quarta-feira, outubro 06, 2004

RUMSFELD

O Secretário da Defesa norte-americano declarou em público que nunca teve acesso a provas da existência de armas de destruição maciça no Iraque, e que nem sequer foram estabelecidas relações entre o regime de Saddam Hussein e a Al Qaedda, ou outra organização integrista que se dedicasse ao terrorismo.

O mais elementar bom senso indicaria isso mesmo.

Apesar da ditadura sanguinária de Saddam, que aliás não se diferenciava pela sua natureza de outras existentes na região, esta era sustentada por um partido nacionalista árabe, o Partido BAAS, com raízes no nacionalismo árabe, de inspiração socializante, laica, e que remontam aos tempos do Presidente Nasser, e de Afez al Assad.

Nesse regime, os islamismos teocráticos de mulahs ou de ayatolas nunca tiveram lugar, apesar da sociedade ter um substracto cultural e religioso muçulmano.

O que se passou após o final da primeira guerra do Golfo, em 91, com a revolta dos xiitas no sul do Iraque, e da subsequente esmagamento dessa revolta pelas tropas de Saddam, é a prova de que o regime laico do ditador não permitiria a implantação no sul do Iraque de uma teocracia xiita próxima da do Irão.

Por isso, é de difícil compreensão que nos tivessem querido vender a ideia de que o Iraque teria relações com a Al Qaedda de Bin Laden, que se inspira nos valores fundamentalistas do waabismo sunita, esse sim, inspirador da teocracia autocrática da monarquia saudita.

Quanto à eventual existência de armas de destruição maciça no Iraque, as inspecções ao longo de anos, as zonas de exclusão aérea norte e sul do território, os sobrevoos contínuos de aviões americanos e britânicos sobre o Iraque ao longo de 12 anos, com bombardeamentos periódicos a instalações “suspeitas” e imagens de satélite nunca forneceram as provas de que muitos dos líderes ocidentais juraram ter.

Bush, Aznar, Blair e até Barroso juraram aos seus povos terem-nas visto.

Mas agora parece que se enganaram, ou “foram enganados”.

Se Bush, Blair e até Donald Rumsfeld já reconheceram que essas provas nunca existiram, bem com a existências dessas armas, falta agora o “mea culpa” de Barroso que também ele, e à sua escala enganou os portugueses ao convencer o país da necessidade de enviar uma companhia da GNR para o Iraque, perante as “provas” que lhe teriam sido apresentadas durante uma visita sua a Londres.

Mesmo quando o próprio Secretário-Geral das Nações Unidas já afirmou que essa invasão a um pais soberano não teve legitimidade suficiente para se realizar, à luz do Direito Internacional.

Assim se explica talvez a pressa dos “senhores da guerra” ocidentais em acabar com as inspecções, em se recusarem a esperar mais um mês, que foi o tempo pedido por Hans Blix e pela ONU para que se prolongassem por mais quatro semanas essas inspecções que estavam a decorrer em todo o Iraque sem constrangimentos ou limitações por parte das autoridades do país.

A presa foi a melhor forma de evitar que esses argumentos caíssem por terra antes do iniciar do ataque, da invasão e da ocupação.

Assim sendo, o que motivou esta guerra?

Um dia se saberá.

Por agora apenas se especula.

Mas os resultados são desastrosos.

A estabilização da zona não aparece.

O terrorismo, antes ausente do Iraque, encontrou agora naquele país um terreno fértil par dar asas ao mais puro e desumano terror de fanáticos contra inocentes.

A tragédia e o cortejo diário de mortes de militares, para-militares, mas também de civis, de crianças e de iraquianos desesperados que se sujeitam a colaborar com um regime fantoche, sustentado e armados pelos EUA, mas odiado pelos iraquianos, por causa de um emprego que lhes renda uns míseros dólares ao fim do mês para sustentar a família continua.

Militares americanos e de outros país se ocupantes morrem diariamente, e outros mais ficarão estropiados para sempre.

Muitas dezenas de milhares de iraquianos morreram desde a invasão, mais que durante o regime de Saddam.

Os custos desta operação militar apenas serviram para aumentar o esforço de guerra e por conseguinte, aumentar a produção do chamado complexo industrial-militar norte-americano, o que impulsiona a sua economia.

Os preços do petróleo estão a atingir patamares inauditos.

E até Sharon e outros generais em Israel ao denunciar a ONU de colaborar com “terroristas” parece ter atingido um patamar de perigosa demência por parte de um regime cada vez mais isolado no mundo.

Primeiro ao se prestarem os países da guerra ao espectáculo de vender um producto virtual às opiniões públicas mundiais, (que felizmente parecem não terão conseguido vender), e agora, perante um eclodir de uma guerra civil não declarada, dizerem que se enganaram, só lhes pode ficar bem, apesar do mal já estar feito, e apesar de bem terem sido avisados pelos verdadeiros amigos da América, daqueles que vêem na América um país com potencialidades para ser um estabilizador da paz e do progresso, um promotor da Liberdade, e não um fautor da guerra.

Como disse Kerry no debate televisivo com Bush, atacar o Iraque na sequência do 11 de Setembro foi tão estúpido, como se o Presidente Roozevelt tivesse invadido o México, na sequência do ataque de 1941 a Pearl Harbour.

Mas George W. Bush fê-lo.

Errare humanum est, é a frase que se imortalizou.

Mas desconfio que a estreiteza de visão de muitos não consegue acompanhar isso.


Apostilha:

Como é conhecido, fui expulso do Fórum Defesa (www.forumdefesa.com), um bom fórum português dedicado a questões de Defesa e Segurança, por ter uma visão algo diferente da maioria dos moderadores desse fórum.

E numa atitude neo-maoista, que parece reviver os velhos “jornais de parede” da Revolução Cultural, o meu nome aparece lá ainda como tendo sido expulso, apesar dela já se reportar a Julho.

Digamos que se Rumsfeld, com grande dignidade, tivesse reconhecido esse erro, e ele mesmo fosse participante nesse fórum seria expulso, também.

É que declarou o que não parece aceitável à luz dos fanáticos, dessacralizando um dos dogmas inamovíveis da mentalidade de felizmente poucos.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mas que testamento!
Não li e não gostei.

quarta-feira, outubro 06, 2004  
Anonymous Anónimo said...

O que terá levado o falcão Donald Rumsfeld a fazer semelhantes afirmações?

Manuela

quinta-feira, outubro 07, 2004  
Anonymous Anónimo said...

Excelente texto. Apesar de enorme. Parabéns.

quinta-feira, outubro 07, 2004  
Anonymous Anónimo said...

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segunda-feira, fevereiro 05, 2007  
Anonymous Anónimo said...

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terça-feira, março 06, 2007  

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