O episódio dos cigarros
1/ "O episódio dos cigarros que o primeiro-ministro fumou a bordo do avião para a Venezuela não teria passado de uma coscuvilhice zelosamente empolada pela comunicação social. E de um gesto desculpável, até pela prática habitual em anteriores viagens oficiais. Não teria passado se José Sócrates, com o seu incorrigível estilo de anjo justiceiro e impoluto, não o transformasse num contraproducente facto político.
Primeiro, estragando um louvável pedido de desculpas com a promessa tonta e radical de não voltar a fumar um cigarro. Como os miúdos que, apanhados em falta, prometem este mundo e o outro e nunca mais fazer o mesmo. Depois, não resistindo à tentação de se fazer passar por vítima e tirar dividendos do caso, vindo acusar de dedo em riste os seus adversários de perseguição e «calvinismo moral». Ora, foi ele, o seu Governo e a ASAE que elaboraram, aprovaram e estão a aplicar um das leis antitabaco mais calvinistas e fundamentalistas do espaço europeu. Não tente, agora, virar o filme ao contrário. E passar para os outros os seus erros, os seus pecadilhos e os seus excessos.
Sócrates passa da humildade de quem pede desculpas à arrogância de quem pede meças e contas à velocidade do som. E do 80 para o 8 (ou do 100 para 0, no caso dos cigarros) da noite para o dia.
Agora, o crescimento do PIB em 2008, que ainda há uma semana o Governo se obstinava em manter nuns irrealistas 2,2%, sofreu uma machadada radical de um terço e caiu para 1,5%. Deitando por terra o discurso da retoma da economia, da convergência finalmente conseguida com a União Europeia, do fim dos sacrifícios pedidos aos portugueses nestes três anos.
O que a maioria dos eleitores que irão votar em 2009 sente quotidianamente é o preço da gasolina a aumentar, os bens alimentares a ficarem mais caros, o custo dos transportes a subir, os juros dos empréstimos das casas a disparar. Com um desemprego em níveis altíssimos e a inflação a saltar de 2,1% para 2,6%, não é este, seguramente, o melhor cenário para sonhar com maiorias absolutas.
Sócrates justificar-se-á com a crise internacional e a conjuntura europeia, mas o facto é que a economia portuguesa apresenta de novo o pior resultado de toda a Zona Euro. Desculpas de mau fumador.
2/ "Há um mês, já contra a evidência de todos os indicadores, o ministro das Finanças rejeitava rever a previsão de crescimento do PIB feita pelo Governo, dizendo acreditar no dinamismo do sector privado. Há uma semana, ainda recusava alterar a taxa de 2,2% do PIB para 2008, em nome do optimismo que era preciso injectar na economia portuguesa. Agora, anuncia uma redução drástica de um terço da meta anterior do PIB, para uns modestíssimos 1,5%... E revela que, afinal, em Março só desceu o IVA em 1% por já estar à espera de um abrandamento da economia. O que andou, então, a fazer estes meses? A enganar-se? Ou a tentar enganar o país?"
JAL
Primeiro, estragando um louvável pedido de desculpas com a promessa tonta e radical de não voltar a fumar um cigarro. Como os miúdos que, apanhados em falta, prometem este mundo e o outro e nunca mais fazer o mesmo. Depois, não resistindo à tentação de se fazer passar por vítima e tirar dividendos do caso, vindo acusar de dedo em riste os seus adversários de perseguição e «calvinismo moral». Ora, foi ele, o seu Governo e a ASAE que elaboraram, aprovaram e estão a aplicar um das leis antitabaco mais calvinistas e fundamentalistas do espaço europeu. Não tente, agora, virar o filme ao contrário. E passar para os outros os seus erros, os seus pecadilhos e os seus excessos.
Sócrates passa da humildade de quem pede desculpas à arrogância de quem pede meças e contas à velocidade do som. E do 80 para o 8 (ou do 100 para 0, no caso dos cigarros) da noite para o dia.
Agora, o crescimento do PIB em 2008, que ainda há uma semana o Governo se obstinava em manter nuns irrealistas 2,2%, sofreu uma machadada radical de um terço e caiu para 1,5%. Deitando por terra o discurso da retoma da economia, da convergência finalmente conseguida com a União Europeia, do fim dos sacrifícios pedidos aos portugueses nestes três anos.
O que a maioria dos eleitores que irão votar em 2009 sente quotidianamente é o preço da gasolina a aumentar, os bens alimentares a ficarem mais caros, o custo dos transportes a subir, os juros dos empréstimos das casas a disparar. Com um desemprego em níveis altíssimos e a inflação a saltar de 2,1% para 2,6%, não é este, seguramente, o melhor cenário para sonhar com maiorias absolutas.
Sócrates justificar-se-á com a crise internacional e a conjuntura europeia, mas o facto é que a economia portuguesa apresenta de novo o pior resultado de toda a Zona Euro. Desculpas de mau fumador.
2/ "Há um mês, já contra a evidência de todos os indicadores, o ministro das Finanças rejeitava rever a previsão de crescimento do PIB feita pelo Governo, dizendo acreditar no dinamismo do sector privado. Há uma semana, ainda recusava alterar a taxa de 2,2% do PIB para 2008, em nome do optimismo que era preciso injectar na economia portuguesa. Agora, anuncia uma redução drástica de um terço da meta anterior do PIB, para uns modestíssimos 1,5%... E revela que, afinal, em Março só desceu o IVA em 1% por já estar à espera de um abrandamento da economia. O que andou, então, a fazer estes meses? A enganar-se? Ou a tentar enganar o país?"
JAL
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