MORAIS, O AFRICANO

Surgiu este fim de semana por parte da TVI e da SIC a notícia de que o Ministro Morais Sarmento efectuou uma visita oficial a S. Tomé e Príncipe, no âmbito da cooperação entre a RTP e a TV daquele pequeno país e antiga colónia portuguesa.

Sendo a 5ª visita que este ministro faz a países africanos de expressão oficial portuguesa, só ou em comitiva mais alargada, ficamos a saber que este é um ministro que sabe honrar a história da Expansão Portuguesa em África, continente, por certo apreciado, e motivo de visitas, por tudo e também por nada.

E no âmbito desse protocolo de cooperação entre as duas televisões, não obstante a RTP, através do seu canal RTP-África também ter emissões que a partir da rede hertziana poder ser captado naquele arquipélago, dispensando-se as parabólicas, considerou-se que no fundo o panorama televisivo de S. Tomé é parte integrante da dependência exclusiva da RTP.

Ou seja:

S. Tomé e Príncipe tem na prática dois canais:

O canal da TV de S. Tomé e a RTP-África.

Ora no âmbito do referido protocolo, a RTP dispensou à TV de S. Tomé alguns equipamentos usados, e obsoletos, que no entanto poderiam fazer alguma falta para a operação televisiva desse arquipélago do Golfo da Guiné.

A visita decorreu de sexta-feira a segunda-feira (hoje) ou seja, quatro dias para que se proceda à entrega.

Uma visita oficial cujo principal e quase único ponto da agenda foi a entrega desse equipamento oferecido.

Quatro dias, em que para a deslocação da pequena comitiva se alugou um jacto particular, já que as carreiras regulares da TAP e da Air Luxor não se enquadravam nas agendas oficiais, e em que o Falcon da FAP que está atribuído a deslocações de membros do Governo estava a uso da visita oficial do Primeiro Ministro à Argélia e a Paris.

Portanto, o aluguer pago, não sei se ao dia se à hora foi o único recurso.

Não discutiremos a relevância de um acto meritório de cooperação com um PALOP, e se um país membro da CPLP mereceria mais que a oferta de material usado.

Nem discutiremos se essa entrega de material usado mereceria a deslocação em visita oficial de um ministro, ou mesmo de um secretário de estado, considerando nós que uma entrega dessa mereceria, quanto muito, a deslocação do Presidente do Conselho de Administração da RTP, já que se tratando de um governo de gestão, as deslocações se deveriam cingir ao institucionalmente indispensável para os interesses de estado.

Nem sequer discutiremos se no âmbito de uma visita oficial de quatro dias se justificará a existência de um dia sem “agenda” o que permitiu ao Ministro dar asas ao seu gosto por desportos radicais, quando no passado tanto se discutiu a relevância de uma conhecida e justamente contestada visita oficial do então Presidente Mário Soares às Seyshelles, o que lhe permitiu uma inusitada viagem no dorso de uma tartaruga gigante.

E muito menos discutiremos se esta deslocação terá servido para estimular os portugueses “a irem para fora lá fora”, numa propaganda aos bons Resort’s que S. Tomé começa a ter, como alternativa ao previsível abaixamento da procura turística para as bandas do Índico, por via da catástrofe recente naquela região.

O que discutimos pela sua relevância é que foi necessário sintonizar a SIC ou a TVI, para não falar de outros órgãos de comunicação social para que em Portugal se soubesse do sucedido.

Porque por parte dos diversos serviços noticiosos da RTP, nada foi dito.

Será a “voz do dono” a fazer-se sentir os corredores e redacção da RTP, agora que como director de informação foi para lá um fiel depositário da estratégia governamental para o áudio-visual?