terça-feira, maio 20, 2008

Legião Estrangeira


Após o Congresso de Viena (1815), a Europa como um todo conheceu um período de turbulências e agitações. Na França, após a Revolução Liberal de 1830, o rei Carlos X de França foi deposto e as tropas estrangeiras que estavam sob o seu controle passaram a servir a Luís Filipe I de França que as transformou na Legião Estrangeira Francesa, a conselho do marechal Soult, ministro da Guerra, por Decreto de 10 de Março de 1831:

"Louis Philippe, Roi des Français. Ordennance du 10 Mars 1831. A tours, présents et à venir, salut. Sur le rapport de nobre Ministre, Secrétaire d’Etat au Département de la Guerre, Nous avons ordonné et ordonnons ce qui suit: Il sera formé une légion compossé d’etrangers. Cette Légion prenda la dénomination de Légion Etrangère."

Reuniam-se, deste modo, os diferentes corpos estrangeiros do Exército francês, incluindo as Guardas Suíças (oriundas da Paz Perpétua, assinada em 1516, após a Batalha de Marignano), e o Regimento Hohenlohe. As antigas Guardas Suíças e o Regimento Hohenlohe constituíram o 1º Batalhão; os 2º e 3º batalhões foram destinados a receber suíços e alemães; o 4º, a espanhóis e portugueses; o 5º, a sardos e italianos; o 6º, a belgas e holandeses; e o 7º, a polacos.

Com esta medida, o governo esperava que uma força composta principalmente por estrangeiros pudesse absorver a massa de refugiados que nos últimos anos vinha inundado o país. Pesou na decisão a possibilidade de a nova força poder ser enviada para defender os interesses neocoloniais Franceses na Argélia, liberando as tropas regulares para proteger a figura do rei no trono da França.

O local escolhido para sediar a nova força foi a povoação de Sidi Bel Abbes, na Argélia. Na França, os primeiros quartéis da Legião foram implantados em Langres, Bar-le-Duc, Agen e Auxerre.

De início, a Legião constitui-se em um meio eficaz para retirar aos elementos mais indesejáveis da sociedade francesa do século XIX. As suas fileiras foram preenchidas com criminosos, fugitivos, mendigos e imigrantes indesejados. A formação de um legionário era muito precária. O seu equipamento, vestuário, alimentação e soldo eram sumários, razões que não despertavam lealdade ou motivação. Os homens que se juntavam à Legião, faziam-no mais por desespero ou instinto de sobrevivência do que por patriotismo. Por essa razão, as primeiras campanhas provocaram severas perdas entre as suas fileiras. Para contornar esses problemas imediatos a Legião desenvolveu uma disciplina muito severa, excedendo em muito aquela imposta às tropas francesas regulares.

O lema da Legião é: "Legio Patria Nostra" (A Legião é nossa pátria)

O Código de Honra do Legionário

O treino de um legionário tem como base um código de honra próprio:

  1. Legionário, tu és um voluntário, servindo a França com honra e lealdade.
  2. Cada legionário é teu irmão de arma seja qual for a sua nacionalidade, a sua raça, a sua religião. Tu manifestas sempre a estreita solidariedade que deve unir os membros de uma mesma família.
  3. Respeitador das tradições, fiel aos teus chefes, a disciplina e camaradagem são a tua força, o valor e a lealdade tuas virtudes.
  4. Fiel ao teu estado de legionário, tu o mostras na tua farda sempre elegante, teu comportamento sempre digno mas modesto, teu aquartelamento sempre limpo.
  5. Soldado de elite, tu treinas com rigor, cuida da tua arma como o teu bem mais precioso, cuida permanentemente da tua forma física.
  6. A missão é sagrada. Tu a executas até ao fim, a qualquer preço.
  7. No combate, tu ages sem paixão e sem ódio, tu respeitas os inimigos vencidos, nunca abandonas nem os teus mortos, nem os teus feridos, nem as tuas armas.

O item 6 do código de honra do legionário foi recentemente mudado: onde a versão primitiva afirmava "a tout prix" ("a qualquer preço"), a nova versão afirma "no respeito das leis, dos costumes da guerra, das convenções internacionais e se for necessário, ao perigo da tua vida". Esta versão foi introduzida para evitar interpretações erróneas do artigo, já que a Legião participa actualmente de inúmeras missões humanitárias, juntamente com a ONU.

Ao longo da história da Legião, muitos homens têm-se alistado por diversas razões, na maior parte das vezes porque não têm para onde ir. Como nobres falidos, criminosos ou soldados profissionais que preferiam combater, eram aceitos. Sob determinadas circunstâncias até lhes eram oferecidas novas identidades. Na sua maioria mantiveram os nomes, mas é uma questão de honra nunca comentar o passado de um Legionário.

Uma vez na Legião, os recrutas aprendem além da disciplina e das técnicas de combate que só podem contar consigo próprios durante os cinco anos do contrato inicial. Sempre lhe foram atribuídas as missões mais duras do Exército francês; sabem que não existem enquanto indivíduos e que são dispensáveis; não têm para onde ir e nem nada a perder; por essas razões lutam até ao último homem.

Hoje em dia os recrutas são objecto de investigação para garantir que não se alistem para fugir da justiça por crimes graves. Os infractores menores podem por vezes ser aceitos. Pela lei francesa, a Legião Estrangeira pode negar a existência de qualquer indivíduo a seu serviço e, quem denunciar a verdadeira identidade de um legionário, é incriminado segundo o Código Penal francês.

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