terça-feira, maio 20, 2008

Corda ao pescoço

"O sítio não passa da cepa torta. [...] Por culpa dos cidadãos, dos políticos e de [...] um Estado de bola, fé e muita mentira”

Já não há palavras para descrever o que se passa neste sítio cada vez mais ridículo, cada vez mais pobre, cada vez mais hipócrita e, obviamente, cada vez mais mal frequentado.

É extraordinário que numa semana em que o senhor ministro das Finanças, qual Egas Moniz de corda ao pescoço, teve de rever em baixa o crescimento económico para 2008 para uns miseráveis 1,5 por cento – o que irá fazer com que o sítio continue a crescer menos do que o conjunto dos países da União Europeia – o assunto dominante e verdadeiramente importante tenha sido a rábula dos cigarrinhos fumados num avião fretado pelo senhor primeiro-ministro e a não menos lamentável revelação de José Sócrates de que iria deixar de fumar para não violar a lei que o seu Governo tão estupidamente aprovou, com a conivência da grande maioria dos acéfalos deputados que os indígenas elegeram há mais de três anos.

É extraordinário que numa semana em que o senhor ministro das Finanças, de corda ao pescoço qual Egas Moniz, veio anunciar aos cidadãos que, afinal, a inflação esperada para 2008 será de 2,6 por cento e não os anunciados 2,1 por cento, o sítio discuta intensamente a possibilidade de o FC Porto não ir à Liga dos Campeões e dedique imensa atenção ao novo posto ocupado no Benfica por Rui Costa.

É extraordinário que num sítio destes, com os indígenas cada vez mais pobres e desesperados com a vidinha e um quotidiano sem futuro, se dedique horas e horas de noticiários a mais uma peregrinação a Fátima, com reportagens pífias e repetidas dos fiéis pelas estradas do sítio, os acidentes, as procissões, a beatificação ou não dos pastorinhos e outras coisas dignas de um sítio cada vez mais lamentável. É extraordinário que numa cidade porca, esburacada e falida, o assunto da semana seja uma polémica em torno de umas barraquinhas miseráveis no Parque Eduardo VII.

É verdade que este sítio nunca deixou de ser salazarento. É verdade que este sítio, apesar dos muitos vernizes e das muitas roupagens que os sucessivos poderes usaram nestes 34 anos de democracia, nunca deixou de ter um carinho muito especial pelo Futebol, por Fátima e pela Família, seja lá o que isso for nos dias que correm.

A desgraça, como se vê, é uma constante na vida deste rectângulo. O sítio não passa da cepa torta, não tem remédio e, obviamente, não tem futuro. Por culpa dos cidadãos, dos políticos, das políticas e do Estado a que temos direito. Um Estado de bola, fé e muita mentira
."

António Ribeiro Ferreira

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