam ter sido (ou a variante nunca teria acontecido se eles não o quisessem) e o objectivo era justificar a muito desejada e já planeada política externa radical (uma que implicasse qualquer guerra, por exemplo). É esta a ideia genérica que sustenta vários livros ("The CIA and Septembet 11", de Andreas von Buelow, ou "Conspiracies, Conspiracy Theories and the Secrets of September 11), de Mathias Broecker, são outros exemplos) e inúmeros artigos que defendem que foram os americanos a atacar-se a si mesmos.

Foi Saddam Hussein:Sede de vingança do ditador
O Presidente George W. Bush já negou que o ex-ditador de Bagdad estivesse ligado ao 11 de Setembro, mas Laurie Mylroie acredita que Saddam Hussein foi o cérebro. Laurie é americana, especialista em terrorismo, Médio Oriente e Iraque. Simpatizava com o regime de Saddam na década de 80, mas, mais ou menos desde o primeiro ataque terrorista contra o World Trade Centre (1993), passou a atribuir ao governante deposto a culpa de tudo o que é feito no mundo contra os EUA. Porquê: acima de tudo por por vingança. Autora de "Study of Revenge: Saddam Hussein's Unfinished War Against America", publicado ainda em 2000, Laurie actualizou as suas teses com os atentados de há três anos (no livro "Bush vs. The Bletway", 2003 e em muitos artigos, alguns reunidos em www.benadorassociates.com). Já nos últimos meses as actualizações dizem respeito à necessidade de contrariar as conclusões da comissão de inquérito aos atentados do Congresso. Segundo a comissão (que entrevistou milhares de pessoas e analisou dezenas de milhares de documentos), não há "provas credíveis" de que o Iraque (nem qualquer outro governo) tenha ajudado a Al-Qaeda nos ataques. É por saber coisas que outros não sabem que a teoria de Mylroie vai mais longe que outras (a variante mais comum em relação a Saddam é "sabia" ou "sabia e não fez nada", atribuído muitas vezes ao Paquistão e ao Irão). Mylroie insiste que o cérebro dos ataques de 1993, Ramzi Yousef era iraquiano membro dos serviços secretos de Saddam, o mesmo acontecendo com Khalid Sheikh Mohammed, que hoje se sabe ter sido o autor do plano dos ataques de 2001. No entanto, Yousef é paquistanês e Mohammed é kuwaitiano."

Público.