20 de Maio de 1498
Vasco da Gama chega a Calecute e enfrenta a hostilidade do respectivo Samorim. Palácios, templos, jardins e lagos artificiais. Também cabanas de colmo, muitas. São as pústulas da cidade.
Vasco da Gama manda que um degredado baixe a terra para reconhecimento da cidade. E logo um mouro o interpela:
- Al diablo te doi yo, quien te trajo aqui ?
Monçaíde, o mouro, é levado a bordo. Conta das riquezas da cidade, especiarias, rubis, esmeraldas muitas.
Vasco da Gama procura cristãos. Não os encontra, mas tanto quer encontrá-los que chega a confundir um templo indiano com uma igreja de Cristo. E novas do Prestes João continua a não haver.
A 28 de Maio o Samorim recebe o Capitão-mor em audiência. Primeiro contacto, primeiras gentilezas. Vasco da Gama a engrandecer a nobreza, a riqueza e o poderio de El-rei D. Manuel I. O Samorim a ponderar uma aliança com monarca tão distante e poderoso.
Porém, no dia seguinte, com os presentes ao Samorim, esvai-se a cordialidade. Ridículas são as oferendas: chapéus, coral, açúcar, azeite e mel. O Capitão-mor na defensiva: que não é mercador, apenas embaixador. Alastra a desconfiança e o Samorim impede o regresso de Vasco da Gama à sua armada, é grande ofensa. O Capitão-mor engole em seco, segura o demónio que dentro dele está rugindo. Ilude a vigilância dos guardas, arrisca-se, mas dá fuga a um dos seus marinheiros, homem lesto. O qual alcança a praia e depois a S. Rafael. Mensagem do Capitão-mor para Paulo da Gama:
- Que não corram perigos, que levantem ferro, que tornem viagem, que vão contar a El-rei D. Manuel o que está a acontecer em Calecute...
Paulo da Gama desobedece, mais aproxima de terra os seus navios. Está pronto a livrar o seu irmão pela força das bombardas.
Mas a 31 de Maio lá permite o Samorim que Vasco da Gama se retire do palácio. E ele retira-se, chega à praia, os mouros cercam-no, querem sequestrar os portugueses. Vontade sua de empunhar a espada. Vontade sua de rasgar a todos, o demónio a debater-se, exorbita. Quem pode exorcizá-lo? Eis que surge Paulo Gama, o brando. Manda para terra fazenda para trocar por especiarias, camisas, roupa de vestir, manilhas, estanho e tudo se acalma. Mas enquanto o Capitão-mor sobe a bordo, em terra novos insultos, cristão ladrão, cristão ladrão...
A 24 de Junho o Samorim manda levar para a cidade as mercadorias dos portugueses e o mercado mostra-se mais favorável para estes. Sentem-se, porém, sitiados, intrigas dos mercadores mouros com o Samorim...
A 19 de Agosto Vasco da Gama retém a bordo seis "homens honrados" que tinham ido visitar as naus. Reféns contra reféns. A 23 de Agosto simula fazer-se à vela. Por ele, ruge o demónio:
- Cedo tornaremos e então haveis de ver quem é ladrão!
A frota paira ao largo. O Samorim chama Diogo Dias, um entre os muitos retidos em terra, e diz-lhe:
- Tu e esses outros que estão aí contigo, vai-te aos navios. E diz ao capitão que me mande os homens que lá tem.
Faz-se a troca de reféns. E a armada larga a 29 de Agosto. Inviabilizado um tratado comercial com o Samorim de Calecute. A raiva ruge mas recolhe as garras. Ainda é cedo para rasgar mas tudo tem segunda volta. Descoberto já fora o caminho marítimo para a Índia, e o futuro a Deus, e a El-rei, pertence.
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