quinta-feira, outubro 14, 2004

Kerry ou Bush ?

Com a aproximação da data das eleições para as presidenciais nos EUA, e com o que as sondagens indicam acerca da existência um “empate técnico” entre os dois principais candidatos, Bush e Kerry, nós que estamos no mundo exterior aos EUA, apesar de cada vez mais ser evidente a existência da “aldeia global,” apenas nos interessamos pelo que os candidatos republicano e democrata têm a propor no seu pensamento para o mundo.

E quanto a mim, pouco os diferencia ao nível da política externa americana.

Se é verdade que Kerry, na tradição do Partido democrata parece ser adepto de um maior multilateralismo, de um maior diálogo com os seus aliados europeus e asiáticos, de uma valorização do papel da ONU, e se Bush, cercado por uma miríade de conselheiros adeptos de um “tempo novo”, apostam no isolacionismo e unilateralismo, que tentam, a propósito da intervenção iraquiana, disfarçar com o apoio, aliás de todos os tempos, de Londres e de mais uma ia dúzia de países de relevo na cena mundial, não se esconde que apesar de tudo, e ao longo dos últimos 40 anos, tanto democratas como republicanos defenderam os interesses dos EUA no mundo de modo firme, já que a formidável capacidade militar americana permite executar as políticas dos EUA para o mundo.

Alguém disse que se Bush diz não à Europa com alguma arrogância e distanciamento, Kerry poderá, se for eleito, dizer igualmente à Europa que “não”, mas em francês.

Não esqueçamos que no passado foi um democrata, J.F. Kennedy que iniciou a intervenção americana no Vietname, que promoveu a invasão da Baía dos Porcos, que a guerra no Vietname foi continuada e alimentada por outro presidente democrata, Lyndon Johnson, e que foi um republicano, Nixon, que acabou com essa guerra.

O que fundamentalmente diferencia os dois candidatos está nas suas propostas para a política interna americana, nas opções políticas e económicas para o combate ao desemprego, para a instauração que Clinton tentou, mas que o Congresso de maioria republicana chumbou, de um Sistema Federal de Saúde, de um sistema de apoio aos mais pobres e aos excluídos, da promoção de emprego, e de políticas pró-activas ao nível do crescimento, mas sobretudo do desenvolvimento económico dos EUA, que agora aparece disfarçado, mercê do esforço de guerra americano no Afeganistão e no Iraque, o que aliás está a trazer problemas ao nível financeiro e de mobilização, levando a actual Administração a alterar o dispositivo militar americano no mundo, e a dar maior atenção a um continente esquecido tradicionalmente pelos EUA – a África.

Portanto, para os problemas em curso, no médio-oriente, no Iraque, no Afeganistão (que as recentes eleições podem não ter resolvido), não se acredita que seja quem for o vencedor, hajam mudanças de 180 graus na política externa americana.

Não esqueçamos que Clinton apoiou sempre Israel no conflito que se agrava diariamente, apesar de ter também tentado promover o diálogo entre as partes, e que foi Clinton que em conluio com a Inglaterra do “trabalhista” Blair foi bombardeando quase semanalmente diversos pontos do território iraquiano.

Foi Clinton que apoiou a chegada dos talibãn ao poder no Afeganistão, através dos seus sempre aliados Paquistão e Arábia Saudita.

Haverá agora uma mudança profunda?

Espera-se que sim, mas receia-se que não, no caso de uma possível vitória de Kerry nas eleições de Novembro.

Para a generalidade dos americanos uma vitória de Kerry poderá ser vantajosa.

Para o mundo, talvez.

A ver vamos, mas seja quem for que saia vencedor, é imperioso que a Europa ganhe o seu espaço através do aprofundamento da integração económica e política, e que a Inglaterra se comporte de facto como um país europeu, sem renegar obviamente a sua vocação “atlantista”.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É isso. Parabéns pelo post.

Manuela

sexta-feira, outubro 15, 2004  

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